domingo, 31 de janeiro de 2010

Pai nosso que está...em nossas casas –PARTE II

 

E, quando orardes, não sejais como os hipócritas, pois que apreciam orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem admirados pelos outros. Com toda a certeza vos afirmo que eles já receberam o seu galardão. Mateus 6:5


Mateus  escreve as palavras de Jesus sobre a comparação com os hipócritas  - falsos em seus propósitos santos – e com os pagãos (ou gentios) que eram abominados pelos judeus, tanto que não podiam entrar no Templo a não ser no lugar reservado para eles: no “pórtico chamado de Salomão”(At3:11) . Nessa comparação: “e quando orardes, não sereis como...”, Jesus instrui sobre a simplicidade e autenticidade que o Pai deseja de Seus filhos. Cada frase da oração ensinada por Jesus derrubava uma crença judaica originada do ensino errôneo dos escribas e dos fariseus:

PAI NOSSO QUE ESTÁS NOS CÉUS...

Era inconcebível que os judeus chamassem ao Deus do céu de “Pai”. No aramaico  a palavra “aba”-  transcrita na Bíblia como “Pai” - significava “paizinho”, denotando uma intimidade e uma comunicação carinhosa, no que se referia a Javé com os homens, jamais admitida pela austeridade do ensino farisaico .

Jesus, em Sua parábola dos talentos denuncia tal austeridade, hipócrita e inútil, pelas palavras daquele que havia escondido o seu talento na terra (Mt25:26-30). Assim também, todos os que não conhecem verdadeiramente o Pai, mas se apresentam aos homens como  os “únicos” representantes dEle na terra, podem ter igual destino.

Em outras palavras, Jesus diz aqui “o Pai que está nos céus não é Pai só dos judeus, que nem O chamam assim, mas é Pai de todo aquele que O busca, até mesmo dos gentios”. Por isso o Pai é nosso e não apenas “meu”. E por ser “nosso” não quer significar posse do Nome, mas que está no meio de nós, operando, salvando, curando e libertando a todos quantos crerem no Seu Filho.

SANTIFICADO SEJA O  TEU  NOME; VENHA O TEU REINO...

Através de todos os que são Seus discípulos, o reino de Deus vai se expandindo sobre a terra efetivamente nos corações verdadeiramente livres pela liberdade do Filho. A santidade do Nome de Deus não se pode alcançar com um “reino” que não está entre nós. Os judeus, que nem mencionavam o nome verdadeiro de Deus, também não tinham parte em Seu reino embora fossem prioritariamente convidados (conf.Jo1:11). 

Separados dos objetivos do mundo entramos como herdeiros celestiais de tudo quanto a vida eterna nos oferece já, da mesma forma como a Vontade do pai se faz em nós como no céu é feita.

O PÃO NOSSO DE CADA DIA DÁ-NOS HOJE.

A preocupação demasiada com o bem-estar familiar, além das riquezas e posses materiais serem representantes do pensamento judaico do que fosse “abençoado” , apresentava um pensamento ansioso “pelo dia de amanhã”. Contra tal estado mental, Jesus ilustra com diversos ensinos de que Deus está no controle das necessidades de Seus filhos (Mt 6:19:21; 7:11; 19:16-29; Lc12:13-34 dentre muitos outros). 

Nosso tesouro não está nesse mundo. Aqui ele enferruja , se corrói e pode ser roubado. Utilizamos as posses desse mundo para alcançar os objetivos primordiais em nossas vidas: cumprir a Vontade do Pai. Para isso não existem regras a não ser as orientações de Sua própria Palavra. Coisas paralelas podem ser até escritas para auxílio dos que querem prosseguir no Caminho, mas jamais terão tal autoridade de orientação espiritual como muitos querem que a literatura cristã tenha.

Deus trata com cada um e revela a cada um, individualmente, a Sua Vontade expressa por Sua Palavra. Ele mesmo, por Seu Espírito, nos impulsiona a agir de acordo com a bondade, a justiça e a misericórdia que emanam dEle para nós.

PERDOA NOSSAS DÍVIDAS...

