sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Temos que esperançar: Deus ainda não proferiu a Sua última palavra.



"A Ascensão de Jesus ao céu"
Esperançar não é esperar. Antes, significa que uma pessoa deve sustentar-se incentivada enquanto anima-se e age em prol do bem em si mesma e no próximo. No entanto, enquanto age, e se perde o foco das razões que a motivam, pode desmotivar-se  em meio a um mundo (sistema humano) que insiste em manifestar o mal em todas as suas formas - mesmo com inúmeros exemplos de grandeza do espírito humano quando este prima por fazer sempre o bem - o que pode  gerar pensamentos e sentimentos de desesperança em sua caminhada de fé e, então, perder a esperança.


Fé e desesperança não comungam. Nem como "água e óleo" convivem, pois não vivem num mesmo ambiente interior. Quem tem fé é inundado de esperança, logo anima-se continuamente enquanto age, reflete, indigna-se com a injustiça , luta e segue em frente. Não há qualquer contato com a desesperança.

A fé cristã é firmemente embasada na Ressurreição para a eternidade. Mas o quanto saber ou pensar nela nos traz revigor para viver e superar, em cada dia, seu próprio mal?

Toda a esperança que animava os discípulos de Jesus a segui-Lo pareceu desmoronar com as Sua crucificação e morte. Com a Sua Ressurreição eles retornaram para "novas orientações". E, com a Ascensão do Senhor aos céus, todos voltaram aos seus afazeres como se tudo estivesse terminado. O que mudara na realidade deles e do mundo à sua volta? Até que do alto foram "revestidos de poder", nada!

Quando vemos os relatos bíblicos sobre a Ressurreição e sobre a Ascensão aos céus, sem maiores reflexões, podemos julgá-las que são "apenas" eventos, importantes sim, mas eventos da vida do Senhor. Mas será que são apenas isso?


"Daqui a pouco Ele volta e tudo vai acabar" parecia ser o sintoma letárgico contagiante na igreja de Tessalônica, como Paulo alerta em sua carta:

Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs.(2 Tessalonicenses 3:10,11)


Sei, também, que o apóstolo Paulo escreveu que "se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé". Por isso, não venho aqui tornar este evento (a Ressurreição), marcante na missão terrena de Jesus, em algo de menor valor em seu significado e importância. Antes, Ressurreição e Ascensão são, ambos, parte de uma maravilhosa realização universal na obra redentora de Deus Pai, onde a pessoa dEle, Jesus Cristo, tornou-se carne para nos mostrar o Caminho a seguir e, pelo Seu Espírito, nos tornar parte agente de tal obra.

Prefiro vislumbrar e refletir com maior profundidade a Ascensão do Cristo do que a Sua Ressurreição porque:

Ao entender a ressurreição  erradamente eu a verei como um fim em si mesma e não como O começo do fim de tudo que seja contrário , no coração humano, ao fruto do amor, da fé e da esperança. Quando Jesus saiu do túmulo no jardim, ali tudo começou. O que antes era ação denunciadora, orientadora e convencedora de pecados e fraquezas, agora se tornara ação transformadora real e eterna de vidas, de almas e de corações, gerando a missão: Vá também!

Na minha concepção, olhar para a Ressurreição do Senhor me diz que a Sua obra redentora ainda continuará até e além da ordem final dEle e que a confiança nessa ação redentora e eterna deve ser o combustível da minha esperança em Jesus Cristo. A ideia errônea (ressurreição como um fim ) aponta, apenas, para minha própria superação do sofrimento. No entanto, na realidade divina, o sofrimento é aspecto humano e não eterno; é passageiro porque toda dor terá um fim com a última ordem de Deus e, assim, a sua e a minha dor desaparecerão já na morte e, além, na glorificação de nossa natureza carnal. 

Logo, a Ressurreição do Cristo não pode ter um significado que se encerra em mim mesmo, na minha própria e efêmera  natureza terrestre, material. E se a Ressurreição me mostra, não apenas, a superação humana sobre o medo da morte, mas, que também, pelo Seu Espírito em nós através da operação da fé, está em ação contínua para vivificar pessoas adoecidas e desesperançadas pelo medo e pela sensação de incapacidade de reagirem ao mal por achá-lo "mais poderoso " do que tudo o que receberam do Senhor, então ambos os eventos, a Ressurreição e a Ascensão do Senhor, apontam para uma única coisa que nos enche de vigor espiritual e de esperança (animar-se enquanto age): Deus ainda não proferiu a Sua ultima palavra! 

Toda a Sua plenitude em amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança ainda está por se manifestar. A Sua Ascensão e aparente silêncio após dois milênios anunciam isso. O Seu retorno por Seu Espírito, tão pouco percebido, para estar, até agora, em meio ao caos e ao sofrimento humano enquanto muitos e muitos já partiram nEle, ainda nos alerta: "Eu estou aqui convosco...ainda!"

Então, o Caminho se estende aí até ao horizonte, para tantos ainda desconhecido, dizendo para continuarmos a caminhada. Não como um ser autômato, cego e ineficaz no que se referir à produção de paz, benignidade e alegria no aqui e agora, mas que, por crer na Obra Redentora do Senhor Jesus e Cristo e saber que a Sua Palavra se cumprirá , a dúvida é lançada para longe, nos permitindo viver a  paz e a alegria dEle que em nós está!

Assim, na certeza de que vai dar tudo certo na perspectiva dEle, seremos revigorados continuamente em nossa luta contra o mal, em nós e no próximo. Quem duvidar verá, como os que creem.

Ocimar
Cabo Frio, 16/8/2019


Sobre "esperançar":

“Como insistia o inesquecível Paulo Freire, não se pode confundir esperança do verbo esperançar com esperança do verbo esperar. Aliás, uma das coisas mais perniciosas que temos nesse momento é o apodrecimento da esperança; em várias situações as pessoas acham que não tem mais jeito, que não tem alternativa, que a vida é assim mesmo… Violência? O que posso fazer? Espero que termine… Desemprego? O que posso fazer? Espero que resolvam… Fome? O que posso fazer? Espero que impeçam… Corrupção? O que posso fazer? Espero que liquidem… Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. E, se há algo que Paulo Freire fez o tempo todo, foi incendiar a nossa urgência de esperanças”  (Mário Sérgio Cortella).