sábado, 13 de fevereiro de 2010

Esquizoclérigos: buscadores doentes!

"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia.”Mt23:27

 Aos 36 anos fui verdadeiramente impactado pelo Evangelho de Jesus Cristo. Até aquele momento eu vivia, há vinte anos, “perambulando” pelo esoterismo num só propósito: a busca de Deus.

Iniciei tal “busca”, aos 16 anos, nos livros de Lobsang Rampa (que dizia ser um Lama tibetano que trazia aos leitores ensinos aprendidos no Tibet). Só que este era o pseudônimo de Cyril Hoskins, um escritor americano que jamais pisara naquela região. Imagina minha decepção quando eu soube disso? Ainda bem que isso ocorreu bem mais tarde, quando, em mim, já passara a febre idolátrica por aquele personagem.

No Brasil, na década de 70 e 80, as publicações de dezenas de seus livros - entre eles o mais famoso é “A Terceira Visão” - desencadeou um verdadeiro movimento de jovens e adolescentes em busca do sagrado-oculto e da sabedoria oriental. Eu era um deles. 

Foi assim que me afiliei, aos 17 anos, a uma ordem esotérica e ali fiquei “buscando Deus”, até que ocorreu-me o impacto do Evangelho. Então achei a quem eu buscava na pessoa revelada de Jesus Cristo, ou melhor, fui achado por Ele.

Assim cessou uma e iniciei outra busca: conhecer a profundidade da sabedoria de Deus. Percebi que quanto mais estudo, medito, oro, muito mais tenho que mergulhar. Sei que jamais vou alcançar o fundo, mas é isso que me motiva. Até onde posso chegar? Até onde Ele me permite, não mais do que eu preciso saber. E o gostoso disso é que, em cada estágio dessa busca, eu fico completamente saciado. Diferentemente do passado quando a insaciedade permeava minha alma. Entendo, pois, o que Jesus quer dizer: “Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede” Jo4:14.

"Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna.” Mt 5:37

Quando disse que fui verdadeiramente impactado pelo Evangelho, é porque percebo que nada em mim deseja uma “caiação” do que sou. O Espírito de Deus me leva a desejar ser um semeador do Evangelho onde quer que eu esteja, respeitando a vontade de ouvir ou não de meus interlocutores fazendo com que seja um papo agradável a ambos e não só à minha pseudo-obrigação de anunciar a Palavra. O que se deve fazer por amar não deve ser obrigação a nada, mas prazer em compartilhar o que amamos com quem se ama.

Por isso minha relação com as pessoas não é, primeiramente, de um evangelista, mas de uma pessoa que se relaciona com a autenticidade que a relação exige. Com minha família, com irmãos na fé, com amigos ou colegas, quando escrevo ou quando falo, sou  o que sou embasado no que o Evangelho me ensina a ser. Claro que cada relação exige comportamentos e falas adequados às pessoas e aos diversos ambientes, mas nada em mim soa falso, do tipo que bate palmas, mas o pensamento ou o comentário posterior seja “que porcaria... que coisa chata!”. Não. Se não gosto, fico quieto ou, quando necessário, sou sincero em expressar minha opinião com quem não vai me interpretar mal. Se gosto, me regozijo e busco compartilhar.

Nenhum sentimento falso flui em mim se o percebo. Não permito e nem me agrado com quem é assim. Isso não quer dizer que eu seja perfeito. Quem o é? O aperfeiçoamento permeia o aprendizado de todos que trilham o Caminho verdadeiramente. Erros sim, falsidade não. Pessoas sinceras que simplesmente erram recebem coragem pra reconhecer onde erram e pedir perdão ao Senhor; os hipócritas não conseguem fazê-lo porque justificam o que fazem com seus propósitos. Se estes cumprem a finalidade do que aprendem e entendem que seja “de Deus”, seus atos e ensinos (mesmo que errôneos para os propósitos do Evangelho) são considerados necessários, logo, por que pedir perdão? Entendam o clamor do Reino: "Arrependei-vos...".

Às vezes, por delicadeza, somos obrigados a não expressar o que pensamos ou sentimos. Isso é bom enquanto não nos coloca como um "em cima do muro". Talvez  a minha opinião não interesse a muitos, mas quando dialogo com quem amo,  na maioria das vezes, as opiniões de ambos convergem para um cultivo de interação construtiva. O que falo está inteiramente adequado ao que creio como verdade apreendida do Evangelho de Jesus.


Aí é que o título deste post se encaixa: Chamo de “esquizoclérigo” - um termo que inventei para representar um tipo religioso doentio -  os cristãos, principalmente líderes denominacionais, que vivem algum desvio em suas personalidades. Ou seja, com este termo identifico todo cristão (sacerdote “nomeado” ou não- conf. 1Pe 2:8) que sofre de uma certa "esquizofrenia religiosa": pregam, mas não crêem; falam, mas não fazem; pedem, mas não doam; acham falso, mas dizem ser verdadeiro; falam mentiras com jeito de verdade (sofismas); encontram na lei o que pode coibir a liberdade da Graça e assim impõem pesado jugo; pulam e se alegram na igreja, mas tomam antidepressivos para dormir ou andam mal humorados em seus lares... 

