domingo, 11 de novembro de 2018


A fé que em ti há pode ser explicada?

PARTE II


"A Fé é a certeza...e a prova..."

(Paulo de Tarso?)


   Aos que não leram a parte I, é importante que saibam o contexto do diálogo, que aqui relato, lendo a primeira parte no post anterior. 

Parte I:
 http://ocimarferreira.blogspot.com/2018/11/a-fe-que-em-ti-ha-pode-ser-explicada.html?m=0



   Confrontado pela pergunta do meu amigo, "o que é fé?", quando lhe disse que não parecia que as pessoas tinham fé ao repetir "palavras de bênçãos" exigidas por ele, mas que era apenas um tipo de obediência cega, devolvi a pergunta:

- Você quer um conceito ou uma explicação?
- Tanto faz, não? A resposta bíblica na carta aos Hebreus (11.1), para mim, é a única satisfatória. Respondeu convicto.
- Sim. Mas o versículo ali é um conceito, não uma explicação, o que são coisas complementares e não a mesma coisa.
- Mas a fé não é a certeza de tudo o que esperamos que nos aconteça agora e no porvir e a prova de tudo que não podemos ver, como Deus por exemplo?
- Sim, mas sendo isso um conceito, não é uma explicação - insisti - e também podemos ter muitos outros conceitos, mas nenhum deles conseguiria explicar o que é a fé.
- Como assim?
- Tenho que fazer uma analogia: imagine que alguém lhe pergunte "o que é um ser humano?". Como cristão, você poderia dizer que é a obra máxima da criação de Deus, que pensa e fala, e por isso, além de ser capaz de criar, é também capaz de adorar, o que deve ser o maior de seus objetivos na vida.
- Boa explicação!
- Mas isso não é uma explicação. Insisti - Isso é a definição cristã simples para o que seja um ser humano em sua essência. 
   Continuei ante a sua atenção.
- Aí está dito tudo sobre você, quem você é ou quem você pensa que é? Seu jeito de ser, sua forma de pensar, como você vê as coisas, seu caráter e sua personalidade?
- Não está. Mas explica o ser humano na sua finalidade de existência. Disse ele.
- Pode até ser, mas você concorda que outras áreas do conhecimento poderiam apresentar outros conceitos? A Biologia, a Filosofia, a Sociologia e tantas outras, cada uma teria uma aparente explicação para o ser humano de forma geral, e isso não explicaria cada um, individualmente, não é mesmo?
-Concordo.
- Então, você também concordaria que eu poderia ter mais de sete bilhões de "explicações" para o que seja um ser humano, mesmo que um conceito servisse para todos?
- Pode ser.
- É isso o que vejo em "Hebreus 11.1" sobre a fé. Que ela (a fé) é certeza e prova. O autor não poderia explicar a fé individualmente, como ela é em cada um que a recebe. Ele só a menciona segundo sua origem: Deus É certeza e prova de Sua própria existência. Com isso, tudo o que esperamos nEle é fruto dessa certeza. Tal certeza é tamanha que nos leva a orar ao que não se vê, mas que, de alguma forma, se faz presente e atento ao que se ora.
- Entendo. Disse M. reflexivo - mesmo assim, você não poderia negar a forma com que oramos lá dentro? Foi um ato de fé.
- Como você crê nesse poder, não posso negar. Mas tudo é uma questão de concordarmos ou não uns com os outros. Nós escolhemos  estarmos juntos para compartilharmos o mesmo exercício de fé. Ou seja, se alguém não compartilha das mesmas concepções sobre o assunto, eu não posso exigir que esteja caminhando ao meu lado. A não ser que as duas concepções possam coexistir harmoniosamente.
   Franzindo os cenhos, M. parecia estar indo além do que havia concebido sobre o assunto até o momento.
- Você está dizendo que cada um deve congregar segundo as suas próprias concepções, livremente, e não conforme a Bíblia orienta?
- E o que a Bíblia orienta? Perguntei sabendo que estávamos chegando no "x" da questão.
- Que não devemos deixar de congregar?
- Mas quem disse que o ajuntamento por concepções similares não é "congregar"? Não é assim que se formam as diversas denominações?
- Mas diz também que somos um só corpo, um só espírito em uma só fé...
- Possivelmente, você está querendo alegar a instrução de Paulo aos Efésios (4). 
   Abrindo o texto bíblico no celular, continuei:
- Interpretando o que ele diz aqui, ele chama a atenção para uma "Igreja Invisível" unida em um só corpo e um só Espírito: o de Jesus Cristo. Como o Senhor é Único, somente a fé nEle justificaria a profissão dessa fé publicamente, de uma forma similar: o batismo! Por isso, escreve: "um só Senhor, uma só fé e um só batismo" (v.5). Mas entendo que esse "batismo" signifique também o amor demonstrado publicamente, e ninguém demonstrou maior amor público, na cruz, do que Ele mesmo por nós, ninguém mais, o que torna o "batismo" dEle único. 
   Continuei com um sorriso no canto dos lábios:
- Isso, de certa forma, daria fim às brigas eclesiásticas sobre a forma de batismo. Sendo "um só" como poderiam ser tão diferentes entre os que professam a fé, não é mesmo? Mas entendendo que o de Jesus foi uma prova de amor única, não haveriam mais divergências a serem defendidas a "ferro e fogo", já que a crucificação não é a forma bíblica recomendada de manifestação da fé pelos cristãos.
- Cara, nunca eu tinha pensado nisso!
- E tem mais...
- O quê?
- Paulo reafirma aqui que a causa de tudo isso é a existência de um só Deus, a quem ele se refere como "Pai de todos" e, por isso, superior em autoridade e poder sobre toda criatura. E, também, que Ele intercede por todos, pois está em todos!
   Finalizando, continuei:
- Toda essa informação alude ao nível espiritual da questão. Nada é originado no nível humano, mas no Deus da fé!

