terça-feira, 16 de junho de 2009

Religião versus Jesus


"E repreendeu-os: Está escrito: ‘A minha casa será chamada casa de oração’; vós, ao contrário, estais fazendo dela um ‘covil de salteadores.'" Mateu 21:12

Fui admitido no misticismo esotérico aos 17 anos, lá pelos idos de abril de 1979. Naquela época a literatura oriental publicada por um escritor ocidental, Cyril Hoskins, que alegava ser um Lama Tibetano, e que tinha o pseudônimo de Lobsang Rampa, fascinou-me a tal ponto que tornei-me um discípulo daquele imaginário monge. Buscava praticar seus conselhos, técnicas de meditação, visão transcendental e tantas outras loucuras místicas que cabem muito bem na mente de qualquer adolescente revoltado com o mundo a sua volta em busca de salvá-lo.

Foi assim que o esoterismo rosacruz caiu como uma luva em minha necessidade de transformação desse mundo cruel. Passei a almejar a paz e a evolução pessoal. Desde então cumprimentava os meus companheiros de caminhada com a tal "paz profunda!", saudação que substituia invariavelmente qualquer outra de chegada ou despedida, tal qual os cristãos fazem com "a paz do Senhor!". Realmente eu pensava vivê-la todos aqueles dias. Mas havia uma paz que eu conheceria em Jesus, que é muito maior do que a que eu desejava com aquelas palavras.

De lá só saí quando Jesus me chamou, juntamente com minha esposa, aos 36 anos.

O nosso chamado não foi nada extraordinário se observado à luz da religião, mas foi tremendo se o olharmos com os olhos de Jesus.

Após algumas decepções no meio esotérico por presenciar cenas de falta de amor e irmandade entre os que ali congregavam, percebia uma certa artificialidade de práticas incompatíveis com o que se ensinava ou se afirmava nos encontros semanais. Fui de repente tomado por uma desilusão terrível. Uma sensação de ter perdido tanto tempo naquilo sem ter chegado a lugar algum.

Depois de um episódio de natureza egoísta e não fraternal que eu e minha esposa resolvemos nunca mais voltar àquele lugar. Aproximadamente, dezoito anos haviam se passado para nós. E agora? Nós não sentíamos qualquer atração por outro ambiente religioso. Já tínhamos experimentado, enquanto vivíamos o esoterismo rosacruciano, também espiritismo kardecista, igreja do Santo Daime, Martinismo, Cavaleiros Templários... Misericórdia, que miscelânia! Nada mais daquilo nos atraía. Sentíamos perdidos numa floresta onde não se via qualquer caminho para a Luz.

Naquela mesma noite da desilusão esotérica, ao chegarmos em casa, o Espírito Santo visitou-nos com uma simplicidade que jamais esqueci. Olhando um para o outro nos perguntamos: O que faremos? Subitamente olhei para a estante e lá estava uma Bíblia Thompson novinha, que minha mãe, evangélica havia sete anos,presenteara-me com fé que ela seria um instrumento de Deus para mim. Eu a havia deixado ali na estante e só uma vez ou outra a tinha aberto para consultar a seção de arqueologia. Mas naquele momento sugeri: "Vamos ver o que a Bíblia nos diz...". Foi assim que pela primeira vez abri uma Bíblia buscando resposta para algo que nem eu mesmo sabia o que procurava.

Ao "acaso", conduzido por aquele Santo Espírito que eu não conhecia, e que estava presente direcionando minhas mãos e meus olhos para o lugar certo na Palavra que iria apontar para o Caminho que nos livraria daquela floresta escura de conhecimento, abri a Bíblia na carta de Paulo aos Efésios no capítulo cinco. Surgiram palavras que chocaram minhas certezas, que naquela altura já não eram tantas:

"Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.Portanto não sejais participantes com eles; pois outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz (pois o fruto da luz está em toda a bondade, e justiça e verdade), provando o que é agradável ao Senhor; e não vos associeis às obras infrutuosas das trevas, antes, porém, condenai-as; porque as coisas feitas por eles em oculto, até o dizê-las é vergonhoso. Mas todas estas coisas, sendo condenadas, se manifestam pela luz, pois tudo o que se manifesta é luz. Pelo que diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará." Efésios 5:6-14
De repente parei a leitura e sobressaltei-me ante aquelas palavras: "Meu Deus, esses anos todos pensei estar andando na luz, mas na realidade estava nas trevas!" - falei à minha companheira . Foi a primeira frase que falei, e não sabia ainda que iniciava-se ali minha conversão, pois com tal susto, a sensação do erro e do arrependimento invadiu-me. O choro ainda não chegara como águas batismais, pois somente na noite da minha "conversão" no altar da igreja é que elas desabariam do céu da minha alma. Porém, o movimento de revelação na minha alma diante daquelas palavras que o próprio Jesus nos susurrava fez-me exclamar: "Parece que Deus está nos chamando para a igreja!!". Foi então que minha esposa revelou-me: "Há mais de um ano estava querendo isso mas tinha receio de falar com você."

Pronto! Nosso rumo mudou a partir dali. Não só o nosso, mas nos meses seguintes, a família da minha esposa também estava convertida ao Senhor. No início daquele ano de 1997 éramos todos esotéricos, e já no meio daquele mesmo ano, nós e nossos três filhos, também meu sogro, minha sogra e meu cunhado ( ao todo oito pessoas) caminhávamos com Jesus. No final daquele ano passamos juntos o Natal e Ano Novo mais felizes de nossas vidas.

Quando contamos ao nosso irmão-amigo Everaldo (que era rosacruz mais antigo que nós e que também já estava na beira do abismo da decepção esotérica pelos mesmos motivos) sobre aquela revelação, ele entendeu o que estava acontecendo em sua vida e de sua família. Sua esposa Fernanda já havia entregue seus caminhos ao Senhor em dezembro de 96 e não sabíamos ainda que suas orações já estavam chegando ao trono de Deus, juntando forças com as da minha mãe. O Vevé e eu conversando, enquanto caminhávamos à noite com nossos filhos na Praia do Forte chegamos a uma conclusão reveladora: "Nós estamos é com saudades de Deus!!!".

Ninguém tinha nos evangelizado. Nenhuma revelação de servos de Deus nos chegara aos ouvidos sobre tal coisa naqueles momentos. A estrutura eclesiástica não participara daquela mudança de rumos até ali. No entanto, nossa alma estava regozijante com um conhecimento que viera de uma simples leitura da Bíblia.

Entramos de corpo e alma no Caminho que é Jesus e o seguimos com todo o nossos corações, nossas almas, nossos entendimentos e nossas forças, até o dia que se chama hoje, e temos pedido a Ele que seja para a eternidade.

Certa vez, refletindo sobre o passado, quando, enquanto seguia o caminho do esoterismo, não via Jesus como Deus, mas como Mestre evoluído entre os homens que havia reencarnado, e mesmo jamais tendo aberto a Bíblia como regra de fé e prática, eu percebi então que, de alguma forma, aquilo que eu vivia era como uma placa indicativa na estrada: "Jesus não está aqui". Como tal "placa" apontava para outra direção se eu quisesse encontrar Jesus, perguntei-me: "por que eu tinha ficado tanto tempo ali me dedicando aos ensinos daquele lugar?". Só Jesus poderá um dia esclarecer-me completamente. Mas, depois de convertido pronunciava, como muitos o fazem: "se eu soubesse que Jesus era tão bom eu tinha vindo pra cá há mais tempo." No entanto, há tempo para tudo debaixo do céu, não é mesmo?

Esse meu breve testemunho apresenta um fato real, mesmo que seja espiritual: O Espírito Santo trabalha independentemente das ações visíveis da religião. Pessoas são direcionada para os pés do Senhor por sutilezas espirituais que obedecem à vontade e soberania do Pai. Nessa ação não há pastor, evangelista, oficiais de departamento, ninguém intermediando a conversão. Apenas orações intercessórias que chegam às taças nas mãos dos anjos que as apresentam a Deus e Ele ,em sua eterna misericórdia, por Seu Santo Espírito, vem nos amar com simplicidade e com poder. Não obstante nossas ofensas, nossa dura cerviz, nossa ignorância sobre seu Amor e Sua obra, Ele vem, nos convence, nos envolve, conduz, fortalece e direciona nossos pés para longe da floresta tenebrosa que até então não permitia que víssemos o céu. Só Ele, o Amor, a Paz, a Esperança, a Fé permanecem ao nosso lado dizendo: "vem, Eu Sou o Caminho!"

