sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Temos que esperançar: Deus ainda não proferiu a Sua última palavra.



"A Ascensão de Jesus ao céu"
Esperançar não é esperar. Antes, significa que uma pessoa deve sustentar-se incentivada enquanto anima-se e age em prol do bem em si mesma e no próximo. No entanto, enquanto age, e se perde o foco das razões que a motivam, pode desmotivar-se  em meio a um mundo (sistema humano) que insiste em manifestar o mal em todas as suas formas - mesmo com inúmeros exemplos de grandeza do espírito humano quando este prima por fazer sempre o bem - o que pode  gerar pensamentos e sentimentos de desesperança em sua caminhada de fé e, então, perder a esperança.


Fé e desesperança não comungam. Nem como "água e óleo" convivem, pois não vivem num mesmo ambiente interior. Quem tem fé é inundado de esperança, logo anima-se continuamente enquanto age, reflete, indigna-se com a injustiça , luta e segue em frente. Não há qualquer contato com a desesperança.

A fé cristã é firmemente embasada na Ressurreição para a eternidade. Mas o quanto saber ou pensar nela nos traz revigor para viver e superar, em cada dia, seu próprio mal?

Toda a esperança que animava os discípulos de Jesus a segui-Lo pareceu desmoronar com as Sua crucificação e morte. Com a Sua Ressurreição eles retornaram para "novas orientações". E, com a Ascensão do Senhor aos céus, todos voltaram aos seus afazeres como se tudo estivesse terminado. O que mudara na realidade deles e do mundo à sua volta? Até que do alto foram "revestidos de poder", nada!

Quando vemos os relatos bíblicos sobre a Ressurreição e sobre a Ascensão aos céus, sem maiores reflexões, podemos julgá-las que são "apenas" eventos, importantes sim, mas eventos da vida do Senhor. Mas será que são apenas isso?


"Daqui a pouco Ele volta e tudo vai acabar" parecia ser o sintoma letárgico contagiante na igreja de Tessalônica, como Paulo alerta em sua carta:

Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs.(2 Tessalonicenses 3:10,11)


Sei, também, que o apóstolo Paulo escreveu que "se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé". Por isso, não venho aqui tornar este evento (a Ressurreição), marcante na missão terrena de Jesus, em algo de menor valor em seu significado e importância. Antes, Ressurreição e Ascensão são, ambos, parte de uma maravilhosa realização universal na obra redentora de Deus Pai, onde a pessoa dEle, Jesus Cristo, tornou-se carne para nos mostrar o Caminho a seguir e, pelo Seu Espírito, nos tornar parte agente de tal obra.

Prefiro vislumbrar e refletir com maior profundidade a Ascensão do Cristo do que a Sua Ressurreição porque:

Ao entender a ressurreição  erradamente eu a verei como um fim em si mesma e não como O começo do fim de tudo que seja contrário , no coração humano, ao fruto do amor, da fé e da esperança. Quando Jesus saiu do túmulo no jardim, ali tudo começou. O que antes era ação denunciadora, orientadora e convencedora de pecados e fraquezas, agora se tornara ação transformadora real e eterna de vidas, de almas e de corações, gerando a missão: Vá também!

Na minha concepção, olhar para a Ressurreição do Senhor me diz que a Sua obra redentora ainda continuará até e além da ordem final dEle e que a confiança nessa ação redentora e eterna deve ser o combustível da minha esperança em Jesus Cristo. A ideia errônea (ressurreição como um fim ) aponta, apenas, para minha própria superação do sofrimento. No entanto, na realidade divina, o sofrimento é aspecto humano e não eterno; é passageiro porque toda dor terá um fim com a última ordem de Deus e, assim, a sua e a minha dor desaparecerão já na morte e, além, na glorificação de nossa natureza carnal. 

Logo, a Ressurreição do Cristo não pode ter um significado que se encerra em mim mesmo, na minha própria e efêmera  natureza terrestre, material. E se a Ressurreição me mostra, não apenas, a superação humana sobre o medo da morte, mas, que também, pelo Seu Espírito em nós através da operação da fé, está em ação contínua para vivificar pessoas adoecidas e desesperançadas pelo medo e pela sensação de incapacidade de reagirem ao mal por achá-lo "mais poderoso " do que tudo o que receberam do Senhor, então ambos os eventos, a Ressurreição e a Ascensão do Senhor, apontam para uma única coisa que nos enche de vigor espiritual e de esperança (animar-se enquanto age): Deus ainda não proferiu a Sua ultima palavra! 

Toda a Sua plenitude em amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança ainda está por se manifestar. A Sua Ascensão e aparente silêncio após dois milênios anunciam isso. O Seu retorno por Seu Espírito, tão pouco percebido, para estar, até agora, em meio ao caos e ao sofrimento humano enquanto muitos e muitos já partiram nEle, ainda nos alerta: "Eu estou aqui convosco...ainda!"

Então, o Caminho se estende aí até ao horizonte, para tantos ainda desconhecido, dizendo para continuarmos a caminhada. Não como um ser autômato, cego e ineficaz no que se referir à produção de paz, benignidade e alegria no aqui e agora, mas que, por crer na Obra Redentora do Senhor Jesus e Cristo e saber que a Sua Palavra se cumprirá , a dúvida é lançada para longe, nos permitindo viver a  paz e a alegria dEle que em nós está!

Assim, na certeza de que vai dar tudo certo na perspectiva dEle, seremos revigorados continuamente em nossa luta contra o mal, em nós e no próximo. Quem duvidar verá, como os que creem.

Ocimar
Cabo Frio, 16/8/2019


Sobre "esperançar":

“Como insistia o inesquecível Paulo Freire, não se pode confundir esperança do verbo esperançar com esperança do verbo esperar. Aliás, uma das coisas mais perniciosas que temos nesse momento é o apodrecimento da esperança; em várias situações as pessoas acham que não tem mais jeito, que não tem alternativa, que a vida é assim mesmo… Violência? O que posso fazer? Espero que termine… Desemprego? O que posso fazer? Espero que resolvam… Fome? O que posso fazer? Espero que impeçam… Corrupção? O que posso fazer? Espero que liquidem… Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. E, se há algo que Paulo Freire fez o tempo todo, foi incendiar a nossa urgência de esperanças”  (Mário Sérgio Cortella).


domingo, 12 de maio de 2019

Crescer na Graça: subindo escadas ou compartilhando ambientes do conhecimento?

Entardecer na Praia de Manguinhos - Búzio-RJ*


"...até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo." (Efésios 4:13)






Tenho refletido , há algum tempo, sobre a "escada da ascensão" em direção ao pleno conhecimento da Graça do Cristo, o Filho do Deus Vivo. Seguir crescendo "até à estatura completa" dEle, ou seja, "a de homem perfeito", parece um fato espiritual incontestável no meio religioso. O problema está na necessidade humana de impor um sentimento de superioridade pela busca e conhecimento "alcançados". Isso não só ocorre no cristianismo, mas também em outras religiões e em segmentos acadêmicos. Ou seja, também aí, a "igreja" tem imitado mundo.

Tal problema se abastece na compreensão do próprio ambiente de busca e aprendizagem, o qual tem imposto esse status de superioridade à medida que se "sabe mais" na "escalada" do conhecimento. 

Que o Novo Testamento nos aponta um ponto de chegada quanto ao conhecimento do Cristo em nós é incontestável. Mas quanto a isso significar que eu chegarei antes de outros merece maior reflexão à luz do texto bíblico.