- Mas o que isso tudo tem a ver com a "explicação da fé? Questionou M.
   Nesta altura, nos sentamos em um banco no pátio. Minha mãe atenta ao que falávamos, num silêncio de causar inveja aos falantes como nós, sentou-se ao meu lado. 
   Continuei a minha exposição e interpretação sobre Hebreus 11. 
- "Paulo", continuando o texto, enfatiza:"mas a graça foi dada a cada um de nós segundo o dom de Cristo" (v.7). Que graça e dom são estes? Perguntei.
- A salvação e a fé. Respondeu M. não muito seguramente. 
- Isso! E, como os deu a "cada um", são individuais. Paulo confirma que existem diferenças quando fala ainda sobre "medida de fé" e "até que todos cheguemos à unidade da fé..."

- Então ainda não congregamos sob uma fé única? Questionou-me surpreso.
- Com tantas divergências, meu amigo, não dava pra ter dúvida disso, não é? A fé, sendo única na sua origem, não o é no entendimento e nem na manifestação pelos seres humanos.
- Mas isso não é ruim - contestou - pois nos leva a reconhecer nossa imperfeição e nos fazer querer crescer até "à estatura de varão perfeito", não é?
- Vai depender de como queremos manifestar "a medida da fé" que recebemos de Deus. Lembra da parábola dos talentos? 
-Sim. O que tem?
- Cada um é livre para fazer o melhor com o dom que Deus lhe dá. Para Deus, uns acertam outros erram. No entanto, a religião, por concepções humanas errôneas, faz as pessoas quererem impor às outras a mesma compreensão e a mesma forma de fé. Os grupos se dividem por causa disso, mas continuam replicando a mesma coisa. Grupos religiosos, antes oprimidos, passam a ser opressores. As facções religiosas surgem para, aparentemente, fazerem diferente na forma, mas na essência não o fazem. A História está cheia de exemplos. 
- Mas se fizéssemos como você sustenta, cada um deveria ser uma igreja diferente. Logo, se todos se convertessem a Jesus Cristo, seríamos mais de sete bilhões de igrejas!
   Limitei-me apenas a olhar pra ele em silêncio. A ficha havia caído.
    M. continuou surpreso com algo que ele, há muito, já sabia:
- Cada cristão é mesmo uma igreja!
- Não é isso que dizem o tempo todo nos púlpitos das igrejas?
- É. Assentiu.
- Então? O problema é que não se entende o que seja isso e não se respeita a "igreja" que o outro é.
- Verdade.

   Naquele ponto, eu achei que já era hora de encerrar o assunto. Tem certas coisas que desejamos ensinar (ou aprender) que é melhor que falemos até certo ponto. O restante fica por conta da reflexão e meditação espiritual. Além disso, Minha mãe estava cansada.

 Então nos despedimos e, me dando um forte abraço, M. falou:

- Te amo, meu amigo!
- A recíproca sempre será verdadeira, meu querido irmão! Que Deus te abençoe e que aumente a sua fé.
- Amém.
   Ele despediu-se da minha mãe e foi em direção à igreja enquanto saíamos à rua. Olhei pra minha mãe e falei, de certa forma, buscando algum tipo de consentimento com o que eu havia falado.
- E aí, mãe?!
   Ela, se sustentando no meu braço enquanto caminhávamos, falou baixinho:
- Minha fé me diz que devo continuar no meu grupo de oração mesmo. Lá, o povo grita também, cada um fala com Deus do jeito que achar melhor, impomos as mãos, mas ninguém diz pro outro o que tem que falar não. No máximo a gente ora pelos pedidos que nos fazem. Falar com Deus é uma coisa muito pessoal. Não gostei disso que fizeram aqui não, filho. Quero me sentir livre pra adorar o Deus que eu creio. Lá na glória a gente vai saber como é que a gente devia fazer pra agradar completamente o Senhor. Por enquanto, fazemos o que Ele nos direcionar em nosso espírito.

- Amém, mãe! É isso aí. Respondi sorrindo.

  Ela não comentou uma palavra do assunto da conversa com meu amigo. Mas, em poucas palavras, ela resumiu tudo o que havíamos concluído.
   Sabedoria e Fé não se comparam, muito menos as de mãe. 

Paz em Jesus Cristo, o Deus que nos liberta das amarras conceituais.

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