sexta-feira, 30 de abril de 2010

Buscar o reino, viver o reino, ser o reino!

“Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mt 6:33)
 Constantemente ouvimos irmãos e irmãs dizerem: "primeiro temos que fazer as coisas pra Deus...depois é que devemos nos preocupar em fazer as coisas para nós". No entanto, continuam vivenciando uma ansiosa solicitude por suas vidas.

Tal afirmação, ou coisa parecida, denota uma certa rigorosidade e busca de autojustificação em cumprir o que Jesus ordenou no texto acima,além de apresentar um desvio da verdade implícita naquele ensino. 

Leia o texto de Mateus 6: 25-34 e faça a si mesmo a seguinte pergunta: "qual a coisa mais importante desse texto?". 

Abaixo transcreverei apenas os versículos  25,33 e 34:


“Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? (...)Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.”

Somos levados quase que instantaneamente a dizer: "buscar o reino de Deus é a coisa mais importante desse texto", mas, permita-me emitir uma segunda opinião.

É verdade que a importância desse esclarecimento do Senhor sobre o que devemos buscar não encontra paralelos na literatura universal. Até porque é só na Bíblia que a origem e a natureza de tal reino são esclarecidas primordialmente. No entanto, pergunte-se: o que motivou Jesus a falar tais palavras durante o "sermão do monte"?

Entendo que Ele introduz tais palavras com o que deva ser observado como a "principal" ideia motivadora de empreendermos a busca do reino: " Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir."

 Isso é tão importante que dá a tônica de todo o restante dessa parte de seu discurso. Inclusive, termina-a com a mesma ênfase: " Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.”(v 34).

Ansiedade! O mal que mais assola a alma da humanidade (que caminha junto com o mal que mais assola o corpo físico: a cefaleia ou a dor de cabeça considerada "o mal do século"). Este post, no entanto, não tem finalidade de esclarecer origem e efeitos da ansiedade. Desejo apenas auxiliar aos leitores a compreender esse maravilhoso texto bíblico, e qual, realmente, é sua aplicação para nossas vidas.

Se entendo que Jesus percebia os motivos - doenças, dívidas, religiosidade, possessões demoníacas, curiosidade, inveja, ciúmes etc. além da ansiedade de ver resolvida toda a conjuntura política da época - que levavam a maioria dos que faziam parte daquela multidão a buscá-lO, posso entender também que falava a pessoas que O viam como "o reino" que Ele e João anunciavam. Para isso abandonavam tudo o que faziam e o que amavam, passando dias ao seu lado e dos discípulos ( a multiplicação de pães foi motivada devido ao tempo que estavam naquele lugar isolado da civilização). Então, por que  Jesus dizia "buscai em primeiro lugar o reino..." a pessoas que o buscavam? Estava Ele reforçando ou aprovando o que estavam fazendo?

Ao refletir profundamente sobre isso, à luz da Palavra de Deus, pelo Seu Espírito, você , possivelmente, chegará à mesma conclusão que cheguei. Por isso, se quiser parar a leitura aqui e aprofundar-se em suas meditações faça-o imediatamente. De qualquer forma continuarei a apresentar o que o Senhor, por seu misericordioso Espírito, me fez concluir.

O erro de interpretação e, logicamente de conduta quanto ao que é ordenado, decorre das palavras "primeiro lugar" (v 33). Opiniões, textos, pregações, conselhos, muitas coisas já foram ditas sobre o assunto, mas em sua maioria dizendo exatamente como na minha introdução: " busque primeiro as coisas de Deus..." induzindo os leitores ou ouvintes a separarem o que é de Deus e o que não o é no que se refere ao pensar, falar e agir. Como se, paradoxalmente, o Caminho do Senhor fosse dicotômico (partido em dois), ou seja, num momento estamos nele, no outro não.

O texto é claro, mas quando o explicamos com interpretações que levam as pessoas a praticarem aquilo que  ele não ensina torna-se um argumento falso. O apóstolo Paulo chama a isso de "sofisma"* e creio que, intencionalmente, alguém introduza tais coisas no ensino cristão, e daí permanecendo como verdade, para que a igreja seja uma praticante de aparências sem qualquer verdade em sua vida diária. 

O Espírito Santo opera então, de tempos em tempos, naqueles que amam o Senhor e a igreja triunfante para que tais argumentos  sejam derrubados, pois eles atendem a interesses particulares e clientelistas de religiosos inescrupulosos ou desatentos da verdade, gente boa, mas que cedem a apelos reprováveis do mercantilismo cristão. E derrubar tais coisas cabe a cada um de nós fazer, como esclarece o texto abaixo:
"Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne, pois as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus, para demolição de fortalezas; anulando nós sofismas e toda altivez [orgulho, arrogância] que se ergue contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo..." (2Co 10: 3-5)
Por isso fazer valer a prioridade da busca do reino sobre "todas" as outras coisas como ato religioso é meramente sofismático. Vejamos:


Se não é para buscarmos nada em "segundo lugar", posso concluir que o "primeiro lugar" que Jesus anuncia ali é um estado contínuo de vida em Deus. Ou seja, em tudo o que eu fizer, o reino não pode estar em outro lugar senão dentro de mim, fazendo comigo, necessitando comigo, imaginando comigo, desejando comigo, trabalhando comigo...

Isso se torna mais claro quando fazemos-nos a pergunta "onde está o reino? "  que é o questionamento mais comum quando Jesus tocava no assunto. Ao buscar a resposta, em Jesus, encontramos: 
"Sendo Jesus interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, respondeu-lhes: O reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Ei-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós." (Lc 17:20,21)
O súdito do Senhor tem seu coração transformado e vivificado pelo Seu Espírito. Se crê, o espírito do súdito-servo-amigo-filho vive! É na liberdade que Cristo nos oferece que vivemos o reino intimamente, sem sofismas, sem religiosidade, sem" fazeres pra Deus", sem "melhores pra Deus". Somos o que somos em Deus, não no que fazemos ou buscamos. 

Buscar é um início. Os "sem fé" devem buscar o reino até receberem a fé que Deus lhes oferece gratuitamente. Por isso "buscar" é o único ato sem fé que as pessoas devem ter. depois disso , com fé, devem viver o reino e ser o reino.  

Viver o reino passa a ser um estado contínuo de gratidão e louvor em meio às tempestades que assolam a vida humana e de regozijo no Senhor quando elas dão uma trégua, na esperança de que "não podem  ser comparadas com a glória futura que há de ser revelada em nós...a redenção de nossos copos" (conf. Rm 8:13ss).

Ser o reino torna-se um testemunho contínuo dele em nós, atraindo os nossos próximos para Jesus, não com falácia e obrigações religiosas de evangelismos, mas com demonstrações de amor no Espírito Santo que em nós habita.

Falar,  fazer, desejar, trabalhar, vestir, comer, cuidar passam a ser necessidades saciadas em meio ao que somos em Jesus Cristo, em Seu reino, mediante o agir de Seu Espírito em nós.

"O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; entretanto o meu reino não é daqui. (Jo18:36)

Quando dizemos que precisamos ir primeiramente à igreja (templo), ou ler a Bíblia, orar, evangelizar, para depois vivermos nossa vida cotidiana, estamos afirmando aquilo que mais repudiamos: o reino de Deus está em outro lugar que não dentro de nós. 

Ou seja, quando participar de atividades na igreja representa o esforço  para lá buscar o Senhor, concebe-se então que não somos santuário do Espírito Santo (conf. 1 Co6:19), onde, numa relação vertical permanente, adentramos o santíssimo lugar estabelecido em nossos corações, e, ali , falamos com Deus continuamente.  A importância daquele lugar construído para comunhão está exatamente na oportunidade periódica da lembrança, um ao outro, da prática do amor do nosso Deus que se relaciona sim com um povo, mas , primeiramente, com cada um individualmente. No entanto, a maior prática do Evangelho não se dá ali dentro, mas fora, sendo "luz" e "sal" no mundo.