No capitulo 4 da carta aos Efésios, diversos olhares interpretativo podem (co)existir. Segundo o que passo a interpretar na reflexão sobre a fé que foi dada à Igreja (a invisível),  torna-se muito significativa a parte inicial do versículo 13: "Até que todos cheguemos à unidade da fé...".

Claro que, se eu imaginar uma escada ascendendo a patamares superiores  até contemplarmos a Revelação final do Cristo de forma universal (não na forma individual), posso imaginar um buscador sendo revelado após o outro. Isso porque o último degrau antes do próximo patamar receberia um buscador de cada vez por uma escada estreita. Mas também posso imaginar uma escada mais larga onde diversos buscadores, mundo afora, chegassem, ao mesmo tempo, ao próximo patamar da graça e do conhecimento da Revelação em Cristo.

Esta última interpretação vincula a mente do leitor bíblico diretamente ao que o Senhor explica sobre "a porta estreita e o caminho apertado" em Mateus 7:13,14 e, assim, a mente do leitor rejeita a ideia de "escada larga" imediatamente

Mas em Mateus 7 o contexto é diferente do que podemos ver em Efesios 4: No primeiro contexto , o Senhor alerta sobre os diversos espaços religiosos, que atraem e ajuntam multidões, não serem o ideal para a busca quase que solitária do entendimento da Verdade ("Quando Jesus acabou de dizer essas coisas, as multidões estavam maravilhadas com o seu ensino, porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os mestres da lei"- vv 28,30). Enquanto que, no segundo, o apóstolo Paulo esclarece que a busca do conhecimento do Senhor, para o crescimento na Sua Graça, denota uma vivência pessoal na fé, em ambientes interiores e exteriores, que ampliam a consciência do buscador rumo à Graça plena do Cristo. Por isso, aqui, Paulo finaliza o capítulo com recomendações para as observações que poderão ser feitas em uma "nova pessoa" quando ocorrer tal transformação da sua consciência e, consequentemente, das ações objetivas de quem busca o conhecimento :

"E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade. Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros .Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo..." (Ef 4:24-27).

Abrindo um parêntese, observe que o autor, aqui, não diz que mudando sua atitude você ascenderá ao conhecimento do Cristo, mas por ter alcançado tal graça (ele diz "por isso...") suas atitudes refletirão tal revelação. No entanto, também o esforço individual em querer ser como o Cristo o ajudará no vislumbre da Revelação, "elevando-o " a uma situação interior melhor do que antes sua alma se encontrava. E é a isso que temos chamado de "próximo patamar". Então, buscar mudar atitudes imitando quem verdadeiramente já o faz, mostra boas intenções de um coração a ser revelado na graça. Mas sabemos que as aparências também enganam.

Fechado o parêntese e voltando ao meu objetivo na reflexão dos ambientes de revelação, busco eliminar a falsa sensação de superioridade imposta pela interpretação de "patamar superior" e "ascensão" ao subir uma suposta escada do conhecimento. O início do versículo 13 de Efésios 4 faz menção a "que todos cheguemos à unidade da fé..." e não aponta a forma objetiva de como ali chegaremos.

Pensemos então numa outra metáfora da "ascensão" do conhecimento em nós, agora podendo ser entendida tanto individual como coletiva:

Ao entrar em um cômodo com quatro portas, uma em cada parede, excetuando-se a porta em que se encontra, você terá três opções para continuar sua caminhada. Imagine que o número de ambientes com portas são incomensuráveis e você não tem noção completa do todo (só o teria quem olhasse todos os ambientes de cima). 

Se eu puder dar a esse ambiente a conotação de "ambiente coletivo de revelação"**, minha escolha da porta (aparentemente ao acaso, pois todas as portas são iguais e desconhecido é o que está além dela) me levará a um outro ambiente revelador. No entanto, outros buscadores poderão  sair daquela porta que eu escolher e entrar por aquela que eu já havia deixado pra trás. Como não tenho noção do todo e só poderei refletir o que já apreendi, me cabe apenas prosseguir conhecendo. 

Com essa reflexão, em ambientes com portas em vez de escada para a ascensão espiritual, me percebo mais inserido numa busca coletiva, embora eu entenda que as percepções e aprendizados em cada ambiente sejam individuais. O rumo a ser seguido e a porta a ser aberta passa a ser uma ação pessoal. No entanto, muitos outros buscadores podem também ser encontrados tanto no próximo ambiente como no que eu agora esteja.

De certa forma, conhecer algo que outro já conheceu acerca do Cristo nos dá uma maravilhosa sensação de compartilhamento, e, quem sabe, antes de escolhermos a próxima porta, ainda poderemos estar juntos, num mesmo ambiente, trocando sensibilidades e informações. Isso poderá nos inspirar a seguir viagem, quem sabe, com maior certeza do que antes.

É assim que tenho percebido os momentos oportunos para conhecer o que Jesus Cristo está fazendo em cada um dos meus companheiros de jornada e em mim. Às vezes estamos num mesmo ambiente mental e espiritual compartilhando aprendizados e sensibilidades, às vezes partimos por portas diferentes, podendo encontrarmo-nos mais adiante ou ao lado. Às vezes, ao escolhermos uma porta, damos de cara com um ambiente que já passamos. Voltamos atrás e abrimos outra porta ou permanecemos ali porque outros que já haviam chegado necessitam de alguns momentos de compartilhamento por quem ali já esteve. E você fica. Mas temos que continuar abrindo portas, pois todos os ambientes inspirados a partir da fé no Cristo (e muitos não o são), o Filho do Deus Vivo, compõem a totalidade da Graça do Seu conhecimento. 

Achar que já chegamos ao ápice do que nos está reservado pela suprema sabedoria do Senhor, só porque nos sentimos plenamente agraciados, me parece "meninice" espiritual. Por isso, a sensação de compartilhar conhecimento com o próximo é semelhante ao saciarmos necessidades materiais, como alimento, roupa, remédios e visitação. Quem sabe seja tal sensação o impulso que esteja por trás de tantas pregações, ensinos e livros no mundo cristão. Infelizmente, assim como fariseus e saduceus introduziram "fermento" no ensino da justiça, da misericórdia e da fé, o melhor das escrituras segundo o próprio Jesus Cristo (cf. Mt 23:23), assim também, confundimos a sensação maravilhosa do compartilhamento com superioridade do conhecimento adquirido.

Para quem saiu da visão objetiva das quatro paredes do templo e contemplou, corretamente, a metáfora acima como ambientes transcendentais no Espírito Santo do Cristo, desejo-lhe o aniquilamento da sensação de superioridade do "mim mesmo" pela Glória do Senhor achada em seu atual ambiente de conhecimento e encontro com Ele.

Paz em Cristo Jesus!

Ocimar Ferreira
Cabo Frio-RJ.

*Foto: Entardecer na Praia de Manguinhos - Búzio-Rj. Por Everaldo e Fernanda, amigos de sempre (http://praiademanguinhos.blogspot.com/). A imagem nos remete ao Salmo 19, um silente ambiente de conhecimento do Deus Vivo!

**Aqui, o "conteúdo" consiste em participarmos, plenamente, da revelação do novo ambiente mental, emocional e espiritual. Claro que isso, para o cristão, só se justifica quando tal revelação provém do Espírito do Senhor e na condução do buscador, por ela, para a simplicidade do Evangelho do Cristo no Seu e para o Seu amor.

quinta-feira, 7 de março de 2019

Diakonia, um exercício missionário para cada convertido

Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. ( Marcos 12:30,31)

Aí acima está a logomarca de uma iniciativa que, juntamente com o meu "irmão de sangue-em-Cristo", o Everaldo Pedro, idealizamos para que fosse uma prática em nossas vidas: A Missão Diakonia!

