sexta-feira, 5 de março de 2010

Que pão estão servindo à mesa do Senhor?

(Este post, embora bem volumoso, não pretende ser um estudo aprofundado sobre o tabernáculo e seus diversos significados, porém, de forma resumida, terei que abordar uma pequena parte do simbolismo espiritual que ele representa para os cristãos. Se você deseja entender completamente o que aqui exponho, leia antes os capítulos 16 e 25 do livro de Êxodo, os capítulos 6 a 10 da carta aos Hebreus, além das referências que indicarei aqui. No entanto, nada lhe impede de ler o post sem tais pré-requisitos, mas sua compreensão pode ficar prejudicada por insuficiência de informação.)


“ Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim; mas não quereis vir a mim para terdes vida! Eu não recebo glória da parte dos homens; mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus.” João 5:39-42
Muitas coisas na Bíblia não se precisa de fé para entendê-las, já que,  nas mesmas, se entende o que as palavras expressam literalmente. Precisamos da fé, sim, para entendermos e aprofundarmo-nos em motivos e contextos - históricos e espirituais - que explicam o “por quê?” e o “para quê?” aqueles textos existem.
“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” Hb11:6
“Sem fé é impossível agradar a Deus” porque não se pode entender tudo o que Ele diz, faz ou promete como cumprimento de um plano que está muito além da compreensão dos anjos e demônios, imaginem da nossa? Mas estudar (examinar) as escrituras, completamente, é muito importante para chegarmos a entender a vontade dEle para a humanidade.

O plano de Deus para salvação do homem e restauração completa da terra deve ser buscado, como compreensão, mediante o dom (um presente) da fé que a Graça traz ao que a deseja receber. Aí então, aos poucos, vamos entendendo e concordando com tudo que foi criado, feito, dito e prometido por Ele. Aquela Palavra penetra em sua alma de tal forma que a luz de Cristo lhe conduz para uma compreensão que está além das letras e do pensamento. Como isso acontece? Repito o que Filipe falou para Natanael em seu chamado: “Vem e vê.” - Jo1:46. Nesse caso, é desejar ver para crer. Depois que se crê, começa-se a ver e entender a Verdade, o Caminho e a Vida.

Para quem já crê, um dos símbolos mais representativos da Velha Aliança é o tabernáculo. Uma tenda que Moisés construiu segundo a visão que Deus lhe deu e que aponta para a revelação e ministério eterno de Jesus Cristo:
“E me farão um santuário, para que eu habite no meio deles. Conforme a tudo o que eu te mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus móveis, assim mesmo o fareis.” Ex 25:8,9
 Essa construção, que se adaptava à vida nômade dos Hebreus daquele tempo, utilizada para sacrifícios de adoração, poderia ser transportada conforme instruções exatas e reerguida onde o povo acampasse e permanecesse por um tempo.

Para os que pouco ou nada entendem das escrituras, e nem buscam entendê-la, não poderão compreender o seu significado, pois ainda não conhecem como Deus pode “habitar no meio dos homens”. Por isso não compreenderá que o tabernáculo é um tipo* de Jesus Cristo e que expressa o mistério da revelação de Deus aos homens “guardada desde antes da fundação do mundo”-Hb 9:26.

Como já disse, a finalidade deste post não é explicar todo o significado do tabernáculo. Para isso muitos livros, apostilas, sites na internet e estudos sérios se ocupam e estão disponíveis para os que quiserem se aprofundar nessa compreensão.