Quando ler a Bíblia representa buscar o reino em primeiro lugar, estendemos que não se aprendeu que o Espírito Santo ministra diretamente ao nosso coração e mente fazendo com que a letra lida seja gravada neles para vivermos o reino diuturnamente; que tal forma de "busca" sugere que  aprendemos e falamos com Deus de vez em quando e não, incessantemente, em espírito (conf.Ef 6:18; Jd 1:20)

Se evangelizar domingo às 15 h deve ser considerado como o que Jesus quer dizer como "primeiro lugar" , então não concebemos que o testemunho do Senhor deve exalar por nossos olhos, palavras, sorrisos, carinhos, conselhos de paz, em nossas relações diárias com aqueles que nos rodeiam.

Se considerarmos que trabalhar, estudar, comprar, comer, cuidar, devem ser buscados DEPOIS de termos buscado o reino, então o reino não está em nós. 

Alguém religioso perguntou a Jesus que mandamento deveria ser considerado como principal. Surpreendente (para os fariseus, sacerdotes e escribas) foi a resposta do Senhor:
"Ao que lhe disse o escriba: Muito bem, Mestre; com verdade disseste que ele é um, e fora dele não há outro; e que amá-lo de todo o coração, de todo o entendimento e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios.


E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E ninguém ousava mais interrogá-lo." ( Mc 12:32-34)


Na afirmação acima feita pelo escriba a Jesus, denota-se o vínculo religioso  cumpridor de mandamentos, diferentemente do que Jesus anunciava como "reino". O escriba achava que, por ensinar aquilo que  Jesus afirmava e que havia endossado, poderia ser encarado como "participante do reino" anunciado.

Cada um, cumprindo o que entende como religião, não amando a Deus e ao próximo sobre todas as coisas que existem por fazer, não estará no reino. Com sua resposta, derrubando "sacrifícios e holocaustos "como veículos de entrada no reino, o escriba estava "próximo" de alcançá-lo, como afirmou Jesus, mas ainda não estava nele. Precisava ainda empreender uma busca que renegaria todo orgulho e altivez de seus cumprimentos religiosos como substitutivos do amor de Deus e ao próximo em suas ações,em seus  pensamentos , em seus sentimentos e ensinos.

Todo aquele que busca encontrar o reino, e ,encontrando-o, vive e passa a sê-lo, faz toda e qualquer coisa sem separar-se dele. Buscar viver separadamente do reino seria a mesma coisa que tentar separar o azul do céu , o azul ou o verde da água do oceano, a beleza da flor, o doce do açúcar, o sabor do sal, o brilho da luz...Coisas inseparáveis! Se de alguma forma mudarmos a natureza de uma a outra também perde sua manifestação.
"...porque o reino de Deus não consiste no comer e no beber, mas na justiça, na paz, e na alegria no Espírito Santo. Pois quem nisso serve a Cristo agradável é a Deus e aceito aos homens." (Rm 14:17)

Buscar o reino é um ato para os que ainda não o encontraram; viver o reino é um estado de vida contínuo inseparável do que necessitamos; ser o reino é testemunhar a todos ao nosso redor ( muitas vezes não são necessárias palavras) em que o Espírito Santo nos transformou: um servo da paz de Deus, um filho do reino do Seu Amor.

Despeço-me com as palavras do apóstolo Paulo:

"Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus; sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria,dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz. Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor,  no qual temos a redenção, a remissão dos pecados." (Colossensses1:13)
Paz em Jesus que nos liberta de dogmas enganosos e sofismas destruidores da verdadeira comunhão em Cristo com aqueles que O amam acima de tudo.

Ocimar

*Sofisma : segundo a Pequena Enciclopédia Bíblica de O.S. Boyer, é "um argumento falso intencionalmente  feito para induzir outrem em erro."

sexta-feira, 5 de março de 2010

Que pão estão servindo à mesa do Senhor?

(Este post, embora bem volumoso, não pretende ser um estudo aprofundado sobre o tabernáculo e seus diversos significados, porém, de forma resumida, terei que abordar uma pequena parte do simbolismo espiritual que ele representa para os cristãos. Se você deseja entender completamente o que aqui exponho, leia antes os capítulos 16 e 25 do livro de Êxodo, os capítulos 6 a 10 da carta aos Hebreus, além das referências que indicarei aqui. No entanto, nada lhe impede de ler o post sem tais pré-requisitos, mas sua compreensão pode ficar prejudicada por insuficiência de informação.)


“ Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim; mas não quereis vir a mim para terdes vida! Eu não recebo glória da parte dos homens; mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus.” João 5:39-42
Muitas coisas na Bíblia não se precisa de fé para entendê-las, já que,  nas mesmas, se entende o que as palavras expressam literalmente. Precisamos da fé, sim, para entendermos e aprofundarmo-nos em motivos e contextos - históricos e espirituais - que explicam o “por quê?” e o “para quê?” aqueles textos existem.
“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” Hb11:6
“Sem fé é impossível agradar a Deus” porque não se pode entender tudo o que Ele diz, faz ou promete como cumprimento de um plano que está muito além da compreensão dos anjos e demônios, imaginem da nossa? Mas estudar (examinar) as escrituras, completamente, é muito importante para chegarmos a entender a vontade dEle para a humanidade.

O plano de Deus para salvação do homem e restauração completa da terra deve ser buscado, como compreensão, mediante o dom (um presente) da fé que a Graça traz ao que a deseja receber. Aí então, aos poucos, vamos entendendo e concordando com tudo que foi criado, feito, dito e prometido por Ele. Aquela Palavra penetra em sua alma de tal forma que a luz de Cristo lhe conduz para uma compreensão que está além das letras e do pensamento. Como isso acontece? Repito o que Filipe falou para Natanael em seu chamado: “Vem e vê.” - Jo1:46. Nesse caso, é desejar ver para crer. Depois que se crê, começa-se a ver e entender a Verdade, o Caminho e a Vida.

Para quem já crê, um dos símbolos mais representativos da Velha Aliança é o tabernáculo. Uma tenda que Moisés construiu segundo a visão que Deus lhe deu e que aponta para a revelação e ministério eterno de Jesus Cristo:
“E me farão um santuário, para que eu habite no meio deles. Conforme a tudo o que eu te mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus móveis, assim mesmo o fareis.” Ex 25:8,9
 Essa construção, que se adaptava à vida nômade dos Hebreus daquele tempo, utilizada para sacrifícios de adoração, poderia ser transportada conforme instruções exatas e reerguida onde o povo acampasse e permanecesse por um tempo.

Para os que pouco ou nada entendem das escrituras, e nem buscam entendê-la, não poderão compreender o seu significado, pois ainda não conhecem como Deus pode “habitar no meio dos homens”. Por isso não compreenderá que o tabernáculo é um tipo* de Jesus Cristo e que expressa o mistério da revelação de Deus aos homens “guardada desde antes da fundação do mundo”-Hb 9:26.

Como já disse, a finalidade deste post não é explicar todo o significado do tabernáculo. Para isso muitos livros, apostilas, sites na internet e estudos sérios se ocupam e estão disponíveis para os que quiserem se aprofundar nessa compreensão.

Quero apenas destacar o significado de um de seus móveis: a mesa no Santo Lugar, e, nela, os pães da proposição. Com tal significado, levá-lo a identificar o definhamento que pode ocorrer nas almas convertidas que não têm sido alimentadas com “pão quente” ou pão novo em suas vidas diariamente. Ao contrário, estão sendo servidas com pão velho na mesa do Senhor. Para entender essa metáfora que faço entre “pão” e “ensino”, farei breve análise do significado das três partes principais do tabernáculo.
O SANTO LUGAR 
 Da esquerda para a direita, o candelabro (Ex 37:17-24), o sacerdote (Ex 39), o altar do incenso (Ex 37:25-28) e a mesa dos pães da proposição com utensílios (Ex 37:10-16 e Lv24:5-9)
“Porque todo sumo sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; pelo que era necessário que esse sumo sacerdote também tivesse alguma coisa que oferecer. Ora, se ele estivesse na terra, nem seria sacerdote, havendo já os que oferecem dons segundo a lei, os quais servem àquilo que é figura e sombra das coisas celestiais, como Moisés foi divinamente avisado, quando estava para construir o tabernáculo; porque lhe foi dito: Olha, faze conforme o modelo que no monte se te mostrou. Contudo, agora, Jesus recebeu um ministério ainda mais excelente ao dos sacerdotes, assim como também a aliança da qual Ele é o mediador; aliança muito superior à antiga, pois que é fundamentada em promessas excelsas.4.” Hebreus 8:3-6
Não precisamos perder tempo em provar que tudo o que foi escrito na lei é “sombra”, ou seja, signo, símbolo de algo ainda maior que viria a ser revelado à humanidade. Por que não o foi naquela época? Pode ser a questão para os que não aceitam que tudo continua sob controle de Deus, inclusive a história humana. E manter “tudo sob controle” não significa que Deus “provoque”ou “impeça” todas as situações que nos acontecem ou deixem de acontecer. Deus é amor e tudo que faz é decorrente dessa emanação de Seu amor. Coisas ruins ( que também estão sujeitas a pontos de vistas diferentes ) podem ocorrer pelas conseqüências de nosso mundo material estar sujeito a inúmeras leis naturais, pela perversão do pensamento humano e, também, por estratégia do diabo para não acharmos “o caminho de casa”. Na maioria das vezes a escolha errada é que está por trás de eventos funestos em nossas vidas.
“Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele conduz à morte.” Pv 14:12
A mente humana, tão obscura e dada à idolatria e animismos, necessitaria de uma preparação para compreender coisas espirituais superiores, não acha? Creio que o aperfeiçoamento intelectual da humanidade de hoje está mais capacitada à compreensão do que a dos homens rústicos daquela época. Veja o que o livro de Daniel revela sobre isso:

“Tu, porém, Daniel, cerra as palavras e sela o livro, até o fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência [ o conhecimento ] se multiplicará.” Dn 12:4

Isso nos leva a outra pergunta: por que então o mundo parece estar pior? Esse juízo de valor é duvidoso como parâmetro de qualidade de vida. O que significa “estar pior”?
 
Quanto a isso, podemos fazer algumas considerações sobre o que é melhor: Morrer jovem ou obter longevidade porque as ciências biomédicas avançaram em seu conhecimento? Uma população mundial analfabeta dominada pelos “letrados” ou ter o conhecimento da escrita e seus diversos conhecimentos expressos em textos compreensíveis a quem desejar? Ter ampliado os seus direitos sociais ou viver numa sociedade cujo pai tinha direito de matar o próprio filho se o desagradasse? Saneamento e saúde de qualidade ou com precaríssimos recursos promovendo a proliferação de doenças, do xamanismo e do charlatanismo? Escrever pensamentos em tabuinhas de pedra, pele ou papiro, ou utilizar um editor de texto? Comunicar-se com um amigo através de um mensageiro andarilho ou por um e-mail, blog ou mesmo telefone, ou ainda, pegar o seu carro e, em pouco tempo, estar tomando um café com ele sentados numa fresca varanda? Alimentação sadia, aprimoramento e rapidez de locomoção, transplante de órgãos, instantaneidade da comunicação... Creio que se olharmos por esse prisma - o da qualidade de vida - concluiríamos o contrário: o mundo está bem melhor! Mas, vou lhe mostrar como o seu espírito vê, hoje, “o pior” do mundo:
“Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos penosos; pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos, ímpios, sem afeição natural, implacáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder. Afasta-te também desses.” 2Tm 3:1-5
A humanidade já presencia isso desde a época em que o mundo era preparado para a vinda do Messias. Vemos então que, à medida que a mente evolui, o coração dos homens se torna soberbo e orgulhoso. Então pelo olhar da mente, o mundo melhorou, mas pelo olhar do coração...

As razões de Deus, no entanto, são infinitamente maiores do que as que eu posso compreender e apresentar. Afinal, Ele é infinito!







 AS TRÊS DIVISÕES DO TABERNÁCULO

O que foi mostrado a Moisés? A própria Bíblia expõe a finalidade da revelação de tudo o que foi escrito:

“Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê.” (...)“sendo manifestos como carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne do coração.” Rm 10:4 e 2Co3:3

O fim (de finalidade), para o qual tudo foi escrito, é a revelação de que, em Jesus, todo aquele que crê volta a ser amigo de Deus como Adão o era antes da queda. Ou seja, voltamos à condição primordial de nossa criação. É a isso que chamamos de restauração da criação. Para isso, Deus proveu-nos O ser humano perfeito (Seu Filho em forma corpórea), o “Filho do Homem” que cumprisse o principal da lei – a justiça, a misericórdia e a fé – em todos os dias de sua vida aqui. Jesus, o homem que não pecou para levar sobre si a iniqüidade do que é ser humanidade separada de Deus e, assim, cravá-la na cruz juntamente com seu corpo.
“...e a vós, quando estáveis mortos nos vossos delitos e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-nos todos os delitos; e havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz; e, tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou na mesma cruz.” - Cl2:13-15.
Ressuscitando ao terceiro dia, mediante o perdão eterno, apresentou a Deus a si mesmo como o Homem restaurado, pois vencera a morte e todos os pecados, demônios e o diabo. Assentou-se à direita (posição de autoridade universal) do Pai como Homem-Deus para enviar seu Espírito aos que crerem em Seu Nome. E, assim, está no meio de nós restaurando-nos também e nos reconduzindo justificados, diretamente, ao Pai.

Esse é o ensino do tabernáculo. Aquele simbolismo se transformou em realidade (não mais sombra) com o nascimento, vida, morte e ressurreição do Nosso Senhor. Cada peça, cada argola, cada coluna, tem seu significado em Cristo e Sua Igreja. Para entendê-lo completamente você teria que ser um estudioso da Bíblia com mente perfeita e depender inteiramente da misericórdia e da sabedoria de Deus. O profeta nos alerta sobre essa infindável compreensão: “Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor...” Oséias 6:3a.

No entanto...

“O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porquanto rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.” Oséias 4:6

O tabernáculo era dividido em três partes principais: O átrio, onde eram feitos os sacrifícios de animais; o Santo lugar, onde estavam o candelabro, o altar do incenso e a mesa com os pães; e o Lugar Santíssimo ou Santo dos santos, onde estava a Arca da Aliança com o maná, a vara de Arão florecida (Nm 17:8-10; Hb 9:4) e as tábuas da lei. No Lugar Santíssimo, somente o sumo sacerdote poderia entrar para rogar o perdão de Deus, para si e seu povo, uma vez por ano.

Entenda que, como a pessoa de Cristo está ali pré-figurada, o homem restaurado por Ele também está. É claro que a restauração completa só se dará após termos vencido “o último inimigo”: a morte. Mas, o  Homem, em processo de restauração, já se faz semelhança de Jesus Cristo em Seu ministério de reconciliação com o Pai. É assim que a Igreja de Jesus cumpre esse ministério, em si mesma e naqueles a quem prega.
“Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos quer livres; e a todos nós foi dado beber de um só Espírito.” 1Co12:13
Tal restauração se dá completamente no homem: 

EM SEU ESPÍRITO (“coração”) – Rm 8:16( Veja também Hb4:12)

Aí é o lugar de morada de Deus. Por isso o comparo ao Lugar Santíssimo. O nosso coração (e aqui está envolvido muito mais que o órgão e suas cavidades), que é o altar do Seu Espírito, retém a Palavra que se faz presente para não continuarmos a ter prazer no pecado (Sl119:11,34). Quando este lugar está sem a presença de Deus, o “espírito da pessoa” – não se deve confundir com o espírito de vida que até os animais têm - está morto para Deus. E se seu espírito está morto, a pessoa estará eternamente morta se não for salva em tempo aceitável. Esse é o papel redentor de Cristo Jesus. Quando o Espírito Santo nos foi dado gratuitamente, mediante a fé no sacrifício expiatório (cobertura de pecados) de Jesus na cruz, Ele ressuscita o nosso espírito antes morto.

“Pelo que diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.” Ef 5:14

“Ora, Deus não somente ressuscitou ao Senhor, mas também nos ressuscitará a nós pelo seu poder.(...) sabendo que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, nos ressuscitará a nós com Jesus, e nos apresentará convosco.”1 Co6:14 e 2Co 4:14

EM SUA ALMA (“mente”)

A mente humana – o Lugar Santo - necessita ser restaurada para entender qual é a vontade de Deus. Em sua soberba e orgulho jamais conseguirá penetrar o Lugar Santíssimo.

