domingo, 31 de janeiro de 2010

Pai nosso que está...em nossas casas –PARTE I

“Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos seu discípulos.” Lc 11:1b
“Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.” Mt 6:6


Já se perguntou por que  a explanação de Jesus sobre a forma ideal de oração (aquela que é ouvida nos céus) é abordada por Lucas tão brevemente e por Mateus de forma tão detalhada (compare Mateus 6:1-15 e Lucas 11:1-4)?

Você encontra a resposta nos motivos que moveram cada um dos escritores bíblicos: 


Lucas ara grego e na introdução do seu evangelho fica claro a quem ele direciona sua narrativa sobre a vida e os feitos de Jesus aqui na terra: Teófilo, um alto oficial do império romano que, segundo historiadores, patrocinou a investigação acurada de Lucas acerca da vida de Jesus.


 Lembremos também que ele, Lucas, é quem escreve o livro de Atos: narrativa histórica, endereçada ao mesmo Teófilo, sobre o agir do Espírito Santo através dos discípulos de Jesus. Por isso ele registra a forma desimpedida com que o Espírito de Deus ampliava a obra que Jesus começara. Isso pode ser conferido em At2:47:  “...Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”  e no último versículo do livro de Atos quando ele usa os termos “sem impedimento algum” para a forma intrépida de Paulo pregar o reino e apresentar que é o Senhor que está no controle de Sua obra, não obstante os diversos obstáculos que o diabo promove para ela não se realizar.

Ambas as narrativas de Lucas serviram de material de instrução e conversão dos gentios, e, para isso, não importavam  os detalhes dos procedimentos litúrgicos e legais dos judeus com os quais os gentios não estavam a par.

Mateus, um judeu que escreve para o seu próprio povo, estava interessado em comparar amplamente os costumes religiosos judeus com as boas-novas de liberdade e intimidade com Deus (cujo nome até pronunciar era digno de repreensão) anunciadas por Jesus e seus discípulos.

Em Lucas, os discípulos tomam a iniciativa de querer saber como eles deveriam orar (11:1) porque Jesus estava constantemente se retirando para orar secretamente (sem estar escondido, mas longe das pessoas), e não o fazia numa sinagoga nem no Templo, ou mesmo nas praças. 


Em Mateus, a instrução é uma continuação das instruções do sermão das bem-aventuranças, mostrando como o evangelista tinha o entendimento de que a instrução sobre oração  era tão significante para constituição do reino de Deus entre os homens e derrubar determinados tabus da prática religiosa dos judeus.

Isso me faz lembrar que, ao longo da história da igreja, seus líderes sempre tiveram grande dificuldade em entender o lar como um ambiente celestial e o coração do discípulo como um altar do Espírito Santo aonde Deus vem e fala diretamente com aquele que O busca. Por isso sempre voltaram a fortalecer a idéia de templo, santuário, catedral como lugares de manifestação exclusiva de Deus aos homens. Tais lugares são divulgados como “lugar de manifestação da glória de Deus” da mesma forma que a “nuvem descia sobre o Tabernáculo” no deserto. Ao mesmo tempo que promovem o fortalecimento da autoridade da lei, anunciam que "Deus não habita em templo feito por mãos humanas...". Contraditório, não?

“Quando saía do templo, disse-lhe um dos seus discípulos: Mestre, olha que pedras e que edifícios! Ao que Jesus lhe disse: Vês estes grandes edifícios? Não se deixará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.” Mc 13:1,2

A relação vertical com o Pai não é “engolida" até nos dias de hoje pela liderança eclesiástica. Fala-se muito, entende-se pouco e não se deseja nada de tal relação para seus liderados. Por quê? Ela tira das mãos dos sedentos de poder a prerrogativa de contato com quem tem o poder sobre todas as coisas. Isso reforça a necessidade de um intermediário entre Deus e o povo. Exatamente como ocorria no tempo da lei. Fala-se o que está escrito (“cada um de nós é uma igreja...”), mas pratica-se o que o enganoso coração do homem deseja: centralização de poder.
“Fazei e obedecei, portanto, a tudo quanto eles vos disserem. Contudo, não façais o que eles fazem, porquanto não praticam o que ensinam..” Mt23:3
Lucas enfatiza o essencial da oração: o perdão necessário para andar com Deus, tanto dEle para nós quanto de nós para com o próximo, enquanto Mateus chama a atenção também para a forma como ela deve ser feita. Ele, Lucas, apresenta aos seus leitores a independência, ou antes, a eliminação do Templo como “centro de intercessão” de tal pedido de perdão para o povo. 


Isso impedia que o povo estivesse no Templo? Claro que não, mas lá iam com outros motivos como veremos adiante. Jesus enfatiza o lar ( na figura do quarto) por ser um lugar mais “secreto” possível (v.6), onde as pessoas tem liberdade de serem o que quiserem, mas também como um local onde “a nuvem de Deus desce” para fazer contato com a pessoa que O busca sem interferência de "estranhos" a essa relação.


 Através do novo nascimento (o espiritual), o convertido torna-se um sacerdote que adentra o Santo dos santos para falar com o Pai, analogamente como Jesus é nosso sumo sacerdote nos céus, diante do Pai, como sacrifício eterno para aproximação de todo aquele que crê (Hb 8).


Então qual o papel  do templo, dos edifícios  que costumamos chamar de igreja?

(continua...)


Ocimar
Cabo Frio-RJ

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