Desde aquele tempo, decidimos que nós faríamos o que precisava ser feito em prol do outro, o próximo, não importando, para isso, se alguém mais desejaria juntar forças conosco. Com o tempo, passamos a formar uma "missão que ajuda missões". Muitos aderiram sem, no entanto, estarmos fisicamente juntos, mas nossas almas se entrelaçaram num só propósito: cada cristão, uma igreja no Caminho!

Essa iniciativa, em seu projeto inicial - o"Evangelismo Rural" que nunca chegou a ser colocado em prática - transformou-se na missão urbana que, hoje, ensinamos e vivemos. Graças ao Senhor Jesus Cristos muitos já se beneficiaram dessa iniciativa nesses 17 anos de práticas do que viríamos a saber que estava inserida no contexto da Teologia Latino-Americana da Missão Integral.

O desejo dos nossos corações é que cada cristão entenda, individualmente, que é um missionário do Senhor; que, coletivamente, faz parte de uma Igreja, a invisível, que não tem denominação e que, por causa disso comunga, não com religiosos, mas com todos os que têm o coração aberto aos ensinos do Senhor Jesus em sua fase final: a prática em favor daquele que necessita do outro.

Quem denomina tal prática de "ação social da igreja" faz o mesmo que entender a vida da igreja resumida a tudo o que se faz entre as quatro paredes de um templo. Tal nomenclatura não só nos causa aversão, pois gerou o comodismo "da tal cesta básica" na igreja denominacional, mas também nos mostra sentimentos distantes da real necessidade das pessoas injustiçadas pela construção social ao seu redor. Os adeptos da "ação social" pensam somente na "cesta básica para os pobres". Esses, foram doutrinados a entenderem que uma bolsa com material alimentício básico e algumas poucas palavras extraídas da Bíblia, ou de sua própria inspiração, sejam suficientes para abrandar a luta daquelas vidas necessitadas de abrigo, amizade, afeto, companheirismo, oportunidades de acesso profissional e orientação espiritual contínua por um "amigo constante" que esteja periodicamente, senão diariamente, levando Jesus Cristo àquela casa, àquela família, àquela vida. Isso é o serviço em prol do reino de Jesus Cristo. O resto? São meros movimentos humanos em prol de nós mesmos, com raras exceções.

Servir está no âmago da fé de quem a entendeu como um selo e uma promessa: filhos de Deus e salvos da força do pecado, destruidor de vidas, para a maravilhosa Luz de Cristo, para refletir Jesus Cristo e fazê-lo conhecido em ação entre os homens. Ou será que as palavras escritas em Hebreu 12:14-17  e Tiago 2:14-17 não significam isso?

Nossa dica para todo aquele que se converteu verdadeiramente à fé no Senhor Jesus Cristo, ou seja, que deseja ser um missionário do Senhor, é: como meta de vida em Deus, esforce-se para fazer de alguém que te foi apresentado pela vida em Jesus Cristo uma pessoa amiga, cheia de fé, mas também um SERVO no Senhor como você se tornou ou deseja se tornar. Esse é o amor do próximo que volta pra ti mesmo.

Paz na Diakonia de Deus!

domingo, 11 de novembro de 2018


A fé que em ti há pode ser explicada?

PARTE II


"A Fé é a certeza...e a prova..."

(Paulo de Tarso?)


   Aos que não leram a parte I, é importante que saibam o contexto do diálogo, que aqui relato, lendo a primeira parte no post anterior. 

Parte I:
 http://ocimarferreira.blogspot.com/2018/11/a-fe-que-em-ti-ha-pode-ser-explicada.html?m=0



   Confrontado pela pergunta do meu amigo, "o que é fé?", quando lhe disse que não parecia que as pessoas tinham fé ao repetir "palavras de bênçãos" exigidas por ele, mas que era apenas um tipo de obediência cega, devolvi a pergunta:

- Você quer um conceito ou uma explicação?
- Tanto faz, não? A resposta bíblica na carta aos Hebreus (11.1), para mim, é a única satisfatória. Respondeu convicto.
- Sim. Mas o versículo ali é um conceito, não uma explicação, o que são coisas complementares e não a mesma coisa.
- Mas a fé não é a certeza de tudo o que esperamos que nos aconteça agora e no porvir e a prova de tudo que não podemos ver, como Deus por exemplo?
- Sim, mas sendo isso um conceito, não é uma explicação - insisti - e também podemos ter muitos outros conceitos, mas nenhum deles conseguiria explicar o que é a fé.
- Como assim?
- Tenho que fazer uma analogia: imagine que alguém lhe pergunte "o que é um ser humano?". Como cristão, você poderia dizer que é a obra máxima da criação de Deus, que pensa e fala, e por isso, além de ser capaz de criar, é também capaz de adorar, o que deve ser o maior de seus objetivos na vida.
- Boa explicação!
- Mas isso não é uma explicação. Insisti - Isso é a definição cristã simples para o que seja um ser humano em sua essência. 
   Continuei ante a sua atenção.
- Aí está dito tudo sobre você, quem você é ou quem você pensa que é? Seu jeito de ser, sua forma de pensar, como você vê as coisas, seu caráter e sua personalidade?
- Não está. Mas explica o ser humano na sua finalidade de existência. Disse ele.
- Pode até ser, mas você concorda que outras áreas do conhecimento poderiam apresentar outros conceitos? A Biologia, a Filosofia, a Sociologia e tantas outras, cada uma teria uma aparente explicação para o ser humano de forma geral, e isso não explicaria cada um, individualmente, não é mesmo?
-Concordo.
- Então, você também concordaria que eu poderia ter mais de sete bilhões de "explicações" para o que seja um ser humano, mesmo que um conceito servisse para todos?
- Pode ser.
- É isso o que vejo em "Hebreus 11.1" sobre a fé. Que ela (a fé) é certeza e prova. O autor não poderia explicar a fé individualmente, como ela é em cada um que a recebe. Ele só a menciona segundo sua origem: Deus É certeza e prova de Sua própria existência. Com isso, tudo o que esperamos nEle é fruto dessa certeza. Tal certeza é tamanha que nos leva a orar ao que não se vê, mas que, de alguma forma, se faz presente e atento ao que se ora.
- Entendo. Disse M. reflexivo - mesmo assim, você não poderia negar a forma com que oramos lá dentro? Foi um ato de fé.
- Como você crê nesse poder, não posso negar. Mas tudo é uma questão de concordarmos ou não uns com os outros. Nós escolhemos  estarmos juntos para compartilharmos o mesmo exercício de fé. Ou seja, se alguém não compartilha das mesmas concepções sobre o assunto, eu não posso exigir que esteja caminhando ao meu lado. A não ser que as duas concepções possam coexistir harmoniosamente.
   Franzindo os cenhos, M. parecia estar indo além do que havia concebido sobre o assunto até o momento.
- Você está dizendo que cada um deve congregar segundo as suas próprias concepções, livremente, e não conforme a Bíblia orienta?
- E o que a Bíblia orienta? Perguntei sabendo que estávamos chegando no "x" da questão.
- Que não devemos deixar de congregar?
- Mas quem disse que o ajuntamento por concepções similares não é "congregar"? Não é assim que se formam as diversas denominações?
- Mas diz também que somos um só corpo, um só espírito em uma só fé...
- Possivelmente, você está querendo alegar a instrução de Paulo aos Efésios (4). 
   Abrindo o texto bíblico no celular, continuei:
- Interpretando o que ele diz aqui, ele chama a atenção para uma "Igreja Invisível" unida em um só corpo e um só Espírito: o de Jesus Cristo. Como o Senhor é Único, somente a fé nEle justificaria a profissão dessa fé publicamente, de uma forma similar: o batismo! Por isso, escreve: "um só Senhor, uma só fé e um só batismo" (v.5). Mas entendo que esse "batismo" signifique também o amor demonstrado publicamente, e ninguém demonstrou maior amor público, na cruz, do que Ele mesmo por nós, ninguém mais, o que torna o "batismo" dEle único. 
   Continuei com um sorriso no canto dos lábios:
- Isso, de certa forma, daria fim às brigas eclesiásticas sobre a forma de batismo. Sendo "um só" como poderiam ser tão diferentes entre os que professam a fé, não é mesmo? Mas entendendo que o de Jesus foi uma prova de amor única, não haveriam mais divergências a serem defendidas a "ferro e fogo", já que a crucificação não é a forma bíblica recomendada de manifestação da fé pelos cristãos.
- Cara, nunca eu tinha pensado nisso!
- E tem mais...
- O quê?
- Paulo reafirma aqui que a causa de tudo isso é a existência de um só Deus, a quem ele se refere como "Pai de todos" e, por isso, superior em autoridade e poder sobre toda criatura. E, também, que Ele intercede por todos, pois está em todos!
   Finalizando, continuei:
- Toda essa informação alude ao nível espiritual da questão. Nada é originado no nível humano, mas no Deus da fé!

