terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Vós estais limpos!

"Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos."  Jo13:10

Certo dia me veio à mente um versículo de uma forma como geralmente sinto que Deus quer me dar um recado. Sentado no banco do nosso carro estacionado, olhando o horizonte muito iluminado e bonito, pensei : será que o Senhor ouve a oração de quem está tão fraquinho na "prática da religião" (e não na fé)? 


Sabe daquele jeito que você fica que já não ora com tanta frequência e nem fervorosamente; que já não faz parte daqueles círculos de oração semanais; não participa de subidas aos montes, de jejuns, da leitura da Palavra com assiduidade impecável, de cultos...do jeito que muita gente boa fica depois de tantas decepções com a estrutura religiosa erguida em nome de Jesus? Mas, uma coisa não cessa dentro de si: Senhor até quando?

Pois é, foi sobre esses que perguntei ao Senhor. Quando nos surpreendemos assim na caminhada da fé, logo pensamos: "será que o Senhor ouvirá a minha oração?" Foi então que ouvi a voz de Jesus em minha mente: "Vós estais limpos pela Palavra que eu vos tenho falado" (Jo 15:3).


O Espírito Santo conduziu minha mente até os tempos dos apóstolos e fez-me meditar. Imaginei como viviam na época em que Jesus iniciou seu ministério na Galiléia; o que não conseguiam fazer pela religião que professavam; o que possivelmente pensavam, e como eram vistos pelos demais judeus. Lembremos o que Natanael disse antes de ser apontado como um dos doze: " Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?" (Jo1:46).


Realmente aquele povo do norte de Israel não era bem visto pelo povo-irmão do sul. Não só porque aquela região estava numa área que tinha sido habitada pelos "contaminados" com outras nações no tempo do retorno do exílio assírio, mas lembremos que Jesus nasceu, viveu, pregou e foi crucificado durante o domínio de Roma sobre Israel. E a Galiléia era um dos primeiros contatos do exercito romano com aquela parte do império, logo o atendimento às suas necessidades de viagens, de alimento, banho e até mesmo sexuais, eram saciadas inicialmente naquela região.


Para o povo religioso e "exemplar" seguidor da lei, aquilo ofendia a Deus. Classificavam, então, qualquer pessoa que dali viesse, como "coisa ruim". Por isso Natanael se surpreende ao ouvir de Felipe: "Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José." (Jo 1:45)


Jesus, no entanto, nunca perdeu tempo pregando contra Roma, mas contra os "certinhos" desceu o chicote. Será que Ele era defensor de quem andava "errado"? De gentios que oprimiam o povo numa espécie de castigo dos céus para os “desviados” judeus? Que se colocava a favor de déspotas e tiranos megalômanos, como os césares, usados como instrumentos de Deus em Sua “punição” aos que “louvavam com a boca, mas o coração estava distante de Deus”?


Jesus, assim como o Pai, não tratou de história da humanidade. Seu foco era a libertação espiritual da escravidão que satanás imprime aos povos por diversas ideologias e paradigmas religiosos cativadores e inibidores da mente humana no reconhecimento do criador e doador da vida: Deus.

"Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos" [certinhos, cumpridores impecáveis de mandamentos, sem necessidade de misericórdia pois são auto suficientes no que fazem e buscam], "mas os pecadores, ao arrependimento" [ porque são fracos e necessitados da Misericórdia, e por se acharem assim não têm qualquer outro recurso a não ser o Pai sair em favor deles fazendo o que eles não podem, nem imaginam, fazer]. cf. Mateus 9:13
“Acautelai-vos, que ninguém vos engane... Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores...E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui... Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.” (Mateus 24:4; Mt 7:15; Lc 12:15; Lc 12:1).
Advertências, advertências e mais advertências para quem supunha estar dentro do Reino de Deus e não para quem está fora! Essa era a mensagem de Jesus contra os enganadores. Por mais que muitos não queiram, esses são chamados de “cães”. Não querendo ofender os cachorrinhos é claro, mas a busca de oportunidades de sobrevivência e a voracidade da disputa por um naco de carne colocam aqueles “devoradores de senhorinhas” na mesma condição de lastimável ignorância do poder de Deus e Sua Graça. É o que Isaías alerta:
“E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte.” Is 56:11
Não são assim as autoridades da lei que Jesus repreende?
“Guardai-vos dos escribas, que querem andar com vestes compridas; e amam as saudações nas praças, e as principais cadeiras nas sinagogas, e os primeiros lugares nos banquetes; Que devoram as casas das viúvas, fazendo, por pretexto, longas orações. Estes receberão maior condenação.” Lc 20:46,47
E ainda Paulo escreve: 
“Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão. Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne”  Fp 3:2
A hipocrisia que dominava a religião, que buscava mais a riqueza e seu próprio ventre do que o arrependimento e a verdadeira intercessão pelo povo, alijava os mais pobres, doentes, defeituosos, órfãos e viúvas do seio da prática religiosa. Como? Pela acusação: “vocês são impuros! Vão e se arrependam, depois voltem e veremos se são merecedores de perdão.” Você duvida que pensa(va)m assim as autoridades religiosas, dedicadas, fiéis e irrepreensíveis ao olhos do povo?