Quero apenas destacar o significado de um de seus móveis: a mesa no Santo Lugar, e, nela, os pães da proposição. Com tal significado, levá-lo a identificar o definhamento que pode ocorrer nas almas convertidas que não têm sido alimentadas com “pão quente” ou pão novo em suas vidas diariamente. Ao contrário, estão sendo servidas com pão velho na mesa do Senhor. Para entender essa metáfora que faço entre “pão” e “ensino”, farei breve análise do significado das três partes principais do tabernáculo.
O SANTO LUGAR 
 Da esquerda para a direita, o candelabro (Ex 37:17-24), o sacerdote (Ex 39), o altar do incenso (Ex 37:25-28) e a mesa dos pães da proposição com utensílios (Ex 37:10-16 e Lv24:5-9)
“Porque todo sumo sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; pelo que era necessário que esse sumo sacerdote também tivesse alguma coisa que oferecer. Ora, se ele estivesse na terra, nem seria sacerdote, havendo já os que oferecem dons segundo a lei, os quais servem àquilo que é figura e sombra das coisas celestiais, como Moisés foi divinamente avisado, quando estava para construir o tabernáculo; porque lhe foi dito: Olha, faze conforme o modelo que no monte se te mostrou. Contudo, agora, Jesus recebeu um ministério ainda mais excelente ao dos sacerdotes, assim como também a aliança da qual Ele é o mediador; aliança muito superior à antiga, pois que é fundamentada em promessas excelsas.4.” Hebreus 8:3-6
Não precisamos perder tempo em provar que tudo o que foi escrito na lei é “sombra”, ou seja, signo, símbolo de algo ainda maior que viria a ser revelado à humanidade. Por que não o foi naquela época? Pode ser a questão para os que não aceitam que tudo continua sob controle de Deus, inclusive a história humana. E manter “tudo sob controle” não significa que Deus “provoque”ou “impeça” todas as situações que nos acontecem ou deixem de acontecer. Deus é amor e tudo que faz é decorrente dessa emanação de Seu amor. Coisas ruins ( que também estão sujeitas a pontos de vistas diferentes ) podem ocorrer pelas conseqüências de nosso mundo material estar sujeito a inúmeras leis naturais, pela perversão do pensamento humano e, também, por estratégia do diabo para não acharmos “o caminho de casa”. Na maioria das vezes a escolha errada é que está por trás de eventos funestos em nossas vidas.
“Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele conduz à morte.” Pv 14:12
A mente humana, tão obscura e dada à idolatria e animismos, necessitaria de uma preparação para compreender coisas espirituais superiores, não acha? Creio que o aperfeiçoamento intelectual da humanidade de hoje está mais capacitada à compreensão do que a dos homens rústicos daquela época. Veja o que o livro de Daniel revela sobre isso:

“Tu, porém, Daniel, cerra as palavras e sela o livro, até o fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência [ o conhecimento ] se multiplicará.” Dn 12:4

Isso nos leva a outra pergunta: por que então o mundo parece estar pior? Esse juízo de valor é duvidoso como parâmetro de qualidade de vida. O que significa “estar pior”?
 
Quanto a isso, podemos fazer algumas considerações sobre o que é melhor: Morrer jovem ou obter longevidade porque as ciências biomédicas avançaram em seu conhecimento? Uma população mundial analfabeta dominada pelos “letrados” ou ter o conhecimento da escrita e seus diversos conhecimentos expressos em textos compreensíveis a quem desejar? Ter ampliado os seus direitos sociais ou viver numa sociedade cujo pai tinha direito de matar o próprio filho se o desagradasse? Saneamento e saúde de qualidade ou com precaríssimos recursos promovendo a proliferação de doenças, do xamanismo e do charlatanismo? Escrever pensamentos em tabuinhas de pedra, pele ou papiro, ou utilizar um editor de texto? Comunicar-se com um amigo através de um mensageiro andarilho ou por um e-mail, blog ou mesmo telefone, ou ainda, pegar o seu carro e, em pouco tempo, estar tomando um café com ele sentados numa fresca varanda? Alimentação sadia, aprimoramento e rapidez de locomoção, transplante de órgãos, instantaneidade da comunicação... Creio que se olharmos por esse prisma - o da qualidade de vida - concluiríamos o contrário: o mundo está bem melhor! Mas, vou lhe mostrar como o seu espírito vê, hoje, “o pior” do mundo:
“Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos penosos; pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos, ímpios, sem afeição natural, implacáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder. Afasta-te também desses.” 2Tm 3:1-5
A humanidade já presencia isso desde a época em que o mundo era preparado para a vinda do Messias. Vemos então que, à medida que a mente evolui, o coração dos homens se torna soberbo e orgulhoso. Então pelo olhar da mente, o mundo melhorou, mas pelo olhar do coração...