O Ano do Jubileu (Lv 25), no qual todo judeu era convocado a perdoar as dívidas dos que lhes deviam, foi aos poucos sendo negligenciado por uma nação cada vez mais avarenta. As razões de Deus para a instituição do Jubileu se expressam na própria declaração de Jesus aos fariseu que davam o dízimo mas não cumpriam o principal da escritura (conf.Mt23:23) :

Por justiça:


“Conforme o número de anos desde o jubileu é que comprarás ao teu próximo, e conforme o número de anos das colheitas é que ele te venderá. Quanto mais forem os anos, tanto mais aumentarás o preço, e quanto menos forem os anos, tanto mais abaixarás o preço; porque é o número das colheitas que ele te vende.”  (Lv 25:15,16)


Por misericórdia:

“Nenhum de vós oprimirá ao seu próximo; mas temerás o teu Deus; porque eu sou o Senhor vosso Deus. Pelo que observareis os meus estatutos, e guardareis os meus preceitos e os cumprireis; assim habitareis seguros na terra. Ela dará o seu fruto, e comereis a fartar; e nela habitareis seguros. (Lv 25: 17-19)


Por fé:


Se disserdes: Que comeremos no sétimo ano, visto que não haveremos de semear, nem fazer a nossa colheita? Então eu mandarei a minha bênção sobre vós no sexto ano, e a terra produzirá fruto bastante para os três anos.” (Lv 25: 20,21)


Sabendo que Deus proverá toda necessidade, desde que trabalhemos e pratiquemos os atos de justiça, misericórdia e fé que permeiam Sua Palavra, por que então devemos viver ansiosos pelo dia de amanhã? Isso implica também não estarmos ansiosos por nossa salvação, pois somos eternamente perdoados enquanto crermos no Deus de perdão. 

Cheios de perdão, somos livres para perdoar. E é sintomático: quanto mais nos sentimos perdoados, mais perdoamos o nosso próximo.

“Só Deus pode perdoar pecados” era o pensamento cauterizado que Jesus intencionava extirpar com “como nós perdoamos...”. 

O judeu se preparava sempre para exercer o pedido de perdão através de seus sacrifícios anuais. Enquanto fazia isso, em sua mente poderia permanecer toda ira, angústia e pensamentos opressores contra pessoas que lhe haviam ofendido, ou que lhe deviam dinheiro, o que não o tornava livre após a execução do ato de sacrifício feito pelo sacerdote no templo. Ele cumpria a lei, mas na verdade não era perdoado. Podia não estar mais com  o peso do pensamento da culpa - que na verdade era substituído pelo pensamento do "dever cumprido" - porém, o esquecimento da ofensa não havia sido liberado por Deus devido ao seu estado hipócrita de ser e fazer as coisas. A dívida continuava escrita nos céus.

Jesus simplifica a coisa toda: “olha aqui, entra no seu quarto com o coração contrito para pedir o perdão do Pai que te escuta em secreto. Não precisa de muitas palavras nem vãs repetições ,como os fariseus e os pagãos o fazem, mas de um verdadeiro arrependimento por ser infinitamente incapaz de agradar a Deus, usufruindo de Sua Graça perdoadora, e uma disposição em esquecer as ofensas que lhe fizeram até ali". 

Livre de toda acusação contra seu semelhante, você sairá livre do seu quarto, até na próxima vez que sentir necessidade desse contato libertador.  É a simplicidade que eliminava as ordenanças de tão elaborado e custoso  ritual no templo, transportando-o em singeleza para a humildade do nosso quarto, que torna a proposta de Jesus tão verdadeira e satisfatória, ao mesmo tempo aterradora para aqueles que sobreviviam do templo.

Bem, isso não seria possível de ser tão "simples" assim não fosse o sacrifíco vicário de Jesus:

 "...e a vós, quando estáveis mortos nos vossos delitos e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-nos todos os delitos; e havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz; e, tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou na mesma cruz." Cl 2:13-15


Quando congregamos para orarmos juntos deveriamos ser motivados pela mesma razão de fé: buscarmos juntos, em nome de Jesus, o perdão do Pai, perdoando-nos uns aos outros. E Jesus nos dá a certeza do alcance de tal propósito: “...ali eu estarei.” (Conf. Mt 18:20).