A mentira religiosa vende a falsa autossuficiência cristã pela invocação de um deus-servo, com gritos, mantras, profetadas, maldições,"sacrifícios" com apelido de "o melhor pra Deus",  dá instruções da "autoajuda" (não-bíblicas) para que as pessoas possam vencer dívidas, doenças, desempregos, derrotar inimigos, obter carro e casa novos, riquezas e tudo que faz parte de uma prática hipócrita e que busca usar um “deus poderoso” disponível aos caprichos humanos, coisa que nem mesmo os pagãos se atrevem a ousar. Raros são os que verdadeiramente evocam a fé evangélica em prol de coisas que obedecem à vontade de Deus.
“Nenhum servo pode servir a dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” Lc 16:13

Inúmeros alertas de Jesus apontam para uma doença mental naqueles que desejam ser apenas “seguidores de Deus”. Esses não O conhecem nem desejam “prosseguir conhecendo o Senhor”. Muitos desses se proclamam  representantes dEle, mas nem sabem o que representam.

Muitos nem se tocaram que precisam acordar para a realidade do que seja Evangelho. Acham que a fantasia esotérico –evangélica propalada em milhares de templos seja a Verdade. São só seguidores de Deus, ou melhor, seguem a tudo que leva o nome de Jesus. Se o que seguem tem a ver com Evangelho, eles não sabem, deixam o discernimento para seus líderes, grande parte de “esquizos” e principais promotores dos erros desvirtudores de personalidades religiosas.

São verdadeiramente convertidos? Não o sei. Esse julgamento o Senhor o fará no Seu tempo. Cada um só pode responder por si mesmo. Eu sei a que fui chamado e o que o apóstolo Paulo diz: “...porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia- 2Tm 1:12.”  também norteia meu agir e pensar. "Examine-se o homem a si mesmo...".

A prática da mentira como percalço no relacionamento de cristãos já era alertada pelo apóstolo:

“Pelo que deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo, pois somos membros uns dos outros.” Ef 4:25
E o Apocalipse não a deixa de fora da lista de excluídos do ambiente do Reino:

“Ficarão de fora os cães, os feiticeiros, os adúlteros, os homicidas, os idólatras, e todo o que ama e pratica a mentira.” Ap 22:15
No entanto, considero a pior mentira aquela que vem das pregações, mensagens, artigos e livros que buscam  ensinar a mensagem do Evangelho e, na realidade, o que fazem é fomentar distúrbios psicológicos que dividem (do grego “esquizo”) a busca verdadeira que as pessoas intentam fazer ao se converterem. Por isso, cedo, a forma de agir passa a não representar aquilo que seja verdade concebida por suas almas.  Continuam aparentemente alegres, animadas, aplaudindo e dando “glória a Deus”, mas estão interiormente tristes, insaciadas e inseguras quanto à salvação de suas almas. E o pior: se culpam por não "vibrarem" interiormente com a vida cristã. Talvez a culpa esteja em não querer agir como "um bereano" e se contentar com pão velho servido na mesa do Senhor - quem lê entenda!

Um poema de Ulisses Tavares ilustra muito bem essa mutabilidade do ser  que nada tem de Evangelho:

"Esquizo 

Tem um cara dentro de mim 
Que faz tudo ao contrário: 
Não temo amar, ele se borra 
Sou esperto, ele é otário 
Não amolo ninguém, ele torra 
Acredito em tudo, ele é ateu 
Sou normal em sexo, ele tarado 
Agito sempre, ele fica parado 
sou bacana, ele escroto 
quem me faz infeliz e torto 
É sempre ele, nunca fui eu." 

                (Ulisses Tavares)

Assim como as pessoas que sofrem de patologias psíquicas precisam de ajuda para buscarem tratamento, assim também os esquizoclérigos  necessitam ser esclarecidos pela Luz do Evangelho para entenderem que ainda não encontraram o Senhor ou, se já foram encontrados, não estão caminhando com Ele. Ao contrário, parados dentro de alguma construção humana não vêm que o chamado e para "vir para fora" e se tornar Sua Eklésia. Ele é o Caminho e não a rodovia; Ele é a Verdade e não os sofismas; Ele é a Vida e não o sono de morte que o confinamento traz à alma humana. Ele verdadeiramente liberta a todos que se Lhe achegam.

Mas, como fazer para conscientizar as pessoas do engano que as assola, quando tendem a julgar os alertas como "enganos vindos do inferno" sem nem mesmo conferirem na Bíblia o que se diz?  Certos "estudiosos" porém, quando conferem o texto bíblico, usam lentes que dão foco às escrituras segundo seus próprios interesses. A forma como deseja manter sua "clientela" é  o molde da "sabedoria" que ele extrai para ensinar a quem o ouve.