- Mas o que isso tudo tem a ver com a "explicação da fé? Questionou M.
   Nesta altura, nos sentamos em um banco no pátio. Minha mãe atenta ao que falávamos, num silêncio de causar inveja aos falantes como nós, sentou-se ao meu lado. 
   Continuei a minha exposição e interpretação sobre Hebreus 11. 
- "Paulo", continuando o texto, enfatiza:"mas a graça foi dada a cada um de nós segundo o dom de Cristo" (v.7). Que graça e dom são estes? Perguntei.
- A salvação e a fé. Respondeu M. não muito seguramente. 
- Isso! E, como os deu a "cada um", são individuais. Paulo confirma que existem diferenças quando fala ainda sobre "medida de fé" e "até que todos cheguemos à unidade da fé..."

- Então ainda não congregamos sob uma fé única? Questionou-me surpreso.
- Com tantas divergências, meu amigo, não dava pra ter dúvida disso, não é? A fé, sendo única na sua origem, não o é no entendimento e nem na manifestação pelos seres humanos.
- Mas isso não é ruim - contestou - pois nos leva a reconhecer nossa imperfeição e nos fazer querer crescer até "à estatura de varão perfeito", não é?
- Vai depender de como queremos manifestar "a medida da fé" que recebemos de Deus. Lembra da parábola dos talentos? 
-Sim. O que tem?
- Cada um é livre para fazer o melhor com o dom que Deus lhe dá. Para Deus, uns acertam outros erram. No entanto, a religião, por concepções humanas errôneas, faz as pessoas quererem impor às outras a mesma compreensão e a mesma forma de fé. Os grupos se dividem por causa disso, mas continuam replicando a mesma coisa. Grupos religiosos, antes oprimidos, passam a ser opressores. As facções religiosas surgem para, aparentemente, fazerem diferente na forma, mas na essência não o fazem. A História está cheia de exemplos. 
- Mas se fizéssemos como você sustenta, cada um deveria ser uma igreja diferente. Logo, se todos se convertessem a Jesus Cristo, seríamos mais de sete bilhões de igrejas!
   Limitei-me apenas a olhar pra ele em silêncio. A ficha havia caído.
    M. continuou surpreso com algo que ele, há muito, já sabia:
- Cada cristão é mesmo uma igreja!
- Não é isso que dizem o tempo todo nos púlpitos das igrejas?
- É. Assentiu.
- Então? O problema é que não se entende o que seja isso e não se respeita a "igreja" que o outro é.
- Verdade.

   Naquele ponto, eu achei que já era hora de encerrar o assunto. Tem certas coisas que desejamos ensinar (ou aprender) que é melhor que falemos até certo ponto. O restante fica por conta da reflexão e meditação espiritual. Além disso, Minha mãe estava cansada.

 Então nos despedimos e, me dando um forte abraço, M. falou:

- Te amo, meu amigo!
- A recíproca sempre será verdadeira, meu querido irmão! Que Deus te abençoe e que aumente a sua fé.
- Amém.
   Ele despediu-se da minha mãe e foi em direção à igreja enquanto saíamos à rua. Olhei pra minha mãe e falei, de certa forma, buscando algum tipo de consentimento com o que eu havia falado.
- E aí, mãe?!
   Ela, se sustentando no meu braço enquanto caminhávamos, falou baixinho:
- Minha fé me diz que devo continuar no meu grupo de oração mesmo. Lá, o povo grita também, cada um fala com Deus do jeito que achar melhor, impomos as mãos, mas ninguém diz pro outro o que tem que falar não. No máximo a gente ora pelos pedidos que nos fazem. Falar com Deus é uma coisa muito pessoal. Não gostei disso que fizeram aqui não, filho. Quero me sentir livre pra adorar o Deus que eu creio. Lá na glória a gente vai saber como é que a gente devia fazer pra agradar completamente o Senhor. Por enquanto, fazemos o que Ele nos direcionar em nosso espírito.

- Amém, mãe! É isso aí. Respondi sorrindo.

  Ela não comentou uma palavra do assunto da conversa com meu amigo. Mas, em poucas palavras, ela resumiu tudo o que havíamos concluído.
   Sabedoria e Fé não se comparam, muito menos as de mãe. 

Paz em Jesus Cristo, o Deus que nos liberta das amarras conceituais.


A fé que em ti há pode ser explicada?

PARTE I

  "A Fé é a certeza...e a prova..."

(Paulo de Tarso?)


    Sempre busquei entender a fé "que uma vez me foi dada" a partir da minha própria experiência, com o que vivo nela e através dela. Isso sempre satisfez a minha mente e o meu coração sobre o assunto.
    Um dia, um velho amigo meu me perguntou: "o que é fé?" e eu lhe disse que ele teria que experimentá-la, que ela não poderia ser explicada. 
    Diante de sua insistência sobre como saber o que fazer para experimentá-la, eu lhe disse:
- A partir de hoje,  "peça" a Deus para que o Espírito dEle lhe conceda o vislumbre da fé. Então você saberá o que ela é.
- Eu tenho que "me converter" para isso? Perguntou achando, talvez, que eu lhe estivesse propondo deixar sua fé espírita. 
    Claro que eu não quis entrar em detalhes sobre tão profundo assunto, mas, na realidade, eu acreditava que ele não precisava se tornar cristão protestante para experimentar a grandiosidade da fé. Não foi isso que aconteceu com Cornélio em Jope? 
     No entanto, sim, eu cria que ele precisaria crer em Jesus Cristo como o seu Salvador e da humanidade para que pudesse vivenciar, plena e constantemente, a fé genuína que só quem crê recebe do Espírito do Cristo. Mas um rápido vislumbre creio que o Senhor pode dar ao coração de quem Lhe pede, crente ou não. Tem acontecido assim no mundo árabe junto à "Igreja Perseguida", onde a cristandade não pode ficar expostas por causa da imensa rejeição por muçulmano extremistas, mesmo assim seu número continua crescendo. 
   Afinal, pedir alguma coisa a Deus, mesmo que não professe a fé em Jesus Cristo, já não é uma forma de acreditar?
   Sei também que alguns dos que leem este post diriam "creia em Jesus Cristo como seu salvador e receba a fé". Mas não vi, na situação, a ocasião para isso, já que ele, como esotérico, como eu também havia sido, tem uma estrutura de pensamento que necessita de tempo e individualidade para suas decisões. Ele não acreditaria que apenas uma frase afirmativa o converteria. Além do mais, tal confissão sem arrependimento de pecados o deixaria na mesma situação mental e espiritual de "não-crente". Não esqueçamos também que um espírita kardecista, como ele, se considera um cristão e, a seu modo, seguidor de Jesus Cristo.