O mundo tem um papel influenciador na mente humana que impõe às pessoas sua alienação do mundo espiritual; quando não, lhes apresenta sofismas (meias verdades) que as confundem e direcionam sua atenção para falsos deuses e vãs sabedorias que não as salvam da morte eterna.
“Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que pense de si sobriamente, conforme a medida da fé que Deus, repartiu a cada um.” Rm 12:1-3

Podemos extrair do simbolismo do Santo Lugar o seguinte:
  • Em nossa mente deve habitar a Luz de Deus – Sua sabedoria - (representada pelo candelabro) para nos fazer “luz do mundo” como nos recomendou Jesus ( Mt5:14);
  • a mente renovada pelo pão fresco (a mesa) que desceu dos céus (a Palavra viva que nos dá vida) para também alimentarmos “a quem tem fome” ;
  • e assim poderemos nos dirigir a Deus em orações e sermos ouvidos (o que é representado pelo altar do incenso que tem características estritamente recomendadas por Deus).
Retornamos, então, ao mundo do Amor:

“Quando estenderdes as vossas mãos, esconderei de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei; porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Is 1:15

“Mas alegrai-vos e regozijai-vos perpetuamente no que eu crio; porque crio para Jerusalém motivo de exultação e para o seu povo motivo de gozo. (...)E acontecerá que, antes de clamarem eles, eu responderei; e estando eles ainda falando, eu os ouvirei.” Is 65:18,24

A conversão do gentio Cornélio é o primeiro grande sinal (depois que o Espírito Santo desceu sobre os discípulos judeus) de cumprimento dessas palavras proféticas para a Igreja:

“Então Pedro, tomando a palavra, disse: Na verdade reconheço que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é aceitável aquele que, em qualquer nação, o teme e pratica o que é justo. A palavra que ele enviou aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo (este é o Senhor de todos)- (...)A ele todos os profetas dão testemunho de que todo o que nele crê receberá a remissão dos pecados pelo seu nome.Enquanto Pedro ainda dizia estas coisas, desceu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra.” Atos 10:34-44

EM SEU CORPO

O lugar de contato com o mundo, o corpo físico (o átrio), também será completamente restaurado na segunda vinda do Senhor. Chamamos a isso de “glorificação” ou “redenção”.

Jesus nos deu um exemplo disso quando se transfigurou diante de seus discípulos no monte (Mt17:1-3); também quando ressuscitou: Tomé o tocou; comeu peixe com os discípulos; partiu o pão com os discípulos em Emaús; entrou em reunião de discípulos em lugares fechados etc.

“...e, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados. Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada. (...) e não só ela, mas até nós, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, aguardando a nossa adoração, a saber, a redenção do nosso corpo.” Rm8:17,18,23

Então, você pode ver como é amplo e profundo o estudo do simbolismo contido no tabernáculo. Peço-lhe agora que atente para o que significa os pães sobre a mesa no Santo Lugar. Lembre-se que cada assunto “dá um livro”. Por isso, incentivo-o a buscar aprofundar-se além do que aqui abordo.

OS PÃES DA PROPOSIÇÃO

Eram doze os pães da proposição que eram colocados sobre a mesa e que deveriam ser trocados todos os sábados por “pão quente” , ou seja, pão fresco, e que só os sacerdotes poderiam comer (1Sm21:6 ; Mt12:4). Os pães representavam as doze tribo de Israel - doze também foram os discípulos escolhidos por Cristo. Estes se sentaram em torno de uma mesa onde Jesus partiu o pão da ceia, certamente, compartilhado em doze pedaços e disse:
“Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.” Lc 22:19
“Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice estareis anunciando a morte do Senhor, até que ele venha.” 1Co11:26
Além disso, Jesus anunciou que Ele é “o pão que desceu dos céus” fazendo alusão ao maná dado aos hebreus no deserto (Jo 6:32,33).

Mais que isso: “Declarou-lhes Jesus. Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede.” Jo 6:35

Medite no que significa, então, Jesus nos ensinar em sua oração: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. (Mt6:11)

O corpo de Jesus Cristo foi “partido”, dilacerado, em seu sacrifício vicário. Sua entrega, por amor, alcançou  toda a humanidade pela derrota do império das trevas:
“Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer.” Jo 12:31-33
APLICAÇÃO ESPIRITUAL

A Graça nos transforma no Tabernáculo Vivo. Isso é o que significa:
"E a Palavra [o Verbo] se fez carne e HABITOU entre nós. Vimos a sua glória, glória como a do Unigênito do Pai, cheio de graça e verdade."
A palavra "habitou" tem sua origem no grego "skeno" que significa "viver em barraca ou tendas". É o mesmo radical que Lucas usa para definir a profissão de Paulo, de Priscila e de Áquila em Atos 18:3: "...Paulo passou a morar e trabalhar com eles, pois eram fabricantes de tendas (skenopoioi)." 

Interessante é que João use tal palavra para definir como Deus veio morar com os homens, não é mesmo? De forma humilde como o tabernáculo o era (em vez de um templo rico e luxuoso como o de Salomão), - como também eram as moradias dos hebreus no deserto - nós também somos  vistos  por Deus. Já imaginou, em meio a tanta tendas simples, se Deus mandasse Moisés erguer um templo esplendoroso no deserto? Contraditório, não? Parece que é isso que se demonstra com as "catedrais" erguidas para "glória de Deus" com o dinheiro de pessoas que mal tem com o que se sustentar. O que é de Deus não gera confusão...

O Senhor anuncia sua eternidade a nós de forma muito simples. Nenhum alardeamento de ouro, pedras preciosas, vida próspera na terra ou sem tribulação, embora coisas grandiosas estejam prometidas aos salvos, primeiramente nos céus e depois na restauração da terra. Aqui e agora?  "No mundo tereis aflições...". É à suplantação disso, com o que é puro e verdadeiro, que nos leva à reflexão do que Paulo nos ensina ao elogiar a igreja de Tessalônica:
"Recordamo-nos constantemente, na presença do nosso Deus e Pai, do vosso trabalho que resulta da fé operosa, do amor fraternal abnegado e da perseverança que vem de uma convicta esperança [ esperar a volta] em nosso Senhor Jesus Cristo..." (1Ts 1:3).

Fé, esperança e amor...valores cristãos imprescindíveis que tem perecido no seio de uma igreja "próspera" e que nunca ouviu tanto sobre "vida cristã" como nos dias de hoje.

Clemente de Alexandria comenta a "habitação" do Verbo em nós:

 “O mistério é claro: Deus está no homem e o homem se torna deus, e o Mediador realiza a vontade do Pai. Mediador é o Logos, que é comum a ambos: Filho de Deus, Salvador dos homens, de Deus servo, de nós pedagogo. Uma vez que a carne é serva, conforme Paulo atesta (…) Que a carne seja forma de servo é atestado pelo apóstolo quando fala do Senhor: ´Aniquilou a Si mesmo, tomando a natureza de escravo´, chamando escravo o homem de carne antes que o Senhor Se tornasse escravo e Se encarnasse. O próprio Deus, porém, sofrendo na carne, libertou a carne da corrupção e, depois de tê-la afastado da escravidão portadora de morte e amarga, a revestiu de imortalidade (O Protréptico)

Este deve ser o Pão Novo servido em nossas mesas: a Palavra, o Verbo, o Logos de Deus! A sabedoria de Deus impressa e expressa por revelações do Espírito que nos leva à profundidade do que  o próprio Deus quer revelar ao Homem. Assim, o Pai, O Filho e o Homem se tornam um só (conf.17:21) para que o mundo creia que  Ele enviou o Seu Filho para salvar o pecador e sejam livres para a eternidade.

Aplicações antrópicas (aplicadas pelo e para o homem) não trazem qualquer crescimento na comunhão com o Pai. Enfatizar demasiadamente o modo de vida que o cristão deve ter, -exarcebando-se a "santificação" quando mal se entende o que isso significa no sentido celestial - em detrimento do ensino da pura sabedoria que transforma qualquer forma de vida para ser semelhante  à de Jesus, é mera falácia de púlpito para que o tempo passe e imponha-se uma autoridade cultivada a chicotadas.