As razões de Deus, no entanto, são infinitamente maiores do que as que eu posso compreender e apresentar. Afinal, Ele é infinito!







 AS TRÊS DIVISÕES DO TABERNÁCULO

O que foi mostrado a Moisés? A própria Bíblia expõe a finalidade da revelação de tudo o que foi escrito:

“Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê.” (...)“sendo manifestos como carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne do coração.” Rm 10:4 e 2Co3:3

O fim (de finalidade), para o qual tudo foi escrito, é a revelação de que, em Jesus, todo aquele que crê volta a ser amigo de Deus como Adão o era antes da queda. Ou seja, voltamos à condição primordial de nossa criação. É a isso que chamamos de restauração da criação. Para isso, Deus proveu-nos O ser humano perfeito (Seu Filho em forma corpórea), o “Filho do Homem” que cumprisse o principal da lei – a justiça, a misericórdia e a fé – em todos os dias de sua vida aqui. Jesus, o homem que não pecou para levar sobre si a iniqüidade do que é ser humanidade separada de Deus e, assim, cravá-la na cruz juntamente com seu corpo.
“...e a vós, quando estáveis mortos nos vossos delitos e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-nos todos os delitos; e havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz; e, tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou na mesma cruz.” - Cl2:13-15.
Ressuscitando ao terceiro dia, mediante o perdão eterno, apresentou a Deus a si mesmo como o Homem restaurado, pois vencera a morte e todos os pecados, demônios e o diabo. Assentou-se à direita (posição de autoridade universal) do Pai como Homem-Deus para enviar seu Espírito aos que crerem em Seu Nome. E, assim, está no meio de nós restaurando-nos também e nos reconduzindo justificados, diretamente, ao Pai.

Esse é o ensino do tabernáculo. Aquele simbolismo se transformou em realidade (não mais sombra) com o nascimento, vida, morte e ressurreição do Nosso Senhor. Cada peça, cada argola, cada coluna, tem seu significado em Cristo e Sua Igreja. Para entendê-lo completamente você teria que ser um estudioso da Bíblia com mente perfeita e depender inteiramente da misericórdia e da sabedoria de Deus. O profeta nos alerta sobre essa infindável compreensão: “Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor...” Oséias 6:3a.

No entanto...

“O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porquanto rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.” Oséias 4:6

O tabernáculo era dividido em três partes principais: O átrio, onde eram feitos os sacrifícios de animais; o Santo lugar, onde estavam o candelabro, o altar do incenso e a mesa com os pães; e o Lugar Santíssimo ou Santo dos santos, onde estava a Arca da Aliança com o maná, a vara de Arão florecida (Nm 17:8-10; Hb 9:4) e as tábuas da lei. No Lugar Santíssimo, somente o sumo sacerdote poderia entrar para rogar o perdão de Deus, para si e seu povo, uma vez por ano.

Entenda que, como a pessoa de Cristo está ali pré-figurada, o homem restaurado por Ele também está. É claro que a restauração completa só se dará após termos vencido “o último inimigo”: a morte. Mas, o  Homem, em processo de restauração, já se faz semelhança de Jesus Cristo em Seu ministério de reconciliação com o Pai. É assim que a Igreja de Jesus cumpre esse ministério, em si mesma e naqueles a quem prega.
“Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos quer livres; e a todos nós foi dado beber de um só Espírito.” 1Co12:13
Tal restauração se dá completamente no homem: 

EM SEU ESPÍRITO (“coração”) – Rm 8:16( Veja também Hb4:12)

Aí é o lugar de morada de Deus. Por isso o comparo ao Lugar Santíssimo. O nosso coração (e aqui está envolvido muito mais que o órgão e suas cavidades), que é o altar do Seu Espírito, retém a Palavra que se faz presente para não continuarmos a ter prazer no pecado (Sl119:11,34). Quando este lugar está sem a presença de Deus, o “espírito da pessoa” – não se deve confundir com o espírito de vida que até os animais têm - está morto para Deus. E se seu espírito está morto, a pessoa estará eternamente morta se não for salva em tempo aceitável. Esse é o papel redentor de Cristo Jesus. Quando o Espírito Santo nos foi dado gratuitamente, mediante a fé no sacrifício expiatório (cobertura de pecados) de Jesus na cruz, Ele ressuscita o nosso espírito antes morto.