NÃO NOS DEIXES CAIR EM TENTAÇÃO...

Os cristãos primitivos, enquanto o Templo de Jerusalém ainda estava de pé, aprenderam que sua função naquele lugar era o de ir buscar perdidos. Por isso seus encontros eram no pórtico de Salomão (conf. Jo10:23; At3:11; 5:12).

Quando “Pedro e João subiam ao templo à hora da oração, a nona” - período em que se ofereciam sacrifícios vespertinos (às três horas da tarde) - estavam entrando pela porta do templo chamada Formosa que dava passagem entre o pátio dos gentios e o das mulheres. Certamente os dois não estavam levando qualquer sacrifício, mas estavam ali para que Deus operasse por suas vidas. Isso de fato ocorreu na cura de um coxo e, por causa disso, Pedro fez uma grande pregação no Pórtico de Salomão que, embora tenha culminado na prisão de ambos, resultou em milhares de convertidos:


 "Muitos, porém, dos que ouviram a palavra, creram, e se elevou o número dos homens a quase cinco mil."At 4:4

 Esse era o verdadeiro motivo deles subirem "ao templo na hora da oração”. No entanto isso tem sido pregado como se fosse um ritual diário dos discípulos. Ensinando assim é demonstrado a falta de conhecimento que faz o povo perecer.

Eles já estavam livres e o Espírito Santo operava com poder e glória. Assim também  um Pedro liberto dos grilhões pelo poder de Deus foi se encontrar com um grupo (a igreja) que se encontrou para orar na casa de João Marcos, o que apresenta-nos o propósito intercessório de corações que amam. Não há qualquer instrução para que todos se reunissem obrigatoriamente naquela casa, nem se ensina nas Escrituras que só através das orações feitas ali é que Deus operava.

 Por que relutamos então em ver os milhares de templos cristãos espalhados pelo mundo afora como simples lugares onde podemos nos juntar em maior número para orar buscando o perdão do pai (o verdadeiro sentido de adorar) enquanto cultivamos o sentimento de mútuo perdão, intercedemos pelos salvos e não salvos e aprendemos a sabedoria do Senhor em Sua Palavra? 

Ali, na maravilhosa sensação de liberdade em Cristo, O louvaremos e falaremos entre nós “em salmos, hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no [nosso] coração sempre dando graças por tudo a Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-[nos] uns aos outros no temor de Cristo. (Ef5:19-21)

Tornar tais templos o centro desse perdão, erroneamente, é buscar ressuscitar as pedra do Templo que foram derrubadas no ano 70 d.C. pelo general Tito ao reprimir a revolta em Jerusalém; é desconsiderar a oração que o Senhor nos ensina.

 
Maior tentação de exercício de poder não há. Líderes cristãos no mundo inteiro, mesmo que ansiosos por verem seus liderados não errarem, querem se colocar entre o libertado e o Deus que o libertou. E fazem isso com imposição de estatutos, métodos, doutrinas humanas, supervalorizando as atividades templárias (hiperativismo eclesiástico), enquanto só bastaria o ensino da Palavra para quem estiver disposto em continuar livre. Chega-se ao cúmulo de se afirmar que “entre Deus e a igreja está o pastor, padre, bispo, apóstolo... por isso devemos obedecê-lo [cegamente]”. Quanto a esse tipo de afirmação... prefiro nem comentar.

Livra-nos Senhor de tal tentação que vem a nós e da tentação do outro sobre nós! Livra-nos do mal. Porque TEU ( e de mais ninguém)  é o Reino, o Poder e a Glória para sempre. Amém!

 Paz em Jesus que faz de nossas casas um lugar de encontro dos que O amam e que se amam, por isso se perdoam.

Ocimar
Cabo Frio/RJ 




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente livremente, mas evite menosprezar ou ofender a opinião alheia. O que importa aqui é o que você pensa sobre o assunto. Ninguém é dono da verdade. Jesus Cristo É a Verdade!