Os pães servidos, a partir daquilo que cultivamos em nossa mente - os nossos pensamentos - também são vida para os que se servem deles. Não servimos aquilo que não comemos. Também não aceitamos comer pão velho. Já que saímos da velha lei onde só “aos sábado eram trocados” e passamos a estar sob a Graça onde “o pão nosso” é-nos dado a cada dia, por que submetermo-nos à apatia na produção do que seja “pão”? Tanto em nossa busca do entendimento bíblico, como nas falas de quem prega a Palavra, não devemos permitir que os diversos significados e significantes bíblicos não sejam esclarecidos e nossas mentes permaneçam numa letargia extenuante. Esse é um dos motivos da existência de imensas agendas de atividades religiosas que criam um círculo vicioso de “crentes entretendo crentes” todos os dias da semana, o que também é conhecido como “ativismo eclesiástico”.

Por isso muitos pensam, e alguns assim exigem: “então devemos estar no templo todos os dias ouvindo a Palavra”. Devemos estar, sim, todos os dias buscando o Senhor. Não significa que devemos fazer do templo o lugar exclusivo de busca, mas, onde quer que estejamos, pois o tabernáculo está em nós. Isso você percebe quando o seu agir, o seu pensar, o seu falar, o seu sentir passam a ter parâmetros no Evangelho. Todos os ritos de adoração são substituídos por estados interiores de adoração (mente e coração, alma e espírito) que se refletem no ambiente em que vivemos, nosso mundo físico:

“Disse-lhe Jesus: mulher, crê-me, a hora vem, em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos; porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” Jo4:21-24

Pão é alimento diário (até mesmo nossas refeições diárias são chamadas de “pão” no que concerne ao sustento) para o corpo físico; “pão dos céus” é alimento diário para nossas almas.

“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça por ter ele na sua paciência, deixado de lado os delitos outrora cometidos; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e também justificador daquele que tem fé em Jesus.” Rm 3:23ss

Proposição é uma palavra que significa “afirmação de que algo é verdadeiro”. Então Deus propôs em Cristo algo que reafirmamos todas as vezes que comemos os “pães da proposição” ao partir o pão com um irmão. Creio, então, que as palavras “todas as vezes que comerdes deste pão...”(1Co11:26a) tenha um significado muito maior do que normalmente pensamos. Aquele pão ali servido jamais voltaria a ser comido. Então o “pão” que comemos, todas as vezes que nos reunimos, é o que Jesus Cristo nos legou: por Seu amor, amamo-nos e ensinamo-nos, uns aos outros, todas as vezes que estivermos reunidos. Não há outro propósito; não há outra atividade que possa substituí-lo. O pão que utilizamos para ser partido e ingerido juntamente com “vinho” – um rito memorial – que ocorre uma vez por mês nas igrejas, tem a função de nos lembrar que não podemos deixar de, em Nome de Jesus, praticar diariamente aquele propósito. Quando sozinho, você se alimenta meditando, vasculhando, investigando, o conteúdo bíblico e seus significados, buscando alcançar o esclarecimento que o Espírito Santo lhe dará. Quando junto a um ou dois irmãos, em Nome do Senhor, você sentirá um prazer enorme em compartilhar o que “aquela mesa de pão do céu” pode lhe prover. Isso lhe fará crescer em Graça e conhecimento do Nosso senhor Jesus Cristo.

Assim adentraremos o nosso espírito, o Santíssimo Lugar, onde a presença de Deus é contínua sobre o altar, para estar em completa comunhão com Ele e exalarmos por nossos sentidos “o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão e o domínio próprio”, fruto dessa relação de cultivo do ambiente celestial em nós, gerado pelo mover do Espírito Santo. “Contra estas coisas não há lei”(Gálatas 5:23).

A responsabilidade de incentivar esse “compartilhar de pães” está sobre aquele que se propõe a ensinar as doutrinas bíblicas. Quem serve pão velho serve do que come: pregações repetidas, mensagens sem profundidade, plágios bonitinhos e que enchem igrejas, sofismas empregando passagens bíblicas dando-lhes profundidade que nem chegam aos tornozelos, aplicações que cultivam o clientelismo, “luz” que transmite trevas, maldições, coibições, repressões, depressões, demonizações...pão velho, pão mofado. O Sábado, nosso descanso, chegou e os sacerdotes ainda estão comendo pão velho.
 "Então o sacerdote lhe deu [a Davi] o pão sagrado; porquanto não havia ali outro pão senão os pães da proposição, que se haviam tirado de diante do Senhor no dia em que se tiravam para se pôr ali  pão quente." 1Sm21:6
O tempo passa e a vida espiritual desnutrida enfraquece; o povo dorme, fica doente. Então o diabo sopra idéias que agitam, movimentam, criam sensação de estar “trabalhando na obra”... Resultado: novas doutrinas que não têm nada a ver com o que seja pão aparecem. Pseudo-prosperidade, maldições, avarezas, desamores, poderes, facções (inclusive partidos políticos), exclusões, desatinos, perversões e fornicações (sexuais e espirituais) dentre muitos outros frutos que a carne gosta, tudo isso, começa a fazer parte do que se entende como “igreja do Senhor”. A esta “imprudente” o Senhor diz: “Em verdade vos digo, não vos conheço” (conf.Mt25:12).

Comer do pão, só sacerdotes o fazem; dar o pão só sacerdotes podem. Ser sacerdote... são todos os que crêem e prosseguem em conhecer o Senhor.

“Acordai para a justiça e não pequeis mais; porque alguns ainda não têm conhecimento de Deus; digo-o para vergonha vossa.” 1Co15:34

Paz em Jesus que nos alimenta sem dependermos de outras mesas, embora elas, quando cheias de “pão quente dos céus”, também possam deleitar e saciar nossa alma na ceia diária do Senhor.

Ocimar
Cabo Frio-RJ
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O QUE É UM TIPO ?

“A palavra vem do grego : “tipos”. Significa molde ou sinal. Aquilo que inspira fé como modelo. Personagem paradigmático.
Os tipos de Cristo são personagens, animais ou objetos,[ nesse caso, do tabernáculo] que possuíram características "messiânicas". Eram profecias vivas,ou visíveis, a respeito de Cristo. Estudando a respeito desses personagens, entendemos um pouco mais sobre o caráter de Jesus e do seu ministério. Tais pessoas e fatos, abordados na seqüência, eram sombras da realidade, que é Cristo.” (Anísio Renato de Andrade)

Imagens: radioloandafm.files.wordpress.com; www.ebibleteacher.com/ images/tholy.jp; http://www.asd-mr.org.br/html/o_santuario.html

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Esquizoclérigos: buscadores doentes!

"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia.”Mt23:27

 Aos 36 anos fui verdadeiramente impactado pelo Evangelho de Jesus Cristo. Até aquele momento eu vivia, há vinte anos, “perambulando” pelo esoterismo num só propósito: a busca de Deus.

Iniciei tal “busca”, aos 16 anos, nos livros de Lobsang Rampa (que dizia ser um Lama tibetano que trazia aos leitores ensinos aprendidos no Tibet). Só que este era o pseudônimo de Cyril Hoskins, um escritor americano que jamais pisara naquela região. Imagina minha decepção quando eu soube disso? Ainda bem que isso ocorreu bem mais tarde, quando, em mim, já passara a febre idolátrica por aquele personagem.

No Brasil, na década de 70 e 80, as publicações de dezenas de seus livros - entre eles o mais famoso é “A Terceira Visão” - desencadeou um verdadeiro movimento de jovens e adolescentes em busca do sagrado-oculto e da sabedoria oriental. Eu era um deles. 

Foi assim que me afiliei, aos 17 anos, a uma ordem esotérica e ali fiquei “buscando Deus”, até que ocorreu-me o impacto do Evangelho. Então achei a quem eu buscava na pessoa revelada de Jesus Cristo, ou melhor, fui achado por Ele.

Assim cessou uma e iniciei outra busca: conhecer a profundidade da sabedoria de Deus. Percebi que quanto mais estudo, medito, oro, muito mais tenho que mergulhar. Sei que jamais vou alcançar o fundo, mas é isso que me motiva. Até onde posso chegar? Até onde Ele me permite, não mais do que eu preciso saber. E o gostoso disso é que, em cada estágio dessa busca, eu fico completamente saciado. Diferentemente do passado quando a insaciedade permeava minha alma. Entendo, pois, o que Jesus quer dizer: “Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede” Jo4:14.

"Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna.” Mt 5:37

Quando disse que fui verdadeiramente impactado pelo Evangelho, é porque percebo que nada em mim deseja uma “caiação” do que sou. O Espírito de Deus me leva a desejar ser um semeador do Evangelho onde quer que eu esteja, respeitando a vontade de ouvir ou não de meus interlocutores fazendo com que seja um papo agradável a ambos e não só à minha pseudo-obrigação de anunciar a Palavra. O que se deve fazer por amar não deve ser obrigação a nada, mas prazer em compartilhar o que amamos com quem se ama.

Por isso minha relação com as pessoas não é, primeiramente, de um evangelista, mas de uma pessoa que se relaciona com a autenticidade que a relação exige. Com minha família, com irmãos na fé, com amigos ou colegas, quando escrevo ou quando falo, sou  o que sou embasado no que o Evangelho me ensina a ser. Claro que cada relação exige comportamentos e falas adequados às pessoas e aos diversos ambientes, mas nada em mim soa falso, do tipo que bate palmas, mas o pensamento ou o comentário posterior seja “que porcaria... que coisa chata!”. Não. Se não gosto, fico quieto ou, quando necessário, sou sincero em expressar minha opinião com quem não vai me interpretar mal. Se gosto, me regozijo e busco compartilhar.

Nenhum sentimento falso flui em mim se o percebo. Não permito e nem me agrado com quem é assim. Isso não quer dizer que eu seja perfeito. Quem o é? O aperfeiçoamento permeia o aprendizado de todos que trilham o Caminho verdadeiramente. Erros sim, falsidade não. Pessoas sinceras que simplesmente erram recebem coragem pra reconhecer onde erram e pedir perdão ao Senhor; os hipócritas não conseguem fazê-lo porque justificam o que fazem com seus propósitos. Se estes cumprem a finalidade do que aprendem e entendem que seja “de Deus”, seus atos e ensinos (mesmo que errôneos para os propósitos do Evangelho) são considerados necessários, logo, por que pedir perdão? Entendam o clamor do Reino: "Arrependei-vos...".

Às vezes, por delicadeza, somos obrigados a não expressar o que pensamos ou sentimos. Isso é bom enquanto não nos coloca como um "em cima do muro". Talvez  a minha opinião não interesse a muitos, mas quando dialogo com quem amo,  na maioria das vezes, as opiniões de ambos convergem para um cultivo de interação construtiva. O que falo está inteiramente adequado ao que creio como verdade apreendida do Evangelho de Jesus.


Aí é que o título deste post se encaixa: Chamo de “esquizoclérigo” - um termo que inventei para representar um tipo religioso doentio -  os cristãos, principalmente líderes denominacionais, que vivem algum desvio em suas personalidades. Ou seja, com este termo identifico todo cristão (sacerdote “nomeado” ou não- conf. 1Pe 2:8) que sofre de uma certa "esquizofrenia religiosa": pregam, mas não crêem; falam, mas não fazem; pedem, mas não doam; acham falso, mas dizem ser verdadeiro; falam mentiras com jeito de verdade (sofismas); encontram na lei o que pode coibir a liberdade da Graça e assim impõem pesado jugo; pulam e se alegram na igreja, mas tomam antidepressivos para dormir ou andam mal humorados em seus lares... 

A mentira religiosa vende a falsa autossuficiência cristã pela invocação de um deus-servo, com gritos, mantras, profetadas, maldições,"sacrifícios" com apelido de "o melhor pra Deus",  dá instruções da "autoajuda" (não-bíblicas) para que as pessoas possam vencer dívidas, doenças, desempregos, derrotar inimigos, obter carro e casa novos, riquezas e tudo que faz parte de uma prática hipócrita e que busca usar um “deus poderoso” disponível aos caprichos humanos, coisa que nem mesmo os pagãos se atrevem a ousar. Raros são os que verdadeiramente evocam a fé evangélica em prol de coisas que obedecem à vontade de Deus.
“Nenhum servo pode servir a dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” Lc 16:13

Inúmeros alertas de Jesus apontam para uma doença mental naqueles que desejam ser apenas “seguidores de Deus”. Esses não O conhecem nem desejam “prosseguir conhecendo o Senhor”. Muitos desses se proclamam  representantes dEle, mas nem sabem o que representam.

Muitos nem se tocaram que precisam acordar para a realidade do que seja Evangelho. Acham que a fantasia esotérico –evangélica propalada em milhares de templos seja a Verdade. São só seguidores de Deus, ou melhor, seguem a tudo que leva o nome de Jesus. Se o que seguem tem a ver com Evangelho, eles não sabem, deixam o discernimento para seus líderes, grande parte de “esquizos” e principais promotores dos erros desvirtudores de personalidades religiosas.

São verdadeiramente convertidos? Não o sei. Esse julgamento o Senhor o fará no Seu tempo. Cada um só pode responder por si mesmo. Eu sei a que fui chamado e o que o apóstolo Paulo diz: “...porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia- 2Tm 1:12.”  também norteia meu agir e pensar. "Examine-se o homem a si mesmo...".

A prática da mentira como percalço no relacionamento de cristãos já era alertada pelo apóstolo:

“Pelo que deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo, pois somos membros uns dos outros.” Ef 4:25
E o Apocalipse não a deixa de fora da lista de excluídos do ambiente do Reino:

“Ficarão de fora os cães, os feiticeiros, os adúlteros, os homicidas, os idólatras, e todo o que ama e pratica a mentira.” Ap 22:15
No entanto, considero a pior mentira aquela que vem das pregações, mensagens, artigos e livros que buscam  ensinar a mensagem do Evangelho e, na realidade, o que fazem é fomentar distúrbios psicológicos que dividem (do grego “esquizo”) a busca verdadeira que as pessoas intentam fazer ao se converterem. Por isso, cedo, a forma de agir passa a não representar aquilo que seja verdade concebida por suas almas.  Continuam aparentemente alegres, animadas, aplaudindo e dando “glória a Deus”, mas estão interiormente tristes, insaciadas e inseguras quanto à salvação de suas almas. E o pior: se culpam por não "vibrarem" interiormente com a vida cristã. Talvez a culpa esteja em não querer agir como "um bereano" e se contentar com pão velho servido na mesa do Senhor - quem lê entenda!

Um poema de Ulisses Tavares ilustra muito bem essa mutabilidade do ser  que nada tem de Evangelho:

"Esquizo 

Tem um cara dentro de mim 
Que faz tudo ao contrário: 
Não temo amar, ele se borra 
Sou esperto, ele é otário 
Não amolo ninguém, ele torra 
Acredito em tudo, ele é ateu 
Sou normal em sexo, ele tarado 
Agito sempre, ele fica parado 
sou bacana, ele escroto 
quem me faz infeliz e torto 
É sempre ele, nunca fui eu." 

                (Ulisses Tavares)

Assim como as pessoas que sofrem de patologias psíquicas precisam de ajuda para buscarem tratamento, assim também os esquizoclérigos  necessitam ser esclarecidos pela Luz do Evangelho para entenderem que ainda não encontraram o Senhor ou, se já foram encontrados, não estão caminhando com Ele. Ao contrário, parados dentro de alguma construção humana não vêm que o chamado e para "vir para fora" e se tornar Sua Eklésia. Ele é o Caminho e não a rodovia; Ele é a Verdade e não os sofismas; Ele é a Vida e não o sono de morte que o confinamento traz à alma humana. Ele verdadeiramente liberta a todos que se Lhe achegam.

Mas, como fazer para conscientizar as pessoas do engano que as assola, quando tendem a julgar os alertas como "enganos vindos do inferno" sem nem mesmo conferirem na Bíblia o que se diz?  Certos "estudiosos" porém, quando conferem o texto bíblico, usam lentes que dão foco às escrituras segundo seus próprios interesses. A forma como deseja manter sua "clientela" é  o molde da "sabedoria" que ele extrai para ensinar a quem o ouve.

Há uma urgência de genuínos pregadores do Evangelho. Como nas mensagens cristãs tem  havido engano , principalmente nos templos que optaram pela prosperidade material, com palavras que dizem ser Palavra, aplica-se aí também mais um alerta de Paulo denunciando a ausência de pregadores, não de quem só esteja disposto a falar do que Jesus fez e do que Deus pode fazer por cada um, mas sim, de caminhantes do Evangelho que não se envergonhem de nada, a não ser de dizer o que não fazem :
“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?”( Rm 10:14)
Pergunto-lhe então:

Não há quem pregue, quem ensine, quem viva o Evangelho para levar as pessoas a pensarem em “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor...” – Fl 4:8 – e assim serem libertas de jugos religiosos pesadíssimos?