“Pelo que diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.” Ef 5:14

“Ora, Deus não somente ressuscitou ao Senhor, mas também nos ressuscitará a nós pelo seu poder.(...) sabendo que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, nos ressuscitará a nós com Jesus, e nos apresentará convosco.”1 Co6:14 e 2Co 4:14

EM SUA ALMA (“mente”)

A mente humana – o Lugar Santo - necessita ser restaurada para entender qual é a vontade de Deus. Em sua soberba e orgulho jamais conseguirá penetrar o Lugar Santíssimo.

O mundo tem um papel influenciador na mente humana que impõe às pessoas sua alienação do mundo espiritual; quando não, lhes apresenta sofismas (meias verdades) que as confundem e direcionam sua atenção para falsos deuses e vãs sabedorias que não as salvam da morte eterna.
“Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que pense de si sobriamente, conforme a medida da fé que Deus, repartiu a cada um.” Rm 12:1-3

Podemos extrair do simbolismo do Santo Lugar o seguinte:
  • Em nossa mente deve habitar a Luz de Deus – Sua sabedoria - (representada pelo candelabro) para nos fazer “luz do mundo” como nos recomendou Jesus ( Mt5:14);
  • a mente renovada pelo pão fresco (a mesa) que desceu dos céus (a Palavra viva que nos dá vida) para também alimentarmos “a quem tem fome” ;
  • e assim poderemos nos dirigir a Deus em orações e sermos ouvidos (o que é representado pelo altar do incenso que tem características estritamente recomendadas por Deus).
Retornamos, então, ao mundo do Amor:

“Quando estenderdes as vossas mãos, esconderei de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei; porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Is 1:15

“Mas alegrai-vos e regozijai-vos perpetuamente no que eu crio; porque crio para Jerusalém motivo de exultação e para o seu povo motivo de gozo. (...)E acontecerá que, antes de clamarem eles, eu responderei; e estando eles ainda falando, eu os ouvirei.” Is 65:18,24

A conversão do gentio Cornélio é o primeiro grande sinal (depois que o Espírito Santo desceu sobre os discípulos judeus) de cumprimento dessas palavras proféticas para a Igreja:

“Então Pedro, tomando a palavra, disse: Na verdade reconheço que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é aceitável aquele que, em qualquer nação, o teme e pratica o que é justo. A palavra que ele enviou aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo (este é o Senhor de todos)- (...)A ele todos os profetas dão testemunho de que todo o que nele crê receberá a remissão dos pecados pelo seu nome.Enquanto Pedro ainda dizia estas coisas, desceu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra.” Atos 10:34-44

EM SEU CORPO

O lugar de contato com o mundo, o corpo físico (o átrio), também será completamente restaurado na segunda vinda do Senhor. Chamamos a isso de “glorificação” ou “redenção”.

Jesus nos deu um exemplo disso quando se transfigurou diante de seus discípulos no monte (Mt17:1-3); também quando ressuscitou: Tomé o tocou; comeu peixe com os discípulos; partiu o pão com os discípulos em Emaús; entrou em reunião de discípulos em lugares fechados etc.

“...e, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados. Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada. (...) e não só ela, mas até nós, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, aguardando a nossa adoração, a saber, a redenção do nosso corpo.” Rm8:17,18,23

Então, você pode ver como é amplo e profundo o estudo do simbolismo contido no tabernáculo. Peço-lhe agora que atente para o que significa os pães sobre a mesa no Santo Lugar. Lembre-se que cada assunto “dá um livro”. Por isso, incentivo-o a buscar aprofundar-se além do que aqui abordo.