O que você me diz então dessas palavras de um grupo de fariseus a um cego de nascença liberto e curado por Jesus:
“Então alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles... Responderam eles, e disseram-lhe: Tu és nascido todo em pecados, e nos ensinas a nós? E expulsaram-no.” João 9
Tudo bem que não cressem que Jesus fosse realmente o Filho prometido, afinal picaretas podem surgir a qualquer momento ludibriando o povo (isso é verdade até para os dias de hoje) - embora eu creia firmemente que, ao primeiro contato com o olhar e as palavras do Senhor Jesus, o coração buscador sincero O reconhcesse como a promessa de Deus em cumprimento-  mas não reconhecer um milagre genuíno, nem  ao menos cogitar ser tal coisa um recado dos céus?!
O cego (agora não mais cego e enxergando tudo, até via o que os que viam não enxergavam), então, diz com todos os pingos o que eram aqueles “juízes auto-eleitos”: 
 "O homem respondeu, e disse-lhes: Nisto, pois, está a maravilha, que vós não saibais de onde ele é, e contudo me abrisse os olhos” (Jo 9:30).
É contra isso que o Senhor pregava: a obediência aos estatutos, interpretações da lei  e, igualmente, contra a negação do “principal da lei: a justiça, a misericórdia e a fé...” (Mt23:23).

O roubo, o engano, a mentira, altas taxas de impostos, além de dízimos e ofertas agradavam ao Sinédrio e à Roma. Assim é que colocavam um jugo muito pesado sobre os ombros do povo trabalhador e necessitado. Jesus veio então, substituir o jugo: 
"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mt11:28-30)
E sua pregação foi “limpando os ramos” da videira que já havia dado muito fruto em tempos de avivamento com Davi, com Neemias e Esdras, com Ezequias, Josafá, Josias e tantos outros na história de Israel que transformaram momentos de ignorância em louvor a Deus. Os ramos estavam secos quando Jesus chegou, precisavam ser limpos. E a palavra que Jesus lhes falou os limpou. Quantos? Doze, três mil, cinco mil, Jerusalém, Judéia, Samaria, confins da terra!

Jesus trouxe libertação aos cativos do pecado, da religião e da letra da lei que revela a morte. Imagine a pobreza e a incerteza das pessoas que não conseguiam cumprir o que lhes era ordenado; que criam ser o certo a fazer para estar “bem com Deus”. Dos altos impostos que lhes esvaziavam a despensa e a colheita não sobrava para a oferta de arrependimento nem dízimos para dividir com os sacerdotes (é isso mesmo gente, dividir! - cf.Dt 26:12ss). Os sacerdotes percebiam e lhes pesava a mão. Que se virassem, trabalhassem mais, porém o Templo não poderia deixar de receber a sua parte (os de hoje querem tudo e não dão nada!). "Era a lei! Deus proveria o que lhes faltasse" era o que podiam estar interpretando como "vontade de Deus".

Quando Deus proveu quem poderia libertá-los daquele jugo, as autoridades não creram. Era prejuízo crer. Mas Ele veio e libertou os cativos, com palavras, com ensino, com curas, com amor, poder e Graça. Aos que O seguiam não exigiu que cumprissem a lei, mas se submetessem à Graça. Todos os (pré)conceitos estavam sendo derrubados para que pudessem se dedicar ao que era real e verdadeiro: cooperação mútua para que ninguém passasse necessidade de coisas materiais, de alimento espiritual e de conforto para suas almas. Jesus iria de volta aos céus e à Sua Glória, mas deixava na terra a Sua herança que nem as "portas do inferno" (inveja, mentira, luxuria, idolatria...) conseguiriam derrubar. Isso não quer dizer que muitos hipócritas não se infiltrariam no seio dela, mas a Igreja Triunfante está preservada em seu anonimato, ou seja ninguém pode julgar e dizer: aquele é, aquele não é. Só o Senhor por Seu Espírito sabe, escolhe e instrui.

Os que Ele limpara pela Palavra continuariam sendo limpos e dando muitos frutos (que seriam novos ramos também limpos), porém, agora, pelo Seu Espírito que lhes enviara.

Então as palavras do apóstolo Paulo fazem sentido bem mais amplo:
 "Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus.” Gl 2:19.
Também faz sentido as palavras de Jesus no Getsêmani: 
"Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” Mc 14:38
Foi depois destas reflexões que percebi que é muito mais provável que o Senhor ouça quem se sinta fraco do que a quem se acha forte e inabalável na sua busca. 

Aos que se vêem no próprio espelho do cumprimento religioso, meus pêsames! Pelo quê? Por desejarem fazer da lei o juiz de sua alma e práticas, e, como sabem, quem está sujeito à ela (lei) e seu jugo, morrerá sob ela (Rm2). 

Mas lembre-se: na fraqueza da nossa carne encontramos a fortaleza e o poder de Cristo que “é tudo em todos”, salvação e vida eternas!
“Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte. E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.” 2Co 12:9,10

Paz em Jesus!

Ocimar – Um discípulo que encontrou o Mestre: Jesus!