Deixo a você a busca e o discernimento de resposta para isso.

Paz em Jesus “em quem não há mudança nem sombra de variação”.

Ocimar
Cabo frio-RJ

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Li e gostei...

No texto abaixo, o pastor Ricardo Gondim, da Igreja Betesda, expressa muito bem o pensamento liberto de clausuras que a fé cega impõe aos desavisados, ou melhor, aos erradamente instruídos (e quem não o foi, não é mesmo?).

Leia o texto e aproveite para refletir: em que se baseia a sua fé? Ela é um instrumento de imposição para que Deus aja a seu favor ou é sua certeza para salvação

"Repensando a fé  -  Ricardo Gondim


Certas coisas perderam ímpeto dentro de mim. Certas afirmações se esvaziam antes que alcancem o meu coração. Certas concepções já não fazem sentido quando organizo o meu dia.

Minha fé deixou de ser uma força dirigida a Deus que o induz a agir. Entendo fé como coragem de enfrentar a existência com os valores do Evangelho. Fé significa uma aposta; a verdade vivida e revelada por Jesus de Nazaré tornou-se suficiente para que eu encare as contingências do mundo sem me desumanizar. Fé não movimenta o Divino, mas serve de pedra de apoio onde me impulsiono para a deslumbrante (e perigosa) aventura de viver. 

Já não espero que uma relação com Deus me blinde de percalços. Não acredito, e nem quero, que Deus me revista com uma carcaça impenetrável. Acho um despautério prometer, em meio a tanto sofrimento, que uma vida obediente e pura gere segurança contra doenças, acidentes, violência.

 (...)

  Tanto no Antigo Testamento como no ministério terreno de Jesus, há relatos de que Deus se recusa a manipular ou coagir para trazer qualquer pessoa para si. Deus é amor e quem ama se torna vulnerável ao abandono. Um exemplo clássico vem do profeta Oséias que encarnou um repudio semelhante ao de Deus.

Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Mas, quanto mais eu o chamava mais eles se afastavam de mim (11.1).

No evangelho de Lucas, Jesus lamentou sobre a cidade de Jerusalém que, além de repetir o padrão de perseguir os profetas, o rejeitou:

Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram! (13.34).

Não acredito que, para os que cumprem ritos religiosos, a existência se transforme em céu de brigadeiro. Não imagino que, ao obedecer corretamente os mandamentos, o mar da vida deixe de ser arriscado.

Orar de olhos fechados, debulhar terços em rezas, pedir ajoelhado, fazer campanhas, interceder ferozmente nas vigílias, clamar aos gritos, nenhuma dessas expressões religiosas significa devoção, se contempla vantagens que outros mortais, que não fizerem o mesmo, não alcançarão. Considero-as puro clientelismo, vãs repetições, murros em ponta de faca, mistura de ilusão com esperança.

Assemelham-se ao esforço da tartaruga que sonha com as altitudes, mas se vê obrigada a respirar o pó da estrada.

(...) 

Já me indispus com grandes segmentos do mundo evangélico, mas não consigo calar. Por todos os lados, ouço clichês como se fossem afirmações piedosas de fé. Infelizmente, tais jargões cumprem o papel ideológico de afastar as pessoas da realidade, empurrando-as para o delírio religioso. Religião, nesse caso, não passa de ópio.

Soli Deo Gloria."

Leia na íntegra em: http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=61&sg=0&id=2163  


Obs do Blog: 

Os "(...)" foram colocados por mim (Ocimar) em trechos que necessitariam maiores explicações para que o leitor  não  duvide da fé que opera livremente em cada um que crê segundo as promessas declaradas na Palavra (conf. Mt21:22; 10:8; Tg1:6;5:14). 

Creio que a fé que opera milagres é incontestável diante de tantos testemunhos em nossos dias, além das declarações nas Escrituras onde a fé opera de forma inexplicável. O fluir do Espírito Santo  em cada um (segundo a medida da fé que Deus lhe concedeu) é que dita quando, onde e como ela deve ser invocada pelo que a tem. 

O que também me exaspera é a exploração dessa fé, que há verdadeiramente em milhões de corações, por inescrupulosos profissionais dos púlpitos, clérigos e missionários descaradamente aproveitadores e discípulos de Mamon. Esses buscarão sempre ensinar que Deus é um servo do Homem a espera de ordens para agir. Para Eles, a soberania de Deus só existe para os inimigos deles; a mesma não existe para aquele que "clama", o que é absolutamente inaceitável.

"De Deus não se zomba."

Ocimar
Cabo Frio-RJ 
 

domingo, 31 de janeiro de 2010

Pai nosso que está...em nossas casas –PARTE II

 

E, quando orardes, não sejais como os hipócritas, pois que apreciam orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem admirados pelos outros. Com toda a certeza vos afirmo que eles já receberam o seu galardão. Mateus 6:5


Mateus  escreve as palavras de Jesus sobre a comparação com os hipócritas  - falsos em seus propósitos santos – e com os pagãos (ou gentios) que eram abominados pelos judeus, tanto que não podiam entrar no Templo a não ser no lugar reservado para eles: no “pórtico chamado de Salomão”(At3:11) . Nessa comparação: “e quando orardes, não sereis como...”, Jesus instrui sobre a simplicidade e autenticidade que o Pai deseja de Seus filhos. Cada frase da oração ensinada por Jesus derrubava uma crença judaica originada do ensino errôneo dos escribas e dos fariseus:

PAI NOSSO QUE ESTÁS NOS CÉUS...

Era inconcebível que os judeus chamassem ao Deus do céu de “Pai”. No aramaico  a palavra “aba”-  transcrita na Bíblia como “Pai” - significava “paizinho”, denotando uma intimidade e uma comunicação carinhosa, no que se referia a Javé com os homens, jamais admitida pela austeridade do ensino farisaico .

Jesus, em Sua parábola dos talentos denuncia tal austeridade, hipócrita e inútil, pelas palavras daquele que havia escondido o seu talento na terra (Mt25:26-30). Assim também, todos os que não conhecem verdadeiramente o Pai, mas se apresentam aos homens como  os “únicos” representantes dEle na terra, podem ter igual destino.

Em outras palavras, Jesus diz aqui “o Pai que está nos céus não é Pai só dos judeus, que nem O chamam assim, mas é Pai de todo aquele que O busca, até mesmo dos gentios”. Por isso o Pai é nosso e não apenas “meu”. E por ser “nosso” não quer significar posse do Nome, mas que está no meio de nós, operando, salvando, curando e libertando a todos quantos crerem no Seu Filho.

SANTIFICADO SEJA O  TEU  NOME; VENHA O TEU REINO...

Através de todos os que são Seus discípulos, o reino de Deus vai se expandindo sobre a terra efetivamente nos corações verdadeiramente livres pela liberdade do Filho. A santidade do Nome de Deus não se pode alcançar com um “reino” que não está entre nós. Os judeus, que nem mencionavam o nome verdadeiro de Deus, também não tinham parte em Seu reino embora fossem prioritariamente convidados (conf.Jo1:11). 

Separados dos objetivos do mundo entramos como herdeiros celestiais de tudo quanto a vida eterna nos oferece já, da mesma forma como a Vontade do pai se faz em nós como no céu é feita.

O PÃO NOSSO DE CADA DIA DÁ-NOS HOJE.

A preocupação demasiada com o bem-estar familiar, além das riquezas e posses materiais serem representantes do pensamento judaico do que fosse “abençoado” , apresentava um pensamento ansioso “pelo dia de amanhã”. Contra tal estado mental, Jesus ilustra com diversos ensinos de que Deus está no controle das necessidades de Seus filhos (Mt 6:19:21; 7:11; 19:16-29; Lc12:13-34 dentre muitos outros). 

Nosso tesouro não está nesse mundo. Aqui ele enferruja , se corrói e pode ser roubado. Utilizamos as posses desse mundo para alcançar os objetivos primordiais em nossas vidas: cumprir a Vontade do Pai. Para isso não existem regras a não ser as orientações de Sua própria Palavra. Coisas paralelas podem ser até escritas para auxílio dos que querem prosseguir no Caminho, mas jamais terão tal autoridade de orientação espiritual como muitos querem que a literatura cristã tenha.