OS PÃES DA PROPOSIÇÃO

Eram doze os pães da proposição que eram colocados sobre a mesa e que deveriam ser trocados todos os sábados por “pão quente” , ou seja, pão fresco, e que só os sacerdotes poderiam comer (1Sm21:6 ; Mt12:4). Os pães representavam as doze tribo de Israel - doze também foram os discípulos escolhidos por Cristo. Estes se sentaram em torno de uma mesa onde Jesus partiu o pão da ceia, certamente, compartilhado em doze pedaços e disse:
“Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.” Lc 22:19
“Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice estareis anunciando a morte do Senhor, até que ele venha.” 1Co11:26
Além disso, Jesus anunciou que Ele é “o pão que desceu dos céus” fazendo alusão ao maná dado aos hebreus no deserto (Jo 6:32,33).

Mais que isso: “Declarou-lhes Jesus. Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede.” Jo 6:35

Medite no que significa, então, Jesus nos ensinar em sua oração: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. (Mt6:11)

O corpo de Jesus Cristo foi “partido”, dilacerado, em seu sacrifício vicário. Sua entrega, por amor, alcançou  toda a humanidade pela derrota do império das trevas:
“Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer.” Jo 12:31-33
APLICAÇÃO ESPIRITUAL

A Graça nos transforma no Tabernáculo Vivo. Isso é o que significa:
"E a Palavra [o Verbo] se fez carne e HABITOU entre nós. Vimos a sua glória, glória como a do Unigênito do Pai, cheio de graça e verdade."
A palavra "habitou" tem sua origem no grego "skeno" que significa "viver em barraca ou tendas". É o mesmo radical que Lucas usa para definir a profissão de Paulo, de Priscila e de Áquila em Atos 18:3: "...Paulo passou a morar e trabalhar com eles, pois eram fabricantes de tendas (skenopoioi)." 

Interessante é que João use tal palavra para definir como Deus veio morar com os homens, não é mesmo? De forma humilde como o tabernáculo o era (em vez de um templo rico e luxuoso como o de Salomão), - como também eram as moradias dos hebreus no deserto - nós também somos  vistos  por Deus. Já imaginou, em meio a tanta tendas simples, se Deus mandasse Moisés erguer um templo esplendoroso no deserto? Contraditório, não? Parece que é isso que se demonstra com as "catedrais" erguidas para "glória de Deus" com o dinheiro de pessoas que mal tem com o que se sustentar. O que é de Deus não gera confusão...

O Senhor anuncia sua eternidade a nós de forma muito simples. Nenhum alardeamento de ouro, pedras preciosas, vida próspera na terra ou sem tribulação, embora coisas grandiosas estejam prometidas aos salvos, primeiramente nos céus e depois na restauração da terra. Aqui e agora?  "No mundo tereis aflições...". É à suplantação disso, com o que é puro e verdadeiro, que nos leva à reflexão do que Paulo nos ensina ao elogiar a igreja de Tessalônica:
"Recordamo-nos constantemente, na presença do nosso Deus e Pai, do vosso trabalho que resulta da fé operosa, do amor fraternal abnegado e da perseverança que vem de uma convicta esperança [ esperar a volta] em nosso Senhor Jesus Cristo..." (1Ts 1:3).

Fé, esperança e amor...valores cristãos imprescindíveis que tem perecido no seio de uma igreja "próspera" e que nunca ouviu tanto sobre "vida cristã" como nos dias de hoje.