- Não, não precisa se converter para saber o que ela é - respondi simplesmente.

   Algum tempo depois, ele teve uma experiência interior ao subir a escada para o andar de cima da sua casa, que o fez entender que aquilo que sentiu era a fé e quem lhe falava era o Espírito Santo.
  Aquela experiência não o havia convertido à fé cristã protestante, como eu, no fundo do meu coração, esperava que acontecesse. Mas uma frase dele mostrava que algo de importante tinha ocorrido na experiência:

- Entendi o que é a fé! Agora, eu só pedirei ao Espírito Santo. Falou-me alegremente ao me encontrar na escola em que éramos colegas.

    Eu senti sua alegria naquela revelação e isso também me alegrou. No entanto, eu não me senti capaz, e ainda não me sinto, de querer saber a abrangência presente e futura daquela experiência pessoal que ele havia tido e o quanto aquilo o ajudaria a superar o momento de aflição da alma que estava passando. Nem também entendi por que aquela experiência não foi suficiente para que ele se tornasse um "seguidor protestante de Jesus Cristo", tendo-O como único e suficiente salvador.
    
    Hoje, muitos anos depois daquele diálogo e de também não ter sido mais confrontado com a pergunta "o que é a fé?", nem também de procurar explicação compreensível sobre ela, já que sua existência em mim é tão satisfatória que não me leva à busca de tal resposta, o Senhor me fez sonhar um sonho. 
   Como a palavra "sonho" tem sido muito usada com significado de "buscar as realizações das promessas de Deus na vida daquele que crer", eu preciso dizer que ele ocorreu de madrugada, enquanto eu dormia. 
   De repente, às cinco da manhã, fui acordado com o diálogo do sonho na minha cabeça, uma mensagem que ecoava com a frase "como explicar a fé que há em ti?". Imediatamente levantei-me e escrevi, com caneta e papel  mesmo, por achar que a luz do computador poderia "ligar" minha mente e me fazer esquecer os detalhes do ensino ocorrido no sonho.

   Nunca fui muito afeito a narrar sonhos pra alguém. Acho monótono tentar fazer as pessoas vivenciarem a força da experiência do sonho através da narração de eventos, não poucas vezes, sem sentido algum. Mas seguindo o conselho do próprio Deus em sua palavra - "Aquele (o profeta) que sonhar conte como apenas um sonho..." (Jr 23:28a) - achei importante narrar este que tive, sem qualquer pretensão de que ele seja uma grande verdade para o leitor, mas um registro do quão importante ele foi para mim e, quem sabe, uma boa resposta sobre "a explicação da fé" a quem possa interessar.

Então, a partir daqui, encare o texto como uma ficção, muito embora a origem dele e das ideias nele não o sejam.

    Tudo começa comigo e minha mãe participando de um "círculo de oração" cristã, no que parecia ser um salão social de uma igreja. Havíamos sido convidados por um amigo, o jovem M., e havíamos chegado no momento em que ele  liderava a oração. Ali estavam muitos jovens reunidos. Esse meu amigo passou a dizer como deveriam ser as orações que acompanhariam a dele:

- Queridos, quando eu estiver levantando a minha voz orando por cada um - falava ele em um tom muito alto - "devolvam" o poder da oração sobre mim com frases do tipo "seja sobre você também o que pedir a Deus por nós"; "receba você também, recebaaa!"; "a graça do Senhor seja derramada sobre ti." e frases do tipo. Entenderam?
  E todos, em (quase) uníssono, responderam afirmativamente, exceto eu e minha mãe que continuamos calados. Na realidade, eu fiquei perplexo e acho que minha mãe também. 
   Por isso, quando ele começou a orar impondo rapidamente as mãos sobre as pessoas, eu não tive qualquer reação. Somente o pensamento "o que é isso, Senhor!?" dominava minha mente. Era uma grande balbúrdia, no meio da qual podíamos ouvir grandes gritos de bênçãos, invocações das promessas e outras ordens de realizações divinas sobre o irmão que orava.
    Tanto eu quanto minha mãe participamos inúmeras vezes de reuniões pentecostais, mas daquele tipo eu nunca tinha visto. Até porque eu discordava que as orações tinham que ter um tom tão pessoal e convocado pelo próprio "beneficiário". Bem, não entrarei em detalhes sobre tudo que se passou na minha mente e no local. Lembremos que aquilo era um sonho.

   Quando tudo terminou, saímos eu, minha mãe e o meu amigo. Ele, muito animado, falante, nos conduzia para um grande pátio onde, ao longe, dentro do mesmo terreno estava o templo da igreja, onde parecia estar ocorrendo alguma atividade. Enquanto caminhávamos lentamente, conversando amenidades religiosas, eu interrompi a conversa e falei:

- M., que forma estranha de oração que vocês fazem aqui...
- Estranha como?
- Não sei explicar, mas o fato de ter a obrigação de falar frases encomendadas por você, para você mesmo, me deixou desconfortável. Não estou acostumado a orar assim...
- Mas essa é uma verdadeira oração de fé, meu amigo! É desse jeito - continuou convicto - que dizemos a Deus, com fé, para Ele derramar chuvas de bênçãos sobre todos com a concordância enfática de todos. E nós saímos daqui abençoados.
   Mesmo diante de sua convicção, insisti:
- Eu entendo a forma e a intenção, meu amigo, mas não concordei que uma intercessão tivesse que ser desse jeito. Pra mim isso parece ser um ação impositiva de alguém que lidera para que as pessoas façam apenas o que o líder está pedindo. Não me parece feito por fé convicta da pessoa.
    Então, mais uma vez me vi diante da pergunta que, volta e meia, se interpõe a mim.
- Mas o que é a fé? Perguntou-me de um jeito como já sabendo a resposta. 

    Aliás, essa pergunta, para quase todos os cristãos evangélicos, tem a mesma resposta: "A fé é a certeza...", como o autor expõe de forma definitiva em sua carta aos Hebreus. Sendo Paulo ou outro autor, como divergem os teólogos especialistas no Novo Testamento, a verdade é que, ali, não se explica a fé. Mas é isso que satisfaz e pronto!

    Tudo que escrevi até aqui é o contexto para o que o Espírito do Senhor parecia querer me ensinar. A partir daqui, quando fui confrontado pela pergunta sobre fé novamente, o "ensino do alto" começou para mim. Mesmo que a boca usada tenha sido a minha, era a do Senhor que eu ouvia e me instruía. Isso não tinha nada a ver com o meu amigo, mas comigo mesmo.

    Que resposta você daria além daquela que estamos todos acostumados a dar, a de Hebreus 11?

(Continua na parte II) 

Parte II: http://ocimarferreira.blogspot.com/2018/?m=0

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Um manifesto

Em apoio à postura politico-cristã que o Pastor Ariovaldo Ramos assumiu em relação ao caso da recente greve de policiais, posto aqui o link do seu blog onde consta "Um Manifesto".


Ariovaldo Ramos, Blog


Paz em Cristo a todos que têm sede de justiça.


Ocimar

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Vós estais limpos!

"Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos."  Jo13:10

Certo dia me veio à mente um versículo de uma forma como geralmente sinto que Deus quer me dar um recado. Sentado no banco do nosso carro estacionado, olhando o horizonte muito iluminado e bonito, pensei : será que o Senhor ouve a oração de quem está tão fraquinho na "prática da religião" (e não na fé)? 


Sabe daquele jeito que você fica que já não ora com tanta frequência e nem fervorosamente; que já não faz parte daqueles círculos de oração semanais; não participa de subidas aos montes, de jejuns, da leitura da Palavra com assiduidade impecável, de cultos...do jeito que muita gente boa fica depois de tantas decepções com a estrutura religiosa erguida em nome de Jesus? Mas, uma coisa não cessa dentro de si: Senhor até quando?

Pois é, foi sobre esses que perguntei ao Senhor. Quando nos surpreendemos assim na caminhada da fé, logo pensamos: "será que o Senhor ouvirá a minha oração?" Foi então que ouvi a voz de Jesus em minha mente: "Vós estais limpos pela Palavra que eu vos tenho falado" (Jo 15:3).


O Espírito Santo conduziu minha mente até os tempos dos apóstolos e fez-me meditar. Imaginei como viviam na época em que Jesus iniciou seu ministério na Galiléia; o que não conseguiam fazer pela religião que professavam; o que possivelmente pensavam, e como eram vistos pelos demais judeus. Lembremos o que Natanael disse antes de ser apontado como um dos doze: " Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?" (Jo1:46).


Realmente aquele povo do norte de Israel não era bem visto pelo povo-irmão do sul. Não só porque aquela região estava numa área que tinha sido habitada pelos "contaminados" com outras nações no tempo do retorno do exílio assírio, mas lembremos que Jesus nasceu, viveu, pregou e foi crucificado durante o domínio de Roma sobre Israel. E a Galiléia era um dos primeiros contatos do exercito romano com aquela parte do império, logo o atendimento às suas necessidades de viagens, de alimento, banho e até mesmo sexuais, eram saciadas inicialmente naquela região.


Para o povo religioso e "exemplar" seguidor da lei, aquilo ofendia a Deus. Classificavam, então, qualquer pessoa que dali viesse, como "coisa ruim". Por isso Natanael se surpreende ao ouvir de Felipe: "Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José." (Jo 1:45)


Jesus, no entanto, nunca perdeu tempo pregando contra Roma, mas contra os "certinhos" desceu o chicote. Será que Ele era defensor de quem andava "errado"? De gentios que oprimiam o povo numa espécie de castigo dos céus para os “desviados” judeus? Que se colocava a favor de déspotas e tiranos megalômanos, como os césares, usados como instrumentos de Deus em Sua “punição” aos que “louvavam com a boca, mas o coração estava distante de Deus”?


Jesus, assim como o Pai, não tratou de história da humanidade. Seu foco era a libertação espiritual da escravidão que satanás imprime aos povos por diversas ideologias e paradigmas religiosos cativadores e inibidores da mente humana no reconhecimento do criador e doador da vida: Deus.

"Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos" [certinhos, cumpridores impecáveis de mandamentos, sem necessidade de misericórdia pois são auto suficientes no que fazem e buscam], "mas os pecadores, ao arrependimento" [ porque são fracos e necessitados da Misericórdia, e por se acharem assim não têm qualquer outro recurso a não ser o Pai sair em favor deles fazendo o que eles não podem, nem imaginam, fazer]. cf. Mateus 9:13
“Acautelai-vos, que ninguém vos engane... Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores...E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui... Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.” (Mateus 24:4; Mt 7:15; Lc 12:15; Lc 12:1).
Advertências, advertências e mais advertências para quem supunha estar dentro do Reino de Deus e não para quem está fora! Essa era a mensagem de Jesus contra os enganadores. Por mais que muitos não queiram, esses são chamados de “cães”. Não querendo ofender os cachorrinhos é claro, mas a busca de oportunidades de sobrevivência e a voracidade da disputa por um naco de carne colocam aqueles “devoradores de senhorinhas” na mesma condição de lastimável ignorância do poder de Deus e Sua Graça. É o que Isaías alerta:
“E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte.” Is 56:11
Não são assim as autoridades da lei que Jesus repreende?
“Guardai-vos dos escribas, que querem andar com vestes compridas; e amam as saudações nas praças, e as principais cadeiras nas sinagogas, e os primeiros lugares nos banquetes; Que devoram as casas das viúvas, fazendo, por pretexto, longas orações. Estes receberão maior condenação.” Lc 20:46,47
E ainda Paulo escreve: 
“Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão. Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne”  Fp 3:2
A hipocrisia que dominava a religião, que buscava mais a riqueza e seu próprio ventre do que o arrependimento e a verdadeira intercessão pelo povo, alijava os mais pobres, doentes, defeituosos, órfãos e viúvas do seio da prática religiosa. Como? Pela acusação: “vocês são impuros! Vão e se arrependam, depois voltem e veremos se são merecedores de perdão.” Você duvida que pensa(va)m assim as autoridades religiosas, dedicadas, fiéis e irrepreensíveis ao olhos do povo?

O que você me diz então dessas palavras de um grupo de fariseus a um cego de nascença liberto e curado por Jesus:
“Então alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles... Responderam eles, e disseram-lhe: Tu és nascido todo em pecados, e nos ensinas a nós? E expulsaram-no.” João 9
Tudo bem que não cressem que Jesus fosse realmente o Filho prometido, afinal picaretas podem surgir a qualquer momento ludibriando o povo (isso é verdade até para os dias de hoje) - embora eu creia firmemente que, ao primeiro contato com o olhar e as palavras do Senhor Jesus, o coração buscador sincero O reconhcesse como a promessa de Deus em cumprimento-  mas não reconhecer um milagre genuíno, nem  ao menos cogitar ser tal coisa um recado dos céus?!
O cego (agora não mais cego e enxergando tudo, até via o que os que viam não enxergavam), então, diz com todos os pingos o que eram aqueles “juízes auto-eleitos”: 
 "O homem respondeu, e disse-lhes: Nisto, pois, está a maravilha, que vós não saibais de onde ele é, e contudo me abrisse os olhos” (Jo 9:30).
É contra isso que o Senhor pregava: a obediência aos estatutos, interpretações da lei  e, igualmente, contra a negação do “principal da lei: a justiça, a misericórdia e a fé...” (Mt23:23).

O roubo, o engano, a mentira, altas taxas de impostos, além de dízimos e ofertas agradavam ao Sinédrio e à Roma. Assim é que colocavam um jugo muito pesado sobre os ombros do povo trabalhador e necessitado. Jesus veio então, substituir o jugo: 
"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mt11:28-30)
E sua pregação foi “limpando os ramos” da videira que já havia dado muito fruto em tempos de avivamento com Davi, com Neemias e Esdras, com Ezequias, Josafá, Josias e tantos outros na história de Israel que transformaram momentos de ignorância em louvor a Deus. Os ramos estavam secos quando Jesus chegou, precisavam ser limpos. E a palavra que Jesus lhes falou os limpou. Quantos? Doze, três mil, cinco mil, Jerusalém, Judéia, Samaria, confins da terra!

Jesus trouxe libertação aos cativos do pecado, da religião e da letra da lei que revela a morte. Imagine a pobreza e a incerteza das pessoas que não conseguiam cumprir o que lhes era ordenado; que criam ser o certo a fazer para estar “bem com Deus”. Dos altos impostos que lhes esvaziavam a despensa e a colheita não sobrava para a oferta de arrependimento nem dízimos para dividir com os sacerdotes (é isso mesmo gente, dividir! - cf.Dt 26:12ss). Os sacerdotes percebiam e lhes pesava a mão. Que se virassem, trabalhassem mais, porém o Templo não poderia deixar de receber a sua parte (os de hoje querem tudo e não dão nada!). "Era a lei! Deus proveria o que lhes faltasse" era o que podiam estar interpretando como "vontade de Deus".

Quando Deus proveu quem poderia libertá-los daquele jugo, as autoridades não creram. Era prejuízo crer. Mas Ele veio e libertou os cativos, com palavras, com ensino, com curas, com amor, poder e Graça. Aos que O seguiam não exigiu que cumprissem a lei, mas se submetessem à Graça. Todos os (pré)conceitos estavam sendo derrubados para que pudessem se dedicar ao que era real e verdadeiro: cooperação mútua para que ninguém passasse necessidade de coisas materiais, de alimento espiritual e de conforto para suas almas. Jesus iria de volta aos céus e à Sua Glória, mas deixava na terra a Sua herança que nem as "portas do inferno" (inveja, mentira, luxuria, idolatria...) conseguiriam derrubar. Isso não quer dizer que muitos hipócritas não se infiltrariam no seio dela, mas a Igreja Triunfante está preservada em seu anonimato, ou seja ninguém pode julgar e dizer: aquele é, aquele não é. Só o Senhor por Seu Espírito sabe, escolhe e instrui.

Os que Ele limpara pela Palavra continuariam sendo limpos e dando muitos frutos (que seriam novos ramos também limpos), porém, agora, pelo Seu Espírito que lhes enviara.

Então as palavras do apóstolo Paulo fazem sentido bem mais amplo:
 "Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus.” Gl 2:19.
Também faz sentido as palavras de Jesus no Getsêmani: 
"Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” Mc 14:38
Foi depois destas reflexões que percebi que é muito mais provável que o Senhor ouça quem se sinta fraco do que a quem se acha forte e inabalável na sua busca. 

Aos que se vêem no próprio espelho do cumprimento religioso, meus pêsames! Pelo quê? Por desejarem fazer da lei o juiz de sua alma e práticas, e, como sabem, quem está sujeito à ela (lei) e seu jugo, morrerá sob ela (Rm2). 

Mas lembre-se: na fraqueza da nossa carne encontramos a fortaleza e o poder de Cristo que “é tudo em todos”, salvação e vida eternas!
“Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte. E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.” 2Co 12:9,10

Paz em Jesus!

Ocimar – Um discípulo que encontrou o Mestre: Jesus!

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Buscar o reino, viver o reino, ser o reino!

“Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mt 6:33)
 Constantemente ouvimos irmãos e irmãs dizerem: "primeiro temos que fazer as coisas pra Deus...depois é que devemos nos preocupar em fazer as coisas para nós". No entanto, continuam vivenciando uma ansiosa solicitude por suas vidas.

Tal afirmação, ou coisa parecida, denota uma certa rigorosidade e busca de autojustificação em cumprir o que Jesus ordenou no texto acima,além de apresentar um desvio da verdade implícita naquele ensino. 

Leia o texto de Mateus 6: 25-34 e faça a si mesmo a seguinte pergunta: "qual a coisa mais importante desse texto?". 

Abaixo transcreverei apenas os versículos  25,33 e 34:


“Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? (...)Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.”

Somos levados quase que instantaneamente a dizer: "buscar o reino de Deus é a coisa mais importante desse texto", mas, permita-me emitir uma segunda opinião.

É verdade que a importância desse esclarecimento do Senhor sobre o que devemos buscar não encontra paralelos na literatura universal. Até porque é só na Bíblia que a origem e a natureza de tal reino são esclarecidas primordialmente. No entanto, pergunte-se: o que motivou Jesus a falar tais palavras durante o "sermão do monte"?

Entendo que Ele introduz tais palavras com o que deva ser observado como a "principal" ideia motivadora de empreendermos a busca do reino: " Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir."

 Isso é tão importante que dá a tônica de todo o restante dessa parte de seu discurso. Inclusive, termina-a com a mesma ênfase: " Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.”(v 34).

Ansiedade! O mal que mais assola a alma da humanidade (que caminha junto com o mal que mais assola o corpo físico: a cefaleia ou a dor de cabeça considerada "o mal do século"). Este post, no entanto, não tem finalidade de esclarecer origem e efeitos da ansiedade. Desejo apenas auxiliar aos leitores a compreender esse maravilhoso texto bíblico, e qual, realmente, é sua aplicação para nossas vidas.

Se entendo que Jesus percebia os motivos - doenças, dívidas, religiosidade, possessões demoníacas, curiosidade, inveja, ciúmes etc. além da ansiedade de ver resolvida toda a conjuntura política da época - que levavam a maioria dos que faziam parte daquela multidão a buscá-lO, posso entender também que falava a pessoas que O viam como "o reino" que Ele e João anunciavam. Para isso abandonavam tudo o que faziam e o que amavam, passando dias ao seu lado e dos discípulos ( a multiplicação de pães foi motivada devido ao tempo que estavam naquele lugar isolado da civilização). Então, por que  Jesus dizia "buscai em primeiro lugar o reino..." a pessoas que o buscavam? Estava Ele reforçando ou aprovando o que estavam fazendo?

Ao refletir profundamente sobre isso, à luz da Palavra de Deus, pelo Seu Espírito, você , possivelmente, chegará à mesma conclusão que cheguei. Por isso, se quiser parar a leitura aqui e aprofundar-se em suas meditações faça-o imediatamente. De qualquer forma continuarei a apresentar o que o Senhor, por seu misericordioso Espírito, me fez concluir.

O erro de interpretação e, logicamente de conduta quanto ao que é ordenado, decorre das palavras "primeiro lugar" (v 33). Opiniões, textos, pregações, conselhos, muitas coisas já foram ditas sobre o assunto, mas em sua maioria dizendo exatamente como na minha introdução: " busque primeiro as coisas de Deus..." induzindo os leitores ou ouvintes a separarem o que é de Deus e o que não o é no que se refere ao pensar, falar e agir. Como se, paradoxalmente, o Caminho do Senhor fosse dicotômico (partido em dois), ou seja, num momento estamos nele, no outro não.

O texto é claro, mas quando o explicamos com interpretações que levam as pessoas a praticarem aquilo que  ele não ensina torna-se um argumento falso. O apóstolo Paulo chama a isso de "sofisma"* e creio que, intencionalmente, alguém introduza tais coisas no ensino cristão, e daí permanecendo como verdade, para que a igreja seja uma praticante de aparências sem qualquer verdade em sua vida diária. 

O Espírito Santo opera então, de tempos em tempos, naqueles que amam o Senhor e a igreja triunfante para que tais argumentos  sejam derrubados, pois eles atendem a interesses particulares e clientelistas de religiosos inescrupulosos ou desatentos da verdade, gente boa, mas que cedem a apelos reprováveis do mercantilismo cristão. E derrubar tais coisas cabe a cada um de nós fazer, como esclarece o texto abaixo:
"Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne, pois as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus, para demolição de fortalezas; anulando nós sofismas e toda altivez [orgulho, arrogância] que se ergue contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo..." (2Co 10: 3-5)
Por isso fazer valer a prioridade da busca do reino sobre "todas" as outras coisas como ato religioso é meramente sofismático. Vejamos:


Se não é para buscarmos nada em "segundo lugar", posso concluir que o "primeiro lugar" que Jesus anuncia ali é um estado contínuo de vida em Deus. Ou seja, em tudo o que eu fizer, o reino não pode estar em outro lugar senão dentro de mim, fazendo comigo, necessitando comigo, imaginando comigo, desejando comigo, trabalhando comigo...

Isso se torna mais claro quando fazemos-nos a pergunta "onde está o reino? "  que é o questionamento mais comum quando Jesus tocava no assunto. Ao buscar a resposta, em Jesus, encontramos: 
"Sendo Jesus interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, respondeu-lhes: O reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Ei-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós." (Lc 17:20,21)
O súdito do Senhor tem seu coração transformado e vivificado pelo Seu Espírito. Se crê, o espírito do súdito-servo-amigo-filho vive! É na liberdade que Cristo nos oferece que vivemos o reino intimamente, sem sofismas, sem religiosidade, sem" fazeres pra Deus", sem "melhores pra Deus". Somos o que somos em Deus, não no que fazemos ou buscamos. 

Buscar é um início. Os "sem fé" devem buscar o reino até receberem a fé que Deus lhes oferece gratuitamente. Por isso "buscar" é o único ato sem fé que as pessoas devem ter. depois disso , com fé, devem viver o reino e ser o reino.  

Viver o reino passa a ser um estado contínuo de gratidão e louvor em meio às tempestades que assolam a vida humana e de regozijo no Senhor quando elas dão uma trégua, na esperança de que "não podem  ser comparadas com a glória futura que há de ser revelada em nós...a redenção de nossos copos" (conf. Rm 8:13ss).

Ser o reino torna-se um testemunho contínuo dele em nós, atraindo os nossos próximos para Jesus, não com falácia e obrigações religiosas de evangelismos, mas com demonstrações de amor no Espírito Santo que em nós habita.

Falar,  fazer, desejar, trabalhar, vestir, comer, cuidar passam a ser necessidades saciadas em meio ao que somos em Jesus Cristo, em Seu reino, mediante o agir de Seu Espírito em nós.

"O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; entretanto o meu reino não é daqui. (Jo18:36)

Quando dizemos que precisamos ir primeiramente à igreja (templo), ou ler a Bíblia, orar, evangelizar, para depois vivermos nossa vida cotidiana, estamos afirmando aquilo que mais repudiamos: o reino de Deus está em outro lugar que não dentro de nós. 

Ou seja, quando participar de atividades na igreja representa o esforço  para lá buscar o Senhor, concebe-se então que não somos santuário do Espírito Santo (conf. 1 Co6:19), onde, numa relação vertical permanente, adentramos o santíssimo lugar estabelecido em nossos corações, e, ali , falamos com Deus continuamente.  A importância daquele lugar construído para comunhão está exatamente na oportunidade periódica da lembrança, um ao outro, da prática do amor do nosso Deus que se relaciona sim com um povo, mas , primeiramente, com cada um individualmente. No entanto, a maior prática do Evangelho não se dá ali dentro, mas fora, sendo "luz" e "sal" no mundo.

Quando ler a Bíblia representa buscar o reino em primeiro lugar, estendemos que não se aprendeu que o Espírito Santo ministra diretamente ao nosso coração e mente fazendo com que a letra lida seja gravada neles para vivermos o reino diuturnamente; que tal forma de "busca" sugere que  aprendemos e falamos com Deus de vez em quando e não, incessantemente, em espírito (conf.Ef 6:18; Jd 1:20)

Se evangelizar domingo às 15 h deve ser considerado como o que Jesus quer dizer como "primeiro lugar" , então não concebemos que o testemunho do Senhor deve exalar por nossos olhos, palavras, sorrisos, carinhos, conselhos de paz, em nossas relações diárias com aqueles que nos rodeiam.

Se considerarmos que trabalhar, estudar, comprar, comer, cuidar, devem ser buscados DEPOIS de termos buscado o reino, então o reino não está em nós. 

Alguém religioso perguntou a Jesus que mandamento deveria ser considerado como principal. Surpreendente (para os fariseus, sacerdotes e escribas) foi a resposta do Senhor:
"Ao que lhe disse o escriba: Muito bem, Mestre; com verdade disseste que ele é um, e fora dele não há outro; e que amá-lo de todo o coração, de todo o entendimento e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios.


E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E ninguém ousava mais interrogá-lo." ( Mc 12:32-34)


Na afirmação acima feita pelo escriba a Jesus, denota-se o vínculo religioso  cumpridor de mandamentos, diferentemente do que Jesus anunciava como "reino". O escriba achava que, por ensinar aquilo que  Jesus afirmava e que havia endossado, poderia ser encarado como "participante do reino" anunciado.

Cada um, cumprindo o que entende como religião, não amando a Deus e ao próximo sobre todas as coisas que existem por fazer, não estará no reino. Com sua resposta, derrubando "sacrifícios e holocaustos "como veículos de entrada no reino, o escriba estava "próximo" de alcançá-lo, como afirmou Jesus, mas ainda não estava nele. Precisava ainda empreender uma busca que renegaria todo orgulho e altivez de seus cumprimentos religiosos como substitutivos do amor de Deus e ao próximo em suas ações,em seus  pensamentos , em seus sentimentos e ensinos.

Todo aquele que busca encontrar o reino, e ,encontrando-o, vive e passa a sê-lo, faz toda e qualquer coisa sem separar-se dele. Buscar viver separadamente do reino seria a mesma coisa que tentar separar o azul do céu , o azul ou o verde da água do oceano, a beleza da flor, o doce do açúcar, o sabor do sal, o brilho da luz...Coisas inseparáveis! Se de alguma forma mudarmos a natureza de uma a outra também perde sua manifestação.
"...porque o reino de Deus não consiste no comer e no beber, mas na justiça, na paz, e na alegria no Espírito Santo. Pois quem nisso serve a Cristo agradável é a Deus e aceito aos homens." (Rm 14:17)

Buscar o reino é um ato para os que ainda não o encontraram; viver o reino é um estado de vida contínuo inseparável do que necessitamos; ser o reino é testemunhar a todos ao nosso redor ( muitas vezes não são necessárias palavras) em que o Espírito Santo nos transformou: um servo da paz de Deus, um filho do reino do Seu Amor.

Despeço-me com as palavras do apóstolo Paulo:

"Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus; sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria,dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz. Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor,  no qual temos a redenção, a remissão dos pecados." (Colossensses1:13)
Paz em Jesus que nos liberta de dogmas enganosos e sofismas destruidores da verdadeira comunhão em Cristo com aqueles que O amam acima de tudo.

Ocimar

*Sofisma : segundo a Pequena Enciclopédia Bíblica de O.S. Boyer, é "um argumento falso intencionalmente  feito para induzir outrem em erro."