Deus trata com cada um e revela a cada um, individualmente, a Sua Vontade expressa por Sua Palavra. Ele mesmo, por Seu Espírito, nos impulsiona a agir de acordo com a bondade, a justiça e a misericórdia que emanam dEle para nós.

PERDOA NOSSAS DÍVIDAS...

O Ano do Jubileu (Lv 25), no qual todo judeu era convocado a perdoar as dívidas dos que lhes deviam, foi aos poucos sendo negligenciado por uma nação cada vez mais avarenta. As razões de Deus para a instituição do Jubileu se expressam na própria declaração de Jesus aos fariseu que davam o dízimo mas não cumpriam o principal da escritura (conf.Mt23:23) :

Por justiça:


“Conforme o número de anos desde o jubileu é que comprarás ao teu próximo, e conforme o número de anos das colheitas é que ele te venderá. Quanto mais forem os anos, tanto mais aumentarás o preço, e quanto menos forem os anos, tanto mais abaixarás o preço; porque é o número das colheitas que ele te vende.”  (Lv 25:15,16)


Por misericórdia:

“Nenhum de vós oprimirá ao seu próximo; mas temerás o teu Deus; porque eu sou o Senhor vosso Deus. Pelo que observareis os meus estatutos, e guardareis os meus preceitos e os cumprireis; assim habitareis seguros na terra. Ela dará o seu fruto, e comereis a fartar; e nela habitareis seguros. (Lv 25: 17-19)


Por fé:


Se disserdes: Que comeremos no sétimo ano, visto que não haveremos de semear, nem fazer a nossa colheita? Então eu mandarei a minha bênção sobre vós no sexto ano, e a terra produzirá fruto bastante para os três anos.” (Lv 25: 20,21)


Sabendo que Deus proverá toda necessidade, desde que trabalhemos e pratiquemos os atos de justiça, misericórdia e fé que permeiam Sua Palavra, por que então devemos viver ansiosos pelo dia de amanhã? Isso implica também não estarmos ansiosos por nossa salvação, pois somos eternamente perdoados enquanto crermos no Deus de perdão. 

Cheios de perdão, somos livres para perdoar. E é sintomático: quanto mais nos sentimos perdoados, mais perdoamos o nosso próximo.

“Só Deus pode perdoar pecados” era o pensamento cauterizado que Jesus intencionava extirpar com “como nós perdoamos...”. 

O judeu se preparava sempre para exercer o pedido de perdão através de seus sacrifícios anuais. Enquanto fazia isso, em sua mente poderia permanecer toda ira, angústia e pensamentos opressores contra pessoas que lhe haviam ofendido, ou que lhe deviam dinheiro, o que não o tornava livre após a execução do ato de sacrifício feito pelo sacerdote no templo. Ele cumpria a lei, mas na verdade não era perdoado. Podia não estar mais com  o peso do pensamento da culpa - que na verdade era substituído pelo pensamento do "dever cumprido" - porém, o esquecimento da ofensa não havia sido liberado por Deus devido ao seu estado hipócrita de ser e fazer as coisas. A dívida continuava escrita nos céus.

Jesus simplifica a coisa toda: “olha aqui, entra no seu quarto com o coração contrito para pedir o perdão do Pai que te escuta em secreto. Não precisa de muitas palavras nem vãs repetições ,como os fariseus e os pagãos o fazem, mas de um verdadeiro arrependimento por ser infinitamente incapaz de agradar a Deus, usufruindo de Sua Graça perdoadora, e uma disposição em esquecer as ofensas que lhe fizeram até ali". 

Livre de toda acusação contra seu semelhante, você sairá livre do seu quarto, até na próxima vez que sentir necessidade desse contato libertador.  É a simplicidade que eliminava as ordenanças de tão elaborado e custoso  ritual no templo, transportando-o em singeleza para a humildade do nosso quarto, que torna a proposta de Jesus tão verdadeira e satisfatória, ao mesmo tempo aterradora para aqueles que sobreviviam do templo.

Bem, isso não seria possível de ser tão "simples" assim não fosse o sacrifíco vicário de Jesus:

 "...e a vós, quando estáveis mortos nos vossos delitos e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-nos todos os delitos; e havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz; e, tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou na mesma cruz." Cl 2:13-15


Quando congregamos para orarmos juntos deveriamos ser motivados pela mesma razão de fé: buscarmos juntos, em nome de Jesus, o perdão do Pai, perdoando-nos uns aos outros. E Jesus nos dá a certeza do alcance de tal propósito: “...ali eu estarei.” (Conf. Mt 18:20).

NÃO NOS DEIXES CAIR EM TENTAÇÃO...

Os cristãos primitivos, enquanto o Templo de Jerusalém ainda estava de pé, aprenderam que sua função naquele lugar era o de ir buscar perdidos. Por isso seus encontros eram no pórtico de Salomão (conf. Jo10:23; At3:11; 5:12).

Quando “Pedro e João subiam ao templo à hora da oração, a nona” - período em que se ofereciam sacrifícios vespertinos (às três horas da tarde) - estavam entrando pela porta do templo chamada Formosa que dava passagem entre o pátio dos gentios e o das mulheres. Certamente os dois não estavam levando qualquer sacrifício, mas estavam ali para que Deus operasse por suas vidas. Isso de fato ocorreu na cura de um coxo e, por causa disso, Pedro fez uma grande pregação no Pórtico de Salomão que, embora tenha culminado na prisão de ambos, resultou em milhares de convertidos:


 "Muitos, porém, dos que ouviram a palavra, creram, e se elevou o número dos homens a quase cinco mil."At 4:4

 Esse era o verdadeiro motivo deles subirem "ao templo na hora da oração”. No entanto isso tem sido pregado como se fosse um ritual diário dos discípulos. Ensinando assim é demonstrado a falta de conhecimento que faz o povo perecer.

Eles já estavam livres e o Espírito Santo operava com poder e glória. Assim também  um Pedro liberto dos grilhões pelo poder de Deus foi se encontrar com um grupo (a igreja) que se encontrou para orar na casa de João Marcos, o que apresenta-nos o propósito intercessório de corações que amam. Não há qualquer instrução para que todos se reunissem obrigatoriamente naquela casa, nem se ensina nas Escrituras que só através das orações feitas ali é que Deus operava.

 Por que relutamos então em ver os milhares de templos cristãos espalhados pelo mundo afora como simples lugares onde podemos nos juntar em maior número para orar buscando o perdão do pai (o verdadeiro sentido de adorar) enquanto cultivamos o sentimento de mútuo perdão, intercedemos pelos salvos e não salvos e aprendemos a sabedoria do Senhor em Sua Palavra? 

Ali, na maravilhosa sensação de liberdade em Cristo, O louvaremos e falaremos entre nós “em salmos, hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no [nosso] coração sempre dando graças por tudo a Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-[nos] uns aos outros no temor de Cristo. (Ef5:19-21)

Tornar tais templos o centro desse perdão, erroneamente, é buscar ressuscitar as pedra do Templo que foram derrubadas no ano 70 d.C. pelo general Tito ao reprimir a revolta em Jerusalém; é desconsiderar a oração que o Senhor nos ensina.

 
Maior tentação de exercício de poder não há. Líderes cristãos no mundo inteiro, mesmo que ansiosos por verem seus liderados não errarem, querem se colocar entre o libertado e o Deus que o libertou. E fazem isso com imposição de estatutos, métodos, doutrinas humanas, supervalorizando as atividades templárias (hiperativismo eclesiástico), enquanto só bastaria o ensino da Palavra para quem estiver disposto em continuar livre. Chega-se ao cúmulo de se afirmar que “entre Deus e a igreja está o pastor, padre, bispo, apóstolo... por isso devemos obedecê-lo [cegamente]”. Quanto a esse tipo de afirmação... prefiro nem comentar.

Livra-nos Senhor de tal tentação que vem a nós e da tentação do outro sobre nós! Livra-nos do mal. Porque TEU ( e de mais ninguém)  é o Reino, o Poder e a Glória para sempre. Amém!

 Paz em Jesus que faz de nossas casas um lugar de encontro dos que O amam e que se amam, por isso se perdoam.

Ocimar
Cabo Frio/RJ