Clemente de Alexandria comenta a "habitação" do Verbo em nós:

 “O mistério é claro: Deus está no homem e o homem se torna deus, e o Mediador realiza a vontade do Pai. Mediador é o Logos, que é comum a ambos: Filho de Deus, Salvador dos homens, de Deus servo, de nós pedagogo. Uma vez que a carne é serva, conforme Paulo atesta (…) Que a carne seja forma de servo é atestado pelo apóstolo quando fala do Senhor: ´Aniquilou a Si mesmo, tomando a natureza de escravo´, chamando escravo o homem de carne antes que o Senhor Se tornasse escravo e Se encarnasse. O próprio Deus, porém, sofrendo na carne, libertou a carne da corrupção e, depois de tê-la afastado da escravidão portadora de morte e amarga, a revestiu de imortalidade (O Protréptico)

Este deve ser o Pão Novo servido em nossas mesas: a Palavra, o Verbo, o Logos de Deus! A sabedoria de Deus impressa e expressa por revelações do Espírito que nos leva à profundidade do que  o próprio Deus quer revelar ao Homem. Assim, o Pai, O Filho e o Homem se tornam um só (conf.17:21) para que o mundo creia que  Ele enviou o Seu Filho para salvar o pecador e sejam livres para a eternidade.

Aplicações antrópicas (aplicadas pelo e para o homem) não trazem qualquer crescimento na comunhão com o Pai. Enfatizar demasiadamente o modo de vida que o cristão deve ter, -exarcebando-se a "santificação" quando mal se entende o que isso significa no sentido celestial - em detrimento do ensino da pura sabedoria que transforma qualquer forma de vida para ser semelhante  à de Jesus, é mera falácia de púlpito para que o tempo passe e imponha-se uma autoridade cultivada a chicotadas.

Os pães servidos, a partir daquilo que cultivamos em nossa mente - os nossos pensamentos - também são vida para os que se servem deles. Não servimos aquilo que não comemos. Também não aceitamos comer pão velho. Já que saímos da velha lei onde só “aos sábado eram trocados” e passamos a estar sob a Graça onde “o pão nosso” é-nos dado a cada dia, por que submetermo-nos à apatia na produção do que seja “pão”? Tanto em nossa busca do entendimento bíblico, como nas falas de quem prega a Palavra, não devemos permitir que os diversos significados e significantes bíblicos não sejam esclarecidos e nossas mentes permaneçam numa letargia extenuante. Esse é um dos motivos da existência de imensas agendas de atividades religiosas que criam um círculo vicioso de “crentes entretendo crentes” todos os dias da semana, o que também é conhecido como “ativismo eclesiástico”.

Por isso muitos pensam, e alguns assim exigem: “então devemos estar no templo todos os dias ouvindo a Palavra”. Devemos estar, sim, todos os dias buscando o Senhor. Não significa que devemos fazer do templo o lugar exclusivo de busca, mas, onde quer que estejamos, pois o tabernáculo está em nós. Isso você percebe quando o seu agir, o seu pensar, o seu falar, o seu sentir passam a ter parâmetros no Evangelho. Todos os ritos de adoração são substituídos por estados interiores de adoração (mente e coração, alma e espírito) que se refletem no ambiente em que vivemos, nosso mundo físico:

“Disse-lhe Jesus: mulher, crê-me, a hora vem, em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos; porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” Jo4:21-24

Pão é alimento diário (até mesmo nossas refeições diárias são chamadas de “pão” no que concerne ao sustento) para o corpo físico; “pão dos céus” é alimento diário para nossas almas.

“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça por ter ele na sua paciência, deixado de lado os delitos outrora cometidos; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e também justificador daquele que tem fé em Jesus.” Rm 3:23ss

Proposição é uma palavra que significa “afirmação de que algo é verdadeiro”. Então Deus propôs em Cristo algo que reafirmamos todas as vezes que comemos os “pães da proposição” ao partir o pão com um irmão. Creio, então, que as palavras “todas as vezes que comerdes deste pão...”(1Co11:26a) tenha um significado muito maior do que normalmente pensamos. Aquele pão ali servido jamais voltaria a ser comido. Então o “pão” que comemos, todas as vezes que nos reunimos, é o que Jesus Cristo nos legou: por Seu amor, amamo-nos e ensinamo-nos, uns aos outros, todas as vezes que estivermos reunidos. Não há outro propósito; não há outra atividade que possa substituí-lo. O pão que utilizamos para ser partido e ingerido juntamente com “vinho” – um rito memorial – que ocorre uma vez por mês nas igrejas, tem a função de nos lembrar que não podemos deixar de, em Nome de Jesus, praticar diariamente aquele propósito. Quando sozinho, você se alimenta meditando, vasculhando, investigando, o conteúdo bíblico e seus significados, buscando alcançar o esclarecimento que o Espírito Santo lhe dará. Quando junto a um ou dois irmãos, em Nome do Senhor, você sentirá um prazer enorme em compartilhar o que “aquela mesa de pão do céu” pode lhe prover. Isso lhe fará crescer em Graça e conhecimento do Nosso senhor Jesus Cristo.