Há uma urgência de genuínos pregadores do Evangelho. Como nas mensagens cristãs tem  havido engano , principalmente nos templos que optaram pela prosperidade material, com palavras que dizem ser Palavra, aplica-se aí também mais um alerta de Paulo denunciando a ausência de pregadores, não de quem só esteja disposto a falar do que Jesus fez e do que Deus pode fazer por cada um, mas sim, de caminhantes do Evangelho que não se envergonhem de nada, a não ser de dizer o que não fazem :
“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?”( Rm 10:14)
Pergunto-lhe então:

Não há quem pregue, quem ensine, quem viva o Evangelho para levar as pessoas a pensarem em “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor...” – Fl 4:8 – e assim serem libertas de jugos religiosos pesadíssimos?

Deixo a você a busca e o discernimento de resposta para isso.

Paz em Jesus “em quem não há mudança nem sombra de variação”.

Ocimar
Cabo frio-RJ

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Li e gostei...

No texto abaixo, o pastor Ricardo Gondim, da Igreja Betesda, expressa muito bem o pensamento liberto de clausuras que a fé cega impõe aos desavisados, ou melhor, aos erradamente instruídos (e quem não o foi, não é mesmo?).

Leia o texto e aproveite para refletir: em que se baseia a sua fé? Ela é um instrumento de imposição para que Deus aja a seu favor ou é sua certeza para salvação

"Repensando a fé  -  Ricardo Gondim


Certas coisas perderam ímpeto dentro de mim. Certas afirmações se esvaziam antes que alcancem o meu coração. Certas concepções já não fazem sentido quando organizo o meu dia.

Minha fé deixou de ser uma força dirigida a Deus que o induz a agir. Entendo fé como coragem de enfrentar a existência com os valores do Evangelho. Fé significa uma aposta; a verdade vivida e revelada por Jesus de Nazaré tornou-se suficiente para que eu encare as contingências do mundo sem me desumanizar. Fé não movimenta o Divino, mas serve de pedra de apoio onde me impulsiono para a deslumbrante (e perigosa) aventura de viver. 

Já não espero que uma relação com Deus me blinde de percalços. Não acredito, e nem quero, que Deus me revista com uma carcaça impenetrável. Acho um despautério prometer, em meio a tanto sofrimento, que uma vida obediente e pura gere segurança contra doenças, acidentes, violência.

 (...)

  Tanto no Antigo Testamento como no ministério terreno de Jesus, há relatos de que Deus se recusa a manipular ou coagir para trazer qualquer pessoa para si. Deus é amor e quem ama se torna vulnerável ao abandono. Um exemplo clássico vem do profeta Oséias que encarnou um repudio semelhante ao de Deus.

Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Mas, quanto mais eu o chamava mais eles se afastavam de mim (11.1).

No evangelho de Lucas, Jesus lamentou sobre a cidade de Jerusalém que, além de repetir o padrão de perseguir os profetas, o rejeitou:

Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram! (13.34).

Não acredito que, para os que cumprem ritos religiosos, a existência se transforme em céu de brigadeiro. Não imagino que, ao obedecer corretamente os mandamentos, o mar da vida deixe de ser arriscado.

Orar de olhos fechados, debulhar terços em rezas, pedir ajoelhado, fazer campanhas, interceder ferozmente nas vigílias, clamar aos gritos, nenhuma dessas expressões religiosas significa devoção, se contempla vantagens que outros mortais, que não fizerem o mesmo, não alcançarão. Considero-as puro clientelismo, vãs repetições, murros em ponta de faca, mistura de ilusão com esperança.

Assemelham-se ao esforço da tartaruga que sonha com as altitudes, mas se vê obrigada a respirar o pó da estrada.

(...) 

Já me indispus com grandes segmentos do mundo evangélico, mas não consigo calar. Por todos os lados, ouço clichês como se fossem afirmações piedosas de fé. Infelizmente, tais jargões cumprem o papel ideológico de afastar as pessoas da realidade, empurrando-as para o delírio religioso. Religião, nesse caso, não passa de ópio.

Soli Deo Gloria."

Leia na íntegra em: http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=61&sg=0&id=2163  


Obs do Blog: 

Os "(...)" foram colocados por mim (Ocimar) em trechos que necessitariam maiores explicações para que o leitor  não  duvide da fé que opera livremente em cada um que crê segundo as promessas declaradas na Palavra (conf. Mt21:22; 10:8; Tg1:6;5:14). 

Creio que a fé que opera milagres é incontestável diante de tantos testemunhos em nossos dias, além das declarações nas Escrituras onde a fé opera de forma inexplicável. O fluir do Espírito Santo  em cada um (segundo a medida da fé que Deus lhe concedeu) é que dita quando, onde e como ela deve ser invocada pelo que a tem. 

O que também me exaspera é a exploração dessa fé, que há verdadeiramente em milhões de corações, por inescrupulosos profissionais dos púlpitos, clérigos e missionários descaradamente aproveitadores e discípulos de Mamon. Esses buscarão sempre ensinar que Deus é um servo do Homem a espera de ordens para agir. Para Eles, a soberania de Deus só existe para os inimigos deles; a mesma não existe para aquele que "clama", o que é absolutamente inaceitável.

"De Deus não se zomba."

Ocimar
Cabo Frio-RJ