Por isso, quando a religião começa a se interpor nesse relacionamento, ao invés de orientar-nos na liberdade do mesmo Espírito que nos convence do erro da injustiça, como se diz nas escrituras: "do pecado, da justiça e do juízo", tal atitude religiosa espalha ao invés de ajuntar.

Quando falo de religião, falo também daquela que nós vamos adquirindo ao longo do tempo no ambiente religioso. Nós elegemos o templo e a religião, e não Jesus, o centro de nossa atenção e dedicação.

A "obra de Deus" passa a não ser mais aquela que Jesus revela em João 6:29: "Que creiais naquele que ele enviou". Tudo o mais vai substituindo os frutos da fé genuína. Ritos, cargos, ofertas, dízimos, encontros, músicas, tempo de oração e jejuns, número de vezes de leituras bíblicas, montes, vigílias, santificação, consagração, tantas coisas, tantas práticas vão nos conduzindo cada vez mais pra longe daquela sensação de proteção contínua, de esperança inabalável, amor incondicional, paixão pelas pessoas a nossa volta ( não importando se estão fora ou dentro do ambiente religioso) da vontade divina em nós de vê-las convertidas de seus maus caminhos, do sentir-se acariciado por Deus todos os dias, deitado em seu colo, abraçado, consolado, tudo o que resumimos como "primeiro amor" vai dissipando como a glória no rosto de Moisés ao descer do Monte de Deus.

"Não somos como Moisés, que se cobria com um véu sobre a face para que os filhos de Israel não observassem que o resplendor em seu rosto estava se dissipando. E, por isso, a mente dos Israelenses se fechou, pois até hoje o mesmo véu permanece quando é lida a antiga aliança. Não foi retirado, porquanto é somente em Cristo que ele pode ser removido. De fato, até nossos dias, quando Moisés é lido, um véu cobre seus corações! Contudo, quando alguém se converte ao Senhor, o véu é retirado. O Senhor é o Espírito; e onde quer que o Espírito esteja, ali há liberdade... Porquanto foi Deus quem ordenou: “Das trevas resplandeça a luz!”, pois Ele mesmo esplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo." Ef 3:13-17; 4:6

Permita-me lhe apresentar a definição de misticismo segundo o dicionário teológico de Claudionor Corrêa de Andrade:

"[Do lat. mystica, espiritual] Conjunto de normas e práticas que tem por objetivo alcançar uma comunhão direta com Deus. Nessa busca, não raro, os místicos são induzidos a prescindir da Bíblia para ficar apenas com a experiência."
Você tem percebido alguma coisa semelhante acontecendo com sua prática religiosa?

Alguém ou alguma coisa tem ofuscado a maravilhosa Graça que Jesus confiou a você? Afaste-se do tal ou exorte-o para conversão.

Vou lhe dar uma dica de como perceber quando o coração está se distanciando, pouco a pouco, dessa Graça: Se a sua afirmação e alegria, quase que diariamente, se baseia em tudo que você faz para Deus, ou está triste por que nada faz para Ele, isso é um sinal importante de que você começou a se afastar do principal motivo de sua salvação. Principalmente, se tudo aquilo que você faz lhe rouba o tempo de ficar a sós com o Senhor e Sua Palavra.

Saiba que é, exclusivamente, o que Jesus faz diariamente por nós que nos salva e nos traz esperança contínua para que sigamos nossa viagem de peregrinos neste mundo, negando ao "si mesmo", tomando a cruz e seguindo-Lo em Seu Caminho. A boa obra que fazemos é consequência natural da fé que em nós habita. Por isso não importa mostrá-la ao mundo inteiro só para garantir o "status" de cristão fiel. "O que a mão direita fizer, não o saiba a esquerda", disse Jesus.

Tudo que se baseia na força de nosso braço (capacidade, inteligência, vontade, interesse etc.) é frágil no tocante à manutenção da fé. Somente a Graça contínua sobre nós mantém-nos ligado às revelações da Palavra de Deus e à realização de Sua Promessas eternas em nossas vidas, já que a fé "é dom de Deus".

João, tão diferente de Tiago em suas admoestações rígidas, porém não menos verdadeira, por ser amoroso, exorta-nos sutilmente sobre tal necessidade de reconhecimento da providência do Senhor em nos salvar cotidianamente:

"Caros filhinhos, estas palavras vos escrevo para que não pequeis. Se, entretanto, alguém pecar, temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente por nossas ofensas pessoais, mas pelos pecados de todo o mundo."1Jo2:1,2


Lendo isso algum "obreiro abundante na obra" pode dizer: "Claro que Jesus nos perdoou e nos transformou em novas criaturas para que o sirvamos!" . Quando nos detemos apenas nesse tipo de afirmação, supomos um perdão passado e eterno, assim como também uma transformação completa e perene. Esquecemos que , "em verdade o espírito está pronto, mas a carne é fraca". Se pensamos com tal "obreiro", só vemos o serviço que fazemos para Deus e, com raras exceções, nosso coração não estará arrependidos todos os dias. Veja assim as seguinte palavras de João:

"Se declaramos que não temos pecado algum enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar todos os pecados e nos purificar de qualquer injustiça. Se afirmarmos que não temos cometido pecado, nós o fazemos mentiroso, e sua Palavra não está em nós." 1Jo1:8-10


Se todo dia pecamos, todos os dias deveríamos estar conscientes, gratos, reflexivos, amorosos, desejosos desse Amor inabalável que vem de Deus. E estamos? Quem vive, na prática, a obra verdadeira, que nada tem de religiosa porém intensamente espiritual e ligada a Deus, vive tal amor e realidade divina. Certeza de salvação sim, mas diária, contínua, dinâmica. Não aquele entendimento de uma salvação estática, com data marcada no passado. Esse tipo de sentimento saudosista da salvação repele a atuação contínua e eterna dela em nossas vidas.

No entanto, mesmo que sejamos infiéis nesse relacionamento Ele, o Senhor dos Senhores, continua sendo fiel.

Não espere Jesus entrar no templo, onde você congrega, com chicotes e palavra de expulsão dos salteadores que ali possam estar instalados enganando a muitos. Mas veja todos os dias Ele, por seu Espírito, entrando no templo de sua alma, no altar de seu coração expulsando à chicotadas pela doce Palavra, tudo que quer atrapalhar sua comunhão com o Pai: a autojustificação, a avareza, a arrogância de ser um vaso de barro todo envaidecido de ser portador de coisa tão preciosa; as honras "devidas" a quem tem honra: você, é claro; tudo que a carne grita à alma conduzindo-a numa luta contra o espírito e impedindo-lhe a testificação da verdade que é ser filho de Deus quando se crê no Nome de Jesus.

Olhe para você, o seu tabernáculo, o seu véu, a sua arca, o seu lugar santíssimo e deixe o Espírito te revelar o caminho mau que há em você, assim como há em cada um de nós, para que seja liberto do seu "si mesmo" e aí então, pegar , cada um, a sua própria cruz ( vergonha, maldições, pecados, dependência completa de Deus e certeza de obstáculos para alcançar seus propósitos) e se tornar um verdadeiro discípulo de Jesus. Então você conseguirá olhar novamente para a Palavra com necessidade, sede de saber, gratidão pelo socorro divino e vivendo o amor, o caminho mais excelente.

Enquanto não fizermos isso, não crermos assim, somos apenas seguidores de Jesus (ou não) e, como tais, não entendemos nem mesmo as suas parábolas, muito menos a profundidade de sua eterna mensagem. Logo, não O entenderemos e não seremos curados por Ele.

Força e Paz com o Senhor que é a nossa Única alegria.

Cabo Frio

Ocimar Ferreira