Assim adentraremos o nosso espírito, o Santíssimo Lugar, onde a presença de Deus é contínua sobre o altar, para estar em completa comunhão com Ele e exalarmos por nossos sentidos “o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão e o domínio próprio”, fruto dessa relação de cultivo do ambiente celestial em nós, gerado pelo mover do Espírito Santo. “Contra estas coisas não há lei”(Gálatas 5:23).

A responsabilidade de incentivar esse “compartilhar de pães” está sobre aquele que se propõe a ensinar as doutrinas bíblicas. Quem serve pão velho serve do que come: pregações repetidas, mensagens sem profundidade, plágios bonitinhos e que enchem igrejas, sofismas empregando passagens bíblicas dando-lhes profundidade que nem chegam aos tornozelos, aplicações que cultivam o clientelismo, “luz” que transmite trevas, maldições, coibições, repressões, depressões, demonizações...pão velho, pão mofado. O Sábado, nosso descanso, chegou e os sacerdotes ainda estão comendo pão velho.
 "Então o sacerdote lhe deu [a Davi] o pão sagrado; porquanto não havia ali outro pão senão os pães da proposição, que se haviam tirado de diante do Senhor no dia em que se tiravam para se pôr ali  pão quente." 1Sm21:6
O tempo passa e a vida espiritual desnutrida enfraquece; o povo dorme, fica doente. Então o diabo sopra idéias que agitam, movimentam, criam sensação de estar “trabalhando na obra”... Resultado: novas doutrinas que não têm nada a ver com o que seja pão aparecem. Pseudo-prosperidade, maldições, avarezas, desamores, poderes, facções (inclusive partidos políticos), exclusões, desatinos, perversões e fornicações (sexuais e espirituais) dentre muitos outros frutos que a carne gosta, tudo isso, começa a fazer parte do que se entende como “igreja do Senhor”. A esta “imprudente” o Senhor diz: “Em verdade vos digo, não vos conheço” (conf.Mt25:12).

Comer do pão, só sacerdotes o fazem; dar o pão só sacerdotes podem. Ser sacerdote... são todos os que crêem e prosseguem em conhecer o Senhor.

“Acordai para a justiça e não pequeis mais; porque alguns ainda não têm conhecimento de Deus; digo-o para vergonha vossa.” 1Co15:34

Paz em Jesus que nos alimenta sem dependermos de outras mesas, embora elas, quando cheias de “pão quente dos céus”, também possam deleitar e saciar nossa alma na ceia diária do Senhor.

Ocimar
Cabo Frio-RJ
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O QUE É UM TIPO ?

“A palavra vem do grego : “tipos”. Significa molde ou sinal. Aquilo que inspira fé como modelo. Personagem paradigmático.
Os tipos de Cristo são personagens, animais ou objetos,[ nesse caso, do tabernáculo] que possuíram características "messiânicas". Eram profecias vivas,ou visíveis, a respeito de Cristo. Estudando a respeito desses personagens, entendemos um pouco mais sobre o caráter de Jesus e do seu ministério. Tais pessoas e fatos, abordados na seqüência, eram sombras da realidade, que é Cristo.” (Anísio Renato de Andrade)

Imagens: radioloandafm.files.wordpress.com; www.ebibleteacher.com/ images/tholy.jp; http://www.asd-mr.org.br/html/o_santuario.html