sábado, 16 de maio de 2009

Quem não deixa entrar? – PART 1

Por Ocimar Ferreira

Comumente ouvimos evangélicos afirmarem que são responsáveis pela vida espiritual de um ou mais “discípulos” seus. Isto me leva a meditar em dois versículos da Bíblia sobre os quais desejo discorrer aqui. O primeiro é:
“Ai de vós, doutores da lei! porque tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes aos que entravam.” Lucas 11:52.

Qual é a responsabilidade coletiva - de uns para com os outros - no que Jesus ensina? O impedimento a que Ele se refere é a rejeição à Justiça, à misericórdia e à fé, que são pilares do Reino a que a lei se propunha indicar em sua letra e que os religiosos insistiam em mascarar com ritualismos e cumprimentos legais hipócritas.(conf. Mateus 23:3).

Desde sua promulgação por Moisés, estava claro nas Escrituras Sagradas que seria impossível alguém cumprir toda a lei e ser, por isso, considerado justo diante de Deus. Logo, cabia aos “doutores” entenderem isso e promoverem entre o povo os pensamentos e conhecimentos dos pilares da lei que expressam a bondade, a justiça e a misericórdia eternas de Deus; desenvolver-lhe a fé e o amor verdadeiros em suas almas quebrantadas.

O pedido de perdão coletivo que se fazia todo ano em Israel requereria, não apenas os atos ritualísticos sacrifíciais, mas também pensamentos verdadeiramente arrependidos dos pecados cometidos no período, conforme observamos em alguns momentos de reforma espiritual na história do povo hebreu, guiados por algum rei ou líder (Davi, Asa, Josafá, Ezequias, Josias, Esdras e Neemias) ou, mais raramente, por algum profeta (como o "É esse o jejum que quero?" proferido por Isaías que influenciava o reinado de Ezequias). Tais reformas promoviam entre os hebreus uma vontade genuína em agradar a Deus com suas vidas, abominando ídolos, altares, festas, acordo com gentios e tudo que os desviasse de tal vontade.

No entanto, frequentemente, o povo se voltava para a forma ritual crua e simples do ato expiatório desprovido de significados eternos em suas mentes e corações. É contra isso que Jesus alerta: quem estudava e sabia da impossibilidade do cumprimento da lei ( "os doutores") via nisso uma possibilidade de domínio, de exercício de poder e de admiração idolátrica de si mesmos, enquanto deveriam promover a libertação espiritual do povo. Assim a nação era governada pelo medo e pela sua incapacidade pessoal de agradar a Deus, deixando tal atitude piedosa a cargo dos sacerdotes e fariseus. Essa é uma maldita herança do que propuseram a Moisés no deserto:"Fala-nos tu mesmo, e ouviremos; mas não fale Deus conosco, para que não morramos." ( êxodo 20:19).

Os fariseus simulavam então uma aparência de obediência plena à lei como se fossem “exemplares humanos” escolhidos por Deus para fazerem aquilo que ninguém mais seria capaz (Não há muita diferença de certos líderes sedentos de poder e seus adeptos hoje em dia). Tudo isso aparência, máscara, hipocrisia, túmulos caiados...Enquanto isso o povo se distanciava da entrada do Reino de Deus. Mas, em cumprimento ao Seu plano, o reino dos céus se aproximou do Homem, já que o contrário seria impossível.

Veio então Jesus, o Cristo, e extinguiu na sua carne tais procedimento religioso para salvação dos que se perdiam: “...havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz.” Colossenses 2:14

Os que “entravam” continuavam entrando por sua busca sincera em agradar a Deus, mas se deparavam continuamente com a barreira do medo, da impossibilidade, do complexo de inferioridade, do auto-desprezo, da baixa auto-estima, e tantos sentimentos retrógrados que Jesus declara como “impedimento” àquela entrada.

Com Cristo, os atos externos deixaram, verdadeiramente, de imperar sobre os pensamentos, desejos ou caráter da pessoa. Em Cristo, o velho homem, morto na cruz com o Senhor e ressuscitado na Sua ressurreição, simbolizada no batismo, se despoja dessa necessidade de cumprimento legal e se abre à transformação diária que o Espírito de Cristo promove nele de dentro para fora pela fé.

Então, como podemos nós, tão limitados que somos em nossa espiritualidade, nossos pensamentos e julgamentos, ser capazes de empreender uma ação fiscalizadora, selecionadora ou determinadora de escolha e dominadora dos “que vão sendo salvos” pelo Espírito de Deus? Os que isso fazem, tenho certeza que sabem que não podem cumprir aquilo que cobram de “seus discípulos”.

Aliás, quem é discípulo de quem? A ordem de se fazer discípulo partiu dAquele que é o único capaz de discipular em perfeição, Jesus. Somos os canais por onde esse discipulado é orientado quando só, e somente isso, pregamos e ensinamos o Evangelho, as Boas Novas de Salvação. Cooperamos com o fazer discípulos para Jesus Cristo. Nenhum deles pode ser "nosso discípulo"; não podemos ser mestres de ninguém, "pois um só é o [nosso] Mestre", Jesus Cristo; nem queiramos ser "pais espirituais" porque só um é nosso Pai, "aquele que está nos céus" (conf. Mt23:8,9). Todas as vezes que os escritores neotestamentários se referem a uma certa paternidade no ensino,o fazem dizendo "como a filhos"(conf. 1 Co 4:14 e 2Co6:13), significando dizer que a relação de amor na dedicação e esmero no ensino deve receber a mesma atenção que um pai dá à educação de seus proprios filhos.Não tem nada a ver com "geração espiritual" até porque só Jesus pode gerar filhos para Deus:" Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus;" Jo 1:12.

Então desejamos que ecoe nessas mentes sedenta por domínio e adoração pessoal (a dependência é uma forma de adoração) a repreensão de Jesus: “Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.” Mateus 23:4

Então nossa responsabilidade se restringe apenas em sermos o que o Evangelho nos ensina: amar a Deus e ao próximo, ciente de nossa incapacidade de sermos justos por nossa própria justiça, mas necessitados dia-a-dia da justificação pela fé a nós concedida pelo Senhor. A isso chamamos Graça e por isso somos eternamente gratos perseverando na confiança de que, no fim, Jesus Cristo, autor e consumador da fé, nos conduzirá ao lar celestial.

Alguém pode perguntar ainda: “então o que significa o termos que levar as cargas um dos outros?”. Essa é a segunda análise que desejo fazer, o que farei numa próxima oportunidade. onde continuarei este artigo.

Paz e liberdade em Jesus